terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ainda é 30 de dezembro e eu penso que o tempo agora deu uma relaxada, parece arrastar-se. Queremos logo a virada de ano. Quero viajar, fazer tantas coisas. Entre elas fotografar muito pois ganhei uma câmera de natal. Ouço U2, o melhor dos 90, e penso nessas coisas: viajar, fotografar, gravar, esquecer, lembrar...

Trecho de um inédito

Era assim: às vezes o mundo não tinha cor. Havia guerra, sonhos destruídos, luta incessante. Queria apenas descansar um pouco. Ouvir uma voz suave a lhe dizer coisas bonitas. Como se ainda fosse criança e seus desejos, prioridade. Desistiu. Tratava-se apenas de mais um domingo. Era final de janeiro, um amigo aniversariava, uma plantinha brotara no vaso da sala, uma certa luz ensaiava moldar esse dia. Todas as coisas pareciam estupidamente certas, em seus lugares, como foram deixadas no sábado febril. Sim, porque havia o calor.

Era assim: ninguém viria visitá-la em sua casa-corredor, tão sozinha se sentia. Havia um marido que fora jogar. E ela se entregava à televisão, deitada no surrado sofá da sala. Do terreno ao lado vinham ruídos ocasionais. Por que se importar com eles? Tudo era letargia, sono, desilusão. Porém não tinha vontade de chorar. Parecia ser esse o seu destino. Além do mais, sempre havia a possibilidade de o telefone tocar nem que fosse por engano. Mas não esperava nem isso. Tudo era assim: vago demais.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Nada fabuloso


Eu bem que queria ir ao cinema, mas por aqui nada de especial. Em DVD arrisquei dois palpites furados, um deles com a belíssima Audrey Tautou como protagonista. Ai! A nossa eterna Amélie Poulain não emplaca um sucesso depois de O Fabuloso Destino... Vejo qualquer coisa com ela sempre na esperança de um boom, mas nada. Ela é ótima, os roteiros é que são ruins. Então, fica um vazio porque estou precisando assistir "aquele" filme, sabe? Tipo Blindness, do Meirelles. Um em que a gente saia destruído e pensando pensando pensando. Ou um em que a gente saia leve e cheio de energia. Queria assistir logo aquele com Di Caprio e Kate Winslet, juntos 11 anos depois de Titanic. É um drama bem forte, deu pra ver pelo trailer. Bem, enquanto não viajo, acho que vou rever algumas coisas ao invés de arriscar assim. Não há bons lançamentos nas locadoras. O que é aquele filme com o Kevin Costner, comédia sobre eleições nos EUA? Ele realmente se perdeu.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Gertrud Stein

Em Criúva, como em Paris:
"uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa"...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

roberto caetano e natal


"meu cachorro me sorriu latindo", "quantas vezes eu chorei sorrindo"... nunca tinha prestado atenção mas o "rei" gosta de gerúndio, de usar dois verbos para dizer uma coisa e tal. coisas que jornalista menospreza em seu vocabulário de leads e subleads. Ou agora eu devo escrever lide como tem no manual da folha de s.paulo? que me importa. estou zoando com tudo. o ano vai "virar" logo logo e eu vi o "menino correndo, eu vi o tempo"... tem coisas inexplicáveis nessa vida: um bipolar não asssumido, caetano, e um sujeito que sofre de TOC assumidamente, juntos cantando bossa nova. E o neto do Jobim, com o chapéu do avô... Ai, tem coisas que não entendo de tanto entender. Os laços, os abraços, as felicitações. Tudo beira o Natal e mesmo a gente vendo o Grinch, pôxa, ele também sucumbe ao espírito natalino, então? então vamos aproveitar "esse momento lindo" (e altamente kitsch) para fazer o nosso mantra de sempre: "Tudo é uma questão de manter/ a mente quieta/ a espinha ereta/ e o coração tranquilo..."
Hoje acordei pensando: "Tudo tudo tudo vai dar pé. Tudo tudo tudo vai dar pé". Que assim seja!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

"... eu me aproximava com angustiada

idolatria de alguma coisa, e com a delicadeza de quem tem medo.

Eu estava me aproximando da coisa mais forte que já me aconteceu.

Mais forte que esperança, mais forte que amor?

Eu me aproximava do que acho que era - confiança."

Recebi essa mensagem em um cartão virtual, é Clarice Lispector, e divido com vocês. Boas festas!


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

The cleaner

Petit, observa e faz o controle de qualidade da limpeza


Não, ainda não fiz o relatório de pesquisa. Não, ainda não fui fazer cópia da chave do portão. Também não comprei o presente para o nosso amigo de Pelotas. Esqueci alguma coisa que não sei o que é. Estou assim porque entrei no terreno da arrumação do escritório, o meu gabinete do dr. caligari, onde estão todos os meus papéis e livros, cadernos, anotações, divagações. Esse é um local sagrado dentro da casa porque é onde fica o conhecimento (faz de conta que dá para armazenar tudo num lugar só, vai). Ontem passei a tarde retirando lixo: folhas perdidas, rabiscos, revistas datadas, coisas antigas mas sem valor. Foi uma longa tarde e agora pela manhã comecei a faxina do Hall 2, o meu PC. Aqui vai levar bem mais tempo apesar da virtualidade. Geeeeeeente como eu guardo coisas! Pareço um hamster! É sério! Por outro lado, tenho a generosidade de deixar as coisas irem embora no tempo certo. Demorei para aprender isso. A sensação é muito boa. Vale experimentar.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Coisas que não sei

Não sei nadar. Não sei andar de bicicleta. Nunca comi algodão doce... Nooosssaaa! Que houve de errado com a minha infância?! Isso, tentamos descobrir nas sessões de análise. Nada de muito grave, assim como a fobia por bichos peçonhentos (ui, arrepia só de escrever). Ah, também não sei dirigir! Então, meio fácil de compreender através da semiótica: nada que me faça locomover interessa. Mas por quê? Essa tem sido a pergunta de sempre. Afinal, gosto de viajar, de sair do lugar, mas levada por outros. Não assumo os riscos, claro. Do que tento me proteger? Do que tento escapar? São dúvidas que vêm e vão. Nada solucionado. Tenho muito Freud e Lacan pela frente! E uma semana toda para colocar a casa em ordem.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Férias


Cats. Seaned O'Connor. Noite de sábado. Alguma cerveja. Um mapa de viagem. Montevidéo,Buenos Aires. Um tempo que se expande. Fotos dos gatos pela sala. Risos. Nada que mude o mundo lá fora. mas o nosso fica mais aconchegante.
Com cheiro de casa limpa. Com vontade de abraçar a vida...

As palavras


"...mas quais são as palavras que nunca são ditas?"

Lembro de ter ficado marcada por duas palavras durante anos da minha vida: imaginário e tessitura. Mas não são lindas?! As palavras, conforme ditas/escritas, têm um sabor muuuuuuuuito especial. Nesta sexta-feira acordo pensando em palavras saborosas, românticas, evanescentes
(esta já uma que gosto!):
icônico indexical libertário franzido rebelde inusitado impalpável intempestivo gestualidade infinito capadócia sublime tenro terno (olha!!) refilado a priori imprevisto cálido invisível intangível catavento harmonioso sagrado espelho... espelhado...
e por aí vai. Quais suas palavras prediletas?

..." muitas palavras saíram de cartaz"...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mantra

queria lembrar daquela antiga canção e me consolar com ela, em seus versos mais insanos, em minhas veias por onde corre um líquido vermelho. queria aquela canção, mas não a encontro. em minha memória só há destroços de coisas antagônicas. não sei do que vivi ontem e no que me enredo hoje, mas sei que o tempo estanca para eu poder respirar melhor. "tudo é uma questão de manter/ a mente quieta/ a espinha ereta e o coração tranquilo". repito como um mantra. É bom ter mantras para a gente não se dissociar muito daquilo que quer. este é uma pequena canção. um mantra que me socorre desde a adolescência.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Chico Buarque

Pra mim
Basta um dia
Não mais que um dia
Um meio dia
Me dá
Só um dia
E eu faço desatar
A minha fantasia
Só um
Belo dia
Pois se jura, se esconjura
Se ama e se tortura
Se tritura, se atura e se cura
A dor
Na orgia
Da luz do dia
É só
O que eu pedia
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia

Só um
Santo dia
Pois se beija, se maltrata
Se come e se mata
Se arremata, se acata e se trata
A dor
Na orgia
Da luz do dia
É só
O que eu pedia, viu
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia


sábado, 13 de dezembro de 2008

preciso

ano acabando é isso, tempo de se reinventar. fazer cálculos inevitáveis, mas também pensar no futuro sem débitos. depois de muito ouvir The Wall, revisito o blog pensando em se alguém aí tira o sábado para fazer essas coisas: ouvir Pink Floyd dos anos 80 tomando um bom vinho depois de uma pizza Vitória Régia.
estive no blog da Adri e quem vier aqui tem que ir visitá-la (temporário permanente). é como um link, sabe? ela diz coisas que tocam a alma e a minha precisa ser tocada o tempo todo, senão viro fumaça, adiós.
preciso do gato que me enfadonha as pernas de tanto roçar pedindo comida/carinho, preciso dos alunos mesmo que reclamando de uma coisa ou outra, preciso das luzes acesas em pequenos castiçais. preciso me olhar no espelho de vez em quando, mas sempre esqueço deste detalhe. preciso fazer a volta, dobrar a esquina e encontrá-lo, afinal.

Carlos Drummond de Andrade

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Por hora, não há o que dizer...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

Insensatez

Para ler ao som de Alanis Morissette


Edgar Morin. William Blake. Umberto Eco. Lúcia Santaella. Virginia Woolf. James Joyce... Meu mundo palpita entre nomes de renome. Finjo agora que olho o mar com um livro de um deles nas mãos: complexidade, poesia, semiótica, prosa moderna, pós... As ondas vão e vêm e eu apenas mergulho no mundo de letras e areia que se forma ao meu redor. Saudades do mar. Nada como pensar nele aliado aos livros, sempre fiz essa ligação. Panetone. Natal. Fim de Ano. Praia novamente. Porque a virada na praia tem um sabor diferente de tudo. Mesmo em Paris eu não senti o que sinto na praia no dia 31. É magia e crença em algo maior. Em Paris tinha tanta gente nas ruas que era improvável algum sentimento de agregação. Isso mesmo! A massa fica informe e ao mesmo tempo uniforme. Ninguém é ninguém. Na praia para onde eu já fui várias vezes há espaço embora as pessoas se aglutinem. Não sei explicar. Nem preciso. É como navegar...
Caio F.. Clarice Lispector. Susan Sontag. Flaubert. Saramago. Schopenhauer. J.P.Sartre. Simone De Beauvoir... Meu mundo se precipita nas Letras, Filosofia e na Insensatez... Não sei bem onde tudo isso vai dar, se pára em algum lugar dentro de mim. Mas sei que ser insensato muitas vezes é só o que resta...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Girassóis


Ela se chamava Julie. Desenhista, esguia e inquieta, com um acento britânico inconfundível. Falava alguma coisa em espanhol. Ele, um pouco de inglês. Entenderam-se com os corpos quentes que fremiam ao se tocar. De um modo que não era possível ver as cicatrizes que carregavam, mas adivinhavam, um no outro, as marcas de suas paixões. Ela falou em girassóis. Foi como um beijo roubado, uma tontura de gozo, um prêmio, uma revelação. Em alguns meses aprendeu com Julie que existe um quartzo brilhante empregado em joalheria chamado girassol. Êxtase.

Agora, enquanto permite-se acompanhar as pinceladas tão antigas, as lembranças intrometem-se porque o tempo o acossa. No avião disse a Julie que iria fazer uma tatuagem. Ela não perguntou o que seria, apenas recostou-se nele enquanto olhava as nuvens. “Tem gente que coleciona todo o tipo de inutilidade. Fetiches. Tem gente que não perde o X-Files, que tem pôster da Marilyn Monroe pela casa, adora a Mona Lisa, torce por um time de futebol (ele preferia os jogos da NBA). Eu gosto de girassóis, como poderia eleger os diamantes?", disse.

O traço de Van Gogh era o que ele esperava de um traço de Van Gogh. E, estar diante dos Girassóis, em uma sala da National Gallery, em Londres, tinha um significado que nem mesmo ele compreendia. Não era para decifrar, era só para viver aquele instante sagrado. Ficou horas diante do quadro de pequenas dimensões até ouvir, pelo alto-falante, que iriam fechar. Caminhou lentamente passando pelas inúmeras alas sem olhar para as obras expostas. Em outra ocasião talvez, não agora que Van Gogh impregnava suas retinas.

Lá fora, ao olhar para o céu, percebeu, meio sem querer, que um enorme girassol resplandecia sobre Londres.

(Trecho do conto Girassóis, do livro O Imprevisto)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

La luna esta noite


La luna. Penso nela em preto e branco, cinza. Uma lua noir em plena tarde de quarta-feira. Não que ela esteja aparecendo no céu. Não. Eu é que penso nela porque ontem estive doída e triste. Pensar na lua sempre nos faz bem. Ela está lá, cheia de crateras, esférica, circular, redonda... Nós estamos aqui eretos, (en)quadrados, passíveis de todos os lamentos. Os poetas evidenciam a lua nos seus versos rimados. Os amantes fazem dela seu teto. A lua serve para suspirarmos por ela, como quando eu era criança e abria devagar a janela do quarto para espiá-la cheia no firmamento.
Hoje, a plumagem que me enfeita e pune, dedico-a a esta lua noir, que me percebe, sorrateira. Um dia quis ser astronauta só para tocar outro planeta, uma estrela, la luna... Hoje queria ser decoradora, mas a Adri diz que já sou. Decoradora das palavras, ela disse. E eu acredito, porque precisamos também acreditar nos amigos. Olhem para a lua esta noite. Estarei pensando em vocês. No anônimo, nos inominados, nos que se deram um novo nome e nos que mantém o que lhes foi conferido.
Carpe Diem!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Plumagem...

É como se eu estivesse trocando de plumagem. Como se fosse mais animal do que humana. Todo o meu ser se revolve e eu, sempre tão calma, tão zen, sinto uma quase incontrolável vontade de gritar. Acontecem coisas a minha volta sobre as quais é perigoso falar. Todos nós vivemos momentos assim. Melhor calar, mas o grito fica ali, grudado na garganta, me engasgando de mim mesma. E a plumagem me envolve e quase sufoca. Queria ser cisne, mas estou mais para patinho feio. Aliás, estou mais para tudo que não se enquadra nas regras, normas e comandos em geral. Talvez, por isso, sinta-me tão sozinha...

domingo, 30 de novembro de 2008

Deus é um conceito pelo qual medimos o nosso sofrimento.

John Lennon

John, eu não esqueço...

Ouço Lennon, como de costume nesta época do ano. Em dezembro, principalmente. Enquanto isso, o vento insiste nas persianas fazendo-as bater de um modo insuportável. O tempo está fechado. Imagino mil coisas sem sentido, porque nem sempre é preciso dar sentido ao que sentimos. Ouço as palavras de John e me aqueço nelas. Gosto de pensar nele e em Yoko, embora para alguns isso seja um sacrilégio. Também já fui adolescente a achava que a culpa era dela, você sabe porquê. Mas a gente cresce e entende o amor e vê que ele é feito de complementares. Semana passada em uma aula, alguém falou que o papa perdoou Lennon. Uma bruta interrogação apareceu na minha frente. Entenda como quiser, mas a frase dita por ele há tanto tempo não carece de perdão, ainda mais de alguém que só fica "olhando" para a humanidade de seu trono no Vaticano. Vamos e venhamos, isso é só o fim.

sábado, 29 de novembro de 2008

Wine at saturday night




Sábado, domingo. Dias de ler monografias, mas também de tomar vinho e ouvir Amy Winehouse. Enlouquecer um pouco vivenciando as coisas boas da vida e pensando que não, nada aconteceu de realmente trágico, ninguém que eu amo teve uma parada cardíaca, então, sigo em frente. O mundo se moveu em seu eixo enferrujado, e a gente foi se pacificando das dores todas da semana: de enchentes, mortes, ataques terroristas na ìndia, etc. . Tudo vai ficando esmaecido como uma foto antiga que guardamos por delicadeza da saudade. Assim, a Terra dá suas voltas e nós vamos ficando cada vez mais homens e mulheres cheios de dúvidas e incertezas, porém vamos em frente, sempre. Aos murros e pontapés, mas vamos. Carpe Diem!

Idéias: Biba Fotos: Luiz Carlos Erbes


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Coisas pela casa...


Coisas que eu gosto são tão simples. Como um arranjo de mesa ou flores pela casa. É bom querer estar rodeada de coisas coisas coisas. Dá uma sensação de se pertencer a um lugar. Um lugar que vai se construindo com a gente. Hoje foi um dia muito especial para mim e essas coisas de que falo alimentam o meu cotidiano como ícones de beleza e precisão.
Um dia ainda vou ser decoradora!!

Fotos: Luiz Carlos Erbes

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tudo passa...

"Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia".

Tudo passa. Tudo sempre passará. Por isso, esse olhar agora distante, buscando algo que se foi ou que ainda não aconteceu. Esse olhar perdido no vago, no impreciso. Sem querer respostas. Elas são muito fáceis. Sem ficar perguntando. É mais fácil ainda. Apenas fico com esse olhar que busca pelo já dito, pelo não-dito, pelo vir-a-ser. Tudo muito existencialista, é claro, pois Sartre deixou um pouco do seu legado.

"A vida vem em
ondas como o mar
num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
igual ao que gente viu
a um segundo..."

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Roland Barthes

De tanto olhar, a gente se esquece que pode ser olhado.

domingo, 23 de novembro de 2008

Take it easy!

Estudar no domingo lembra a minha infância e adolescência. Sempre que queria evitar os outros eu achava de ir estudar. Aquilo se tornou mecânico. Tinha visita eu ia estudar. Mas é coisa que faço hoje porque o tempo, sim o tempo, não me dá trégua. Aliás, a ninguém, que eu saiba. Vivemos essa dimensão maluca do relógio, símbolo do tempo. Quase 16h, meu deus, tenho muito o que estudar ainda e além disso há trabalhos a corrigir e ... Calma. Take it easy. Vamos conversar seriamente: estudar é bom, eu adoro. Mas hoje é domingo e é novembro e tem sol lá fora vento alegria. Também quero um cadinho disso, senão viro uva passa. E você, o que está fazendo de bom neste belo domingo? Tenha certeza que já já vou dar um passeio!!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Amelie Poulain


"Les temps sont durs pour les rêveurs".
Sim, é um tempo difícil para os sonhadores, mas não podemos desistir.
Tudo o que somos devemos ao amor. É ele que nos impulsiona.
Se os tempos são duros é para que sonhemos mais.
Para que busquemos além da conta o amor em sua máxima liberdade.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

"Todo amante sabe que o momento do prazer vem quando o êxtase terminou há muito e ele tem diante de si a flor que desabrochou com o seu toque".

Johnny Depp em "Don Juan de Marco" (1995)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A sociedade desde sempre apresentou-se como um tecido necrosado. Estar no mundo é agir. Refletir. Participar. No microcosmo dos nossos lares ou empregos temos um rasgo deste mesmo tecido se não nos damos conta do quanto ele é contagioso. Não temos como preservar certos direitos se os outros não respeitam a nossa individualidade dentro da massa atônita que silencia.
"Vida de gado", disse Zé Ramalho em seu Admirável Gado Novo. Pensemos em Huxley e aquela sociedade do futuro. Hoje foi um dia assim, de desentravar o que estava na garganta porque essa apoplexia não pode continuar. "Silêncio". Como no final de Cidade dos Sonhos. Alguma coisa aconteceu que Lynch entendeu antes da gente. "Silêncio". Mas é um daqueles cheio de palavras...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Antes de partir

daqui há dez anos, não!
a vida é hoje, é agora
nada de passar pelo mundo
com a sensação de estar fora
carpe diem, carpe diem
antes de irmos embora...

Antônio Iraildo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Rosa do Marrocos

Miguel deixou cair o livro no chão. As páginas amareladas de uma edição de bolso do Werther folhearam-se ao acaso pelo vento:

A vida humana não passa de um sonho. Mais de uma pessoa já pensou isso... Dançamos vários minuetos... meus dias de felicidade são como os que Deus reservou aos seus santos... a distância, naquelas paragens, parece-se com o futuro...

As frases soltas, Miguel leu enquanto o vento, com seus invisíveis dedos, saltava as páginas. “De dentro de mim”, pensou, “eu não entendo o que sou fora de mim. Esse corpo. Essa luz que ilumina esse corpo. Tanto desejo...”. Miguel olhou o mar, era como reconhecer-se. A inquietude gigantesca das águas azuis era a mesma que o levara àquele exílio. Precisava serenar-se, mas a maré estava por subir. Inteiramente sabia, mas metade dele negava-se ao destino. “Eu faço o que há para ser feito de mim. Tenho essa certeza. Hoje, não queria as lembranças porque elas me mostram o que já fui e eu agora queria o que está por vir, o que desconheço. No entanto, parece que, como o mar revolto, o depois pode ser a imagem do dia anterior”.

Nessa solidão escolhida, falou em voz alta, antes de abaixar-se para recolher o livro: “Desse jeito você vai deixar a loucura entrar”. O pensamento, velocidade da luz, respondeu no ato: “Já está dentro”. Goethe por acaso não era um insano também, perguntou-se. “Se eu fosse Werther mataria em mim o desejo, apenas isso”. A idéia de salvar o personagem de seu trágico destino era, e isso ele sabia, o seu próprio desejo de purificação.
(Trecho de Rosa do Marrocos, do livro de contos O Imprevisto)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Caio Fernando Abreu


Quando nada mais houver,
eu me erguerei cantando,
saudando a vida
com meu corpo de cavalo jovem.

E numa louca corrida
entregarei meu ser ao ser do Tempo
e a minha voz à doce voz do vento.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O que eu não gosto - Parte II

mau-humor, picada de borrachudos (fico empolada), gente que vive em câmera lenta (para não dizer outra coisa), disse-me-disse, coca-cola sem gás (eca!), mulheres atiradinhas, homens sem ação, pessoas desastradas (ai!), cabelo embaraçado, excesso de trabalho que gera estresse, gente que se acha (e como tem por aqui!), quando falta sorvete de chocolate na sorveteria, de ficar sem ver um filme porque alguém retirou antes de mim, que falem mal do Al Pacino, que exista guerra no mundo, que cortem árvores...

domingo, 9 de novembro de 2008

Clarice Lispector

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O que eu não gosto - Parte I

Visitas inesperadas, pessoas que ligam às 8h da manhã, chuva chuva chuvarada, ruído da broca no dentista (aiiiiiii), sujeira na sola do sapato (chiclé que gruda e não quer sair!), abrigos (desses para caminhadas), gente que não sai do senso comum, dos donos da verdade, de brincadeira sem graça, que falte chocolate em casa, que meu gato persa vomite bolinha de pelo, que falte água/luz, ter que falar sem ter vontade, barulho de moedinhas quando as pessoas ficam fazendo isso de propósito, cheiros desagradáveis (urgh!), gente perfumada demais, estar com fome quando já devia ter almoçado, filmes trash, mulheres com legging e blusa curtinha, toda e qualquer vulgaridade...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Um tempo para meditar. Tirar a limpo algumas coisas.
Ver o pó que se acumula nos livros.
Olhar os pequenos detalhes e pensar nas palavras que me agradam, como:
cores, ambiguidade, imaginário, simbólico, iconicidade, anjos...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Losing my religion

That's me in the corner
That's me in the spot light
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh, no, I've said too much
I haven't said enough


R.E.M

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Os dias...

Os dias têm sido intensos. As noites de calmaria. Dormir era preciso depois de tanta insônia. De dia, você abre os olhos e pensa estar vendo de tudo um pouco. Mentira. São apenas focos, enfoques, angulações. Uma fração do destino. Um milésimo de verdade. O resto é incerteza. É (d)nela que vivemos continuamente, sempre dizendo o contrário: que temos tempo ainda, que sabemos o que nos espera, que somos não o que aparentamos, que que que. Palpita a vida com seus lampejos e a nossa vocação é estar no limite, mesmo quando acusamos firmeza e declaramos que não, não somos um embuste. Não nos deixemos ser! Que a engrenagem obscena não tolha nossos sentidos e assim possamos realmente (v)ser.

domingo, 2 de novembro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira


Medo. Insegurança. Raiva. Tudo nos move e comove em Blindness (Ensaio sobre a Cegueira), dirigido por Fernando Meirelles a partir da obra de Saramago. A pipoca foi devorada antes do filme, porque eu já sabia que durante seria indigesto. Ensaio machuca, dói. Somos nós também cegos? De uma cegueira leitosa que nutre a tela com delicadeza mordaz? Ou somos como a personagem de Moore e enxergamos o quanto o ser humano se degrada em situações de risco, em momentos de desesperança? Ver é o verbo mais correto. Ver vai além do enxergar as coisas, está para além delas. A obra de Meirelles é no mínimo um soco no estômago. Há espectadores que abandonam a sessão na metade. Quem fica, ganha. Pois se não há poesia na cegueira, há um olhar sobre a natureza humana muito intenso. Um olhar que não poupa a deficiência. Um olhar que nos procura o tempo todo dizendo: está vendo isso? E agora? E isso? E isso? Saímos da sala com um gosto amargo na boca.

sábado, 1 de novembro de 2008

O nome do dia

O nome do dia é sagrado. Como são sagradas as nossas emoções. Sincronicidade, nós falamos e ela nos dá uma idéia de universo convergindo para o Bem. Coisas deste tipo me passam pela cabeça depois de um breve passeio pelo Caminho das Colônias. E o nome do dia pode ser: efêmero, dormente, aguado, não importa. É sagração da vida. Então resolvo que amanhã é dia de ver Meirelles e seu Ensaio, comer a pipoca desejada, autorizar-me a sentir tudo com força, sem filtros. "Amanhã será um lindo dia/Da mais louca alegria/Que se possa imaginar..."

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Final de tarde

Que venha o fim de semana. Que seja ameno e límpido. Vou plantar sementes de girassóis. Regar as plantas, alimentar os gatos, comer leite condensado na latinha. Quero assistir um bom filme com direito a pipoca. Descobrir algo "beijo-me-liga", sabe como é. Tentarei ler um pouco, falar muito, silenciar nada. De dentro de mim quero que venha o melhor, então estarei pronta para acreditar. E, acreditando, tudo fará sentido.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Clarisser

Clarisser
É só um verbo assim
Meio meu
Meio não meu
Que anima os sentidos
E corre nos trilhos
Que cruzam o pampa da razão
Nada o conjuga não
É o infinito em si
Sem futuro, nem passado
Mas presente
Aonde está presente.


Vitor Ramil

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comunicação

"Comunicação" é um rico emaranhado de fios intelectuais e culturais que codifica as confrontações de nosso tempo consigo mesmo. Compreender a comunicação é compreender muito mais. (PETERS, 1999, p.2)
Psicólogos, advogados, jornalistas... O que existe em comum entre esses profissionais? Descobri que é a preocupação com os excessos, com a banalização midiática e com o desamparo do ser humano em um tempo de vazio ético. Como é bom trocar idéias com pessoas inteligentes e sensíveis. Gosto quando em sala de aula as discussões acontecem e a gente é tomado por um certo ardor de querer convencer-se ou convencer o outro, ou apenas expor nossas contradições e desejos. Contribuir para esse enlace entre teoria e prática é algo muito importante quando estamos na condição de docentes. É um exercício constante e que tem sido bem aceito. Não poderia ser diferente, jornalista tem obrigação de não calar, mas também tem uma obrigação maior ainda com a ética e a responsabilidade social.

terça-feira, 28 de outubro de 2008


Final de tarde sem fim. Horário de verão. Hoje uma certa mornidão abraçou o dia, com direito ao frescor da manhã, é claro. Foi dia de escrever sobre arquitetura e cinema para um free-la. Expressionismo Alemão para os arquitetos: O Gabinete do Dr. Galigari e Metrópolis. Uau! O primeiro é pós-tudo já em 1919 e o segundo é a caracterização do nosso século feita por Fritz Lang em 1926. Adorei o tema. Se me convidarem de novo tenho que pensar em uma arquitetura medieval ou gótica, quem sabe. Termino o dia indo para uma entrevista na TV Caxias sobre os casos Eloá e Isabella. Quem manda ser professora de Ética no Jornalismo? Meus alunos e eu estamos esgotados desses cases midiáticos, já discutimos à exaustão. Mas então tá, vou lá tocar no assunto de novo junto com um advogado e uma psicóloga. É a mídia fazendo o mea culpa.

Cazuza

A via-crúcis do corpo
O mundo caminha assim
A via-crúcis da alma
Essa nunca vai ter fim

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Chove chuva, chove sem parar"

Consolo-me pensando que em Paris também chove. Olha a Amélie Poulain aí, com sombrinha e tudo. O diretor do filme ficou maluco de tanto que chovia quando eles foram filmar ao ar livre. Tudo bem, não quero filmar nada, por enquanto, mas uma trégua seria bem vinda. Oooops! Prometi não reclamar e não vou. O melhor é assistir bons filmes nestes dias: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um deles. Ler também é ótimo. Fazer pipoca. Comer chocolate. Iluminar a casa. Pequenas coisas, pequenos gestos. Elaborar projetos. Ouvir música. Viver!
Uma ótima semana a todos os peixes, digo, a todos nós!

domingo, 26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Porque hoje é sábado

"Porque hoje é sabado", dizia o poetinha Vinícius de Moraes, acontecem coisas inusitadas e algumas banais. Novamente a chuva. Quer saber? Tô nem aí!! Vamos dar um novo sentido a tudo isso, cansei de reclamar. Ouço Mark Knofler e finjo que o dia é uma maravilha. Porque hoje é sábado dá vontade de ver um bom filme, almoçar num restaurante, comer mousse de chocolate, evitar as ruas estreitas demais. Porque hoje é sábado, sabe, tem coisas indizíveis. E tem aquelas boas de falar, como: romance, alegria, beleza, cores (mas está tudo desbotado!). Vá lá: cores, perfumes (Angel é uma delícia), flores. Tá bom, nada original. Mas estou tentando não ser sugada por esse vácuo que fica quando o dia amanhece cinza e chuvoso. Tente comigo. O que mais quer desse sábado?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Rainer Maria Rilke

"Estou aprendendo a ver. Não sei o que provoca isso, tudo penetra mais fundo em mim, e não pára no lugar que costumava terminar antes. Tenho um interior que ignorava.

Agora tudo vai dar aí. E não sei o que aí acontece."


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Quando uma história começa assim, com um homem sentado em sua cadeira de balanço, na sacada, olhando os movimentos da rua à noite, é porque existe um perigo. O perigo que se esconde, traiçoeiro, dentro desse homem e de sua casa.

Se abrirmos a porta que do balcão dá acesso à sala de estar, conheceremos um pouco do que esse homem - que se chama Ettore Capria - aprecia e ama. O reflexo no espelho é sempre o mesmo, o de uma cabeça de cavalo talhada em madeira. É um trabalho rústico, mal acabado. O dorso permanece na cômoda principal cujas gavetas se mantém chaveadas.

Umas poltronas antigas, algumas almofadas de pano, cinzeiros de vidro, vários tamanhos, distribuídos em torno da mesa de centro, pesada como as cores das paredes e do teto. A estante de livros acumula centenas de obras...

Lá fora, o homem esquece que possui calendários antigos pendurados em um dos cantos da sala. Não lembra dos discos empilhados sobre o tapete. Afunda suas mãos num entorpecimento senil. Não sonha.

Jamais sonha?


(Trecho do conto "Ettore", do livro O Imprevisto)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Jura Secreta


Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que eu não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
Do que por não saber ainda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Clube da Luta

Brad Pitt e Edward Norton, o que o outro-eu esconde?

Às vezes a gente se sente como quem partiu ou morreu, mesmo em um belo dia de sol radiante. Penso em Clube da Luta, tema da aula de Cinema de hoje. Percorro a travessia do duplo, tão profundamente explorada pelo Expressionismo Alemão no início do século passado. Quantos de nós não quereriam participar desse clube pelo prazer da adrenalina tão desgastada na sociedade pós-humana? O mundo visto por olhos nada inocentes, onde o sabonete é feito da gordura-lixo das lipoaspirações? Decadência, caos, irreverência. Insônia, solidão, consumismo. Palavras-chave para o Clube. Um filme para ser agarrado à unha. Não se deixe levar pela violência da pancadaria. Ela esconde muito mais do que aparenta. Tente rever com os olhos bem abertos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Queria ser aquele cronópio pequenininho que não acha a chave para sair de casa. Queria ser a mariposa em volta das "lâmpidas", como dizia Adoniran. Queria ser uma corrente enfeitada de rosas brancas e amarelas, cores singelas. Queria quebrar e ser os cacos. Queria arrebentar de alegria como as cigarras que cantam ao limite do suportável. Queria extinguir o tempo, só por um segundo. Matá-lo em slow motion. Depois revirá-lo, intempestiva, e colocar-me para frente, rumo ao futuro. Daria, então, uma festa, como Mrs. Dalloway. Queria, daí, voltar a ser cronópio e finalmente encontrar a chave de casa e sair à rua sem motivo exato.

domingo, 19 de outubro de 2008

O que mais quer?

Foto: Luiz Carlos Erbes

O que mais quer? O que mais quer? O sol apareceu hoje, dando a luz de sua graça. Mas meu coração não sossegou. Um passeio pelo interior só fez uma trilha de saudades mal curadas. O vento soprou nos meus cabelos. Ouvi o canto dos pássaros... Vi as flores... Que mais quer? Que mais quer? O desassossego insistindo dentro. A semana está pronta para começar e eu? Guardo minhas dores e faço cara de desentendida. O que mais quer? Uma estrada infinita...

sábado, 18 de outubro de 2008



Foto: Luiz Carlos Erbes
Algumas cervejas depois e a gente fica menos infeliz nesta cidade em que só chove chove chove. Dizem que o sol sai no fim de semana. Sai de onde?! Para mim ele está bem ali em cima, em algum ponto qualquer. Esse fog fake, essa Bruxelas where rain is tipycal é uma grande baboseira. Estamos em Caxias e aqui tem é neblina, cerração e chuva. Sem glamour minha gente. Ficamos deprimidos, melancólicos, o que for, mas definitivamente não há um pub para se entranhar e esquecer o lá fora. É quase agonia. Minha aluna disse: "Vamos virar peixes". E eu digo: esse aquário não aguenta! Perdida na noite tento entender as artimanhas do tempo, mas só sinto meu coração pulsando, apesar de tudo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Exteriores

Chorei ao som do faroeste até não ter mais lágrimas que pudessem ser choradas naquele momento. Depois fui até a cozinha, abri lentamente a geladeira, como se não quisesse verdadeiramente fazê-lo, e tomei leite, na leiteira mesmo, sem saber direito porque agia assim. Era pouco o leite e não me saciei. O líquido estava tão gelado, a noite era tão fria e chovia tanto que comecei a sentir uma dor rouca na garganta assim que voltei à sala.

Divisei uma sombra na parede e esperei um movimento. Você não estava mais com aquele jeito que sempre rebuscava a noite. Um pouco fatal. Você possuía então, um modo distante de criança assustada e ferida. Fiquei parado alimentando meus olhos úmidos com sua imagem congelada. Entorpeci-me. Você começou dizendo que já não era a mesma. Foi esta a primeira vez que você falou alguma coisa ao chegar. Lembro que sua voz me despertou. Eu quis demonstrar que também já não era o mesmo, mas não sabia como. Por isso, deixei-me estar à luz da televisão sem realmente estar. Afinal, julguei que aquele instante seria eterno. (Trecho do conto "Exteriores", do livro O Imprevisto)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crash - O dia depois

Depois da batida, o coração da gente desacelera. Não é engraçado? É o contrário de tudo. Hoje continua chovendo e sinto uma indisposição física muito grande. O corpo se nega a ser. Qualquer coisa o comprime. Mas nada disso importa agora que um pedaço de chocolate chega aos meus lábios. Chocolate é sempre compensador. Alivia. Dopamina. Agita. Como o chocolate como se fosse o último de todos que existem. Sinto o sabor delicioso enquanto penso coisas do tipo: se a chuva parar eu vou visitá-lo, quando chegar em casa vou ouvir Zélia Duncan, se tudo der certo ... bem, se tudo der certo continuarei por aqui e vou relembrar uns certos momentos ínfimos. Ter o que lembrar nos cura de muitos males.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Chove. Sinto uma tristeza escorregadia de carros batendo na rua enlameada. Ainda ouço o ruído estrondoso da fechada. Meu peito doeu. O cinto realmente é segurança. Agora queria ouvir qualquer coisa harmoniosa, bonita. Esquecer o prejuízo duplo: material e de alma. Sim, de alma, porque a minha vinha embevecida a ouvir Neil Young às 7h40 da manhã. Suspiro.
Dizem que ainda vai chover mais. Dá vontade de ficar para sempre embaixo dos cobertores...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Juliette

Se você não me interromper, eu conto. O nome dela era Juliette, como a Binoche. Tão linda quanto, você poderá dizer. E era. Só que mais magra, menos morena e mais alta. Eu a vi pela primeira vez perto do hotel onde ficamos hospedados, depois na Gare du Nord e na padaria, aquela da esquina onde comprávamos croissants. Ela parecia fantasmagórica às vezes. Usava uns vestidinhos floridos ou com estampas geométricas, nunca lisos. A fantasmagoria vinha de um certo alheamento, uma certa expressão de ausência que eu notava nela. Um dia, por exemplo, ela atravessou a rua como um autômato e foi surpreendida por um ônibus. Eu corri ao encontro dela que não quis ajuda. Ergueu-se insolente e seguiu, perna esfolada no asfalto. (Trecho do conto "Juliette" do livro O Imprevisto)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Soledad



Soledad,
aquí están mis credenciales,
vengo llamando a tu puerta
desde hace un tiempo,
creo que pasaremos juntos temporales,
propongo que tu y yo nos vayamos conociendo.

Aquí estoy,
te traigo mis cicatrices,
palabras sobre papel pentagramado,
no te fijes mucho en lo que dicen,
me encontrarás
en cada cosa que he callado.

Ya pasó
ya he dejado que se empañe
la ilusión de que vivir es indoloro.
Que raro que seas tú
quien me acompañe, soledad,
a mi, que nunca supe bien
cómo estar solo.

(Jorge Drexler)

domingo, 12 de outubro de 2008

Vermelho-luz poente


Luz imaginária. Vermelho-luz poente. Dentro do cesto, em casa. Noite perfeita. Notas de sonoridade única permeando o intenso das chamas. Carpe Diem! Eu penso nesse tanto de
alegria que por vezes se renova como uma planta crescendo. Fosforescente. Fotossíntese da primavera. E eu embarcando para Paris no momento seguinte. É só esperar o verão francês.
Antes disso, Buenos Aires, tango e livrarias inimagináveis!

Foto: Luiz Carlos Erbes

sábado, 11 de outubro de 2008

Gatinhos de Bali. Código 46. Barras de chocolate ao leite. Nomes que circulam pela minha cabeça: Bergman, Schiller, Wagner, Rosselini. Idéias que se evaporam no ar úmido que penetra os poros. Esporos, ácaros, bichos escrotos. O dia não rima. A palavra se enovela, querendo não querer. As frases de Coldplay invadem os ouvidos cansados. "I miss you, I miss you". Vi a garota no deserto ao som dessa canção. Ela de costas para a câmera imóvel. Como imóvel está a manhã. Parada, invertida como no reflexo do espelho. Olho para ela e me alivio da dor de não saber o que mais quero. O relógio de Cortázar me diz para ir em frente antes que os rubis enferrugem. Há falta. Psicanaliticamente falando. Gatinhos de Bali enfeitam o móvel discreto. O chocolate me dopamina. Quero mais. Quero o sentido de tudo. Mas olho em volta e percebo unicamente a manhã molhada pela garoa. Mais nomes circundam minhas idéias...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Os Homens Ocos

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

T.S. Eliot

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Love


Love is real, real is love
Love is feeling, feeling love
Love is wanting to be loved

Love is touch, touch is love
Love is reaching, reaching love
Love is asking to be loved

Love is you
You and me
Love is knowing
We can be

Love is free, free is love
Love is living, living love
Love is needing to be loved

Hoje seria aniversário de John

terça-feira, 7 de outubro de 2008

(I Can't Get No) Satisfaction

I can't get no satisfaction,
I can't get no satisfaction.
'Cause I try and I try and I try and I try...
I can't get no, I can't get no...

Rolling Stones

domingo, 5 de outubro de 2008

Hallelujah!

Hallelujah. O corpo cansado padece. O grito rouco está calado. Ouvir Sinnead O'Connor já não é o suficiente nesta noite fria em que novamente o vinho é a companhia casual. De leve penso em unicórnios e outras coisas rarefeitas. Não quero a brusquidão da realidade. Prefiro a ilusão de um caminho seguro, aquele do porto que nos abarca. Mas há o barco a vagar também e penso coisas como maybe maybe maybe. Do you think about it? Talvez não. Não agora que enregelamos e dizemos coisas tolas e sem sentido. Por que tudo tem que fazer sentido, afinal? Quero me curvar ao irrevelado, àquilo que desperta os meus sentidos, àquilo que me desespera. Hallelujah!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um cálice de vinho. Um aperto no peito. Soluço. Vontade de dizer que sim mesmo sabendo que pode não valer a pena. Mais um cálice de vinho. Tinto. Vontade daqueles braços me envolvendo por uma fração de segundos. Vontade de morrer de amor, como nos tempos idos. Ser mulher sublime, objeto de desejo inalcançável. Vontade de falar a língua dele e me fartar (n)dela. Sempre querendo esquecer o correto, o vazio, a penumbra.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

e.e. cummings

agora ar é ar e coisa é coisa:traço

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Luz. Fragmento sublime de luz que abraça a sala em uma pequena redoma e me toma em braços de criança atrevida. Luz que inebria. Dizem que consome. Consome a si mesma, a luz? Luz elétrica, de abajur antigo, quebrado pelos gatos. Mas ainda assim luz. Que instiga a imaginação e reflete a alma das coisas. Oferecesse ao novo, ao não-dito e se incorpora suavemente. Queria pegar a luz com minhas mãos de escritora, não de jornalista. Porque quero a primeiridade dela em toda a sua vaguidade. Ninguém ouse apagar a luz!
Foto: Luiz Carlos Erbes

domingo, 28 de setembro de 2008

"Há alguns que são atores natos, intuitivos. Eu não. Representar, para mim, é tão difícil como dragar um rio. É uma experiência dolorosa. Não tenho, muito simplesmente, nenhum talento intuitivo. O meu trabalho inquieta-me e estou sempre a queixar-me das minhas representações." (Paul Newman,1959)

Paul Newman

Paul Newman se foi. Não era dos meus atores prediletos porque perfeito demais. Troquei-o por Marlon Brando e sua intranquilidade artística e humana. Deixei-o de lado por Robert Redford, é verdade, principalmente quando trabalharam juntos. Nunca neguei o talento de Newman e suas virtudes, mas acho que sempre precisei de um lado mais James Dean, mais corrosivo que ele não ostentava. Cerebral e brilhante, assim ele era. Hoje vi no "Correio do Povo": "Cinema perde um ícone" e logo lembrei dos meus alunos de Semiótica da Imagem. Taí, um ícone. Na aula eles vão me perguntar se ele não era um símbolo, tenho certeza. Talvez fosse. Símbolo de integridade e retidão. Mas esse conceito não vem de Peirce. Vem da vida regrada e mitificadora do ícone.

sábado, 27 de setembro de 2008

Fernando Pessoa

Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sexta pra que te quero? Pra olhar mais fundo nos olhos dele. Pra pedir perdão por alguma inconsequência. Pra tomar uma latinha bem pequenininha de Coca. Pra abrir um livro de Borges ao acaso e ler uma frase assim:... Pra postar no blog e visitar os meus amigos nos blogs deles. Pra fazer uma limpeza de pele. Assistir "Um Divã em Nova Iorque" só porque tem a Juliette Binoche e é sobre psiquiatras. Sexta-feira pra que te quero? Pra viver mais um pouco e descobrir coisas novas. Pra dar mais aulas e sentir-se exaurir depois. Pra brincar de contar o tempo, sábado já vai chegar e tem o aniversário da Mika.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O sol chegando

Olha aí o sol! Quase grito de alegria! E os cientistas descobriram outra mancha nele. Ah, não quero pensar no que não convém. Melhor sentir seu calorzinho e querer os dias de primavera que enfim hão de vir. Pensar nas borboletas e nas florezinhas abrindo. No íntimo desejo de estar com o outro. Na audácia de ficar sozinha. No tempo passando, as horas. Plenitude é o que mais quero já que ser é o insuportável, não é? Acredito na coragem que a gente precisa ter para não alucinar de vez, assim, como quem toma um simples copo de água. Acredite em mim, que estou sôfrega de desejos imensuráveis. Banhe-se nesse sol clarinho, por enquanto. É tudo o que temos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Tessa

A chuva continua e vamos nadando por calçadas esburacadas. "Isabel vendo chover em Macondo", lembro. Não, GGM não tem nada a ver com esta cidade ou a chuvinha ferrenha. Venho de uma exibição de "O Jardineiro Fiel", sempre impactante. Há um momento de chuva, com Tessa. E, desde que assisti pela primeira vez que guardo o nome dela: T-e-s-s-a. E desde que chove assim aqui, que penso em ir morar no deserto. Certo, é apenas um delírio. Precisamos deles para compensar. Está difícil viver embebida nessa torrente diária. E, dizem, isso continua até outubro. Vou me concentrar em Tessa e esquecer essa tremenda vontade de sumir. T-e-s-s-a.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Experimentações!

A segunda-feira trouxe junto um certo perfume inesperado.Apesar da chuvinha fina e do vento que encana nas esquinas, bateu vontade louca de fazer experimentações. Não é um bom dia para o trabalho (credo, parece previsão de horóscopo) pois estou insustentavelmente leve pluma muito leve leve leve coisa. Assim, é disso que falo. Experimentações. Da língua e tudo o mais que vier. Dia de se engasgar de pequenas epifanias, porque elas vêm sem avisar. É para engolir em seco e depois saborear. É tudo ao contrário, viu?

domingo, 21 de setembro de 2008

...

Dia desses troco as coisas por aqui para ter uma sensação de algo novo, sei lá. É difícil explicar essa inquietação que sinto às vezes. Queria ser engraçada, mas me acho super atrapalhada. Gosto de ficar assim, quietando no domingo porque amanhã é segunda-feira e ninguém sabe (já dizia Drummond). Estou sendo evasiva? Talvez. Mas a melancolia do domingo findando dá essa vontade de qualquer coisa assim que não sei bem o que é. Eu gostaria de uma viagem bem longa. De trem, é claro. Eu de chapéu e luvas, vendo paisagens no frio de uma Paris que ainda amo. Ou então Londres, of course. Suspiro. Hoje ouvi Joe Cocker que é o que se pode fazer num domingo como este, evanescente...

sábado, 20 de setembro de 2008

A viagem de Chihiro (Spirited Away)

Quando quero ser criança outra vez é bem fácil. Tem uma mágica aqui em casa que se chama "Monstros S.A". Eu vejo e revejo e não me canso de tresver. Mas hoje, assisti algo diferente, igualmente encantador: "A Viagem de Chihiro", filme de Hayao Miyazaki. A menina anda por um mundo imaginário e fantástico que faz a gente compreender muita coisa em relação à vida, ao destino, à obstinação e ao amor. Premiado com o Urso de Ouro em Berlim, também ganhou Oscar de Melhor Filme de Animação. Gostei tanto que estou indicando para quem quer um pouco da fantasia da infância em seu mundo adulto.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Alanis Morissette

You live you learn you love you learn You cry you learn You lose you learn You bleed you learn You scream you learn You grieve you learn You choke you learn You laugh you learn You choose you learn You pray you learn You ask you learn You live you learn

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

...e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio

Clarice Lispector

sábado, 13 de setembro de 2008

Essência minha

Sábado, sol, laranja, bergamota.
As cores entre vivas e vibrantes
abraçam o dia frio, abençoado.
Sinto a falta deles, mas sei agora
que não vou morrer por isso,
não ainda, tem a hora certa pela
qual aguardo, hoje, sem ansiedade.
Tem o tempo rolando como as
pedras que não criam limo e é
com ele que vou alçando vôos.
Da essência vem aquilo em que
acredito e prezo, nela me comprazo
depois de tantos desentendimentos
Dela me abasteço, essência minha
que basta aos olhos e ao coração
sempre um pouco cansado e só.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bagdad e As Horas

Houve um silêncio respeitoso. Silêncio de reflexão. Meus alunos de Cinema surpreendem. Há uma semana foi "Bagdad Café" e nessa "As Horas". Não é de se esperar que filmes intimistas sosseguem a meninada às 8h da manhã. Mas houve, em "As Horas", esse silêncio entre melancólico e pensativo. Eles vão pesquisar sobre Virginia Woolf, descobrir seu universo. Só isso já vale a pena. Sem contar que vão analisar o filme dos pontos de vista técnico, estético e psicológico. "Bagdad" teve ótimo resultado. Espero muito de "As Horas". Aquele silêncio... para mim vai ficar sempre marcado como as batidas descompassadas do meu coração naquele momento.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Setembro

Acabou que hoje é segunda-feira, o que é inevitável depois do domingo. E, acontece que estamos em setembro. É setembro no mundo inteiro? Deve ser. Sempre gostei deste mês, desde criança. Por causa do cheiro, das flores e do sol razinho. O que esperar da Primavera quando se tem aquecimento global e tudo está corroído e sujo? Apenas isso: as flores. O cheiro delas. O encanto do sol rasteiro. Não, não é primavera no mundo todo, nem poderia. Além do mais eu a estou cantando antes da hora. É que setembro e primavera combinam tão bem! É tempo de reler Clarice, Virginia. De assistir Bagdad Café e entender o valor da amizade. É tempo de se ter um pouco mais de tempo.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O violino

Violino. Sim, era um som de violino que eu ouvia e me colocava livre, à disposição daquela imaterialidade sonora. Não sei de onde vinha a música, pois então já era música. E comecei a pensar nas lágrimas de outro dia e achei tudo tão banal, apenas porque aquele violino me transportava para um estado de puro sentir, uma primeiridade. Era manhã, e as manhãs são manhosas, têm uma certa lentidão em querer amanhecer, virar dia outra vez. Fiquei quieta, ouvindo os acordes, deixando tudo transparecer, esvanecer, seduzida pelo som. Assim devia ser a vida, sempre. Um violino no alto da manhã deixando-nos estupefatos. Não descobri de onde vinha a música, nem precisava. Tem coisas que não se diz e tem coisas que são só para sentir, assim, meio que sonolentos, à beira de mais um dia indefinido.

domingo, 24 de agosto de 2008

Solidão

Há um perigo em cada esquina. Há uma torsão dentro de nós, como atletas descuidados que somos. Vadiamos noites afora querendo algo como uma verdade absoluta que não vem não vem não tem. A cada dia nos esforçamos mais e mais, porém sempre alguém se vai, alguém se distrai da vida e escolhe outros caminhos. E ficamos olhando, perplexos, espiando a dor alheia como se a nossa própria não bastasse. "Senti teu coração perfeito batendo à toa e isso dói"... Hoje é um dia de promessas não cumpridas. Há esquinas demais à nossa espera. Melhor bater em alguma porta, daquelas com aldrava, fortes, de madeira maciça.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Um pontapé, um sorriso, um beijo...

Acontecem coisas o tempo todo, você sabe. Pode ser um pontapé que nos dão, assim metaforicamente falando. Pode ser um sorriso descomprometido. Como pode ser um beijo. Um beijo que não se espera mas que sempre se quis. Dá para entender? Tem coisas boas demais acontecendo ao nosso redor e então aquela dorzinha de cabeça parece uma tolice. Bom mesmo é poder olhar o outro e ver. Ah, o Outro, como queria Lacan. Tenho a impressão que às vezes você não me entende direito ou é só um modo de recolhimento? Um pontapé, um sorriso, um beijo. Tudo intercepta o eixo das possibilidades, sempre tão raras. A vida entra de viés e deixa o ar rarefeito.

domingo, 10 de agosto de 2008

O presente

Eu ganhei um presente... Não, não é assim: eu ganhei o presente de alguém muito especial. Não vou falar do momento da acolhida, da recepção. Nem vou falar o que é o presente. Mas vou dar uma pista para os mais atentos:

"Se eu pensasse claramente, diria que luto sozinha nesta escuridão, numa profunda escuridão...E que só eu posso saber. Somente eu posso compreender minha condição. Você vive com uma ameaça; você diz que vive na iminência de minha extinção. Eu vivo nela também."

Virginia Woolf para seu marido , Leonard

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Tarde

Hoje acordei tarde, muito tarde. Tarde para a vida? Não sei, pensei naqueles versos: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu". É o pesadelo de hoje, do agora-já. Falo do imediato porque tenho a esperança de uma virada. O dia é longo. Há muito a acontecer. A renite incomoda. Os gatos se ausentam quando me sentem assim, distraída e triste. Mas, como disse, tudo pode mudar. Eu bem posso encontrar um amigo com quem conversar. Eu bem posso comer um doce bem saboroso. Eu bem posso ficar quietinha ouvindo o vento lá fora. Que hoje está ventando por demais...

sábado, 2 de agosto de 2008

Agosto parido

Não tenho medo do escuro,
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido, ninguem prometeu
(Renato Russo)


Agosto nasce com gosto de sangue de animal recém-parido. Lembranças se esvaem como a placenta. Tímida, reconheço o caminho a seguir. A estrada sempre longe, mas que está somente a alguns passos. Tudo que me rodeia gira devagar, como devagar eu procuro luz e entendimento. Os dias não têm sido fáceis, porque nada é fácil, esta é a verdade. A mãe lambe o sangue e a placenta da cria. Eles não sabem o que é futuro, o que é passado, o que é crescer. São tão abençoados na ignorância de apenas ser. Eu afundo os dedos nos cabelos querendo gritar, sim, meu grito acordaria a vizinhança inteira. Melhor deixar as luzes acesas...

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Jorge Drexler

12 Segundos de Oscuridad

Gira el haz de luz

para que se vea desde alta mar.
Yo buscaba el rumbo de regreso
sin quererlo encontrar.

Pie detrás de pie
iba tras el pulso de claridad
la noche cerrada, apenas se abría,
se volvía a cerrar.

Un faro quieto nada sería
guía, mientras no deje de girar
no es la luz lo que importa en verdad
son los 12 segundos de oscuridad.

Para que se vea desde alta mar...
De poco le sirve al navegante
que no sepa esperar.

Pie detrás de pie
no hay otra manera de caminar
la noche del Cabo
revelada en un inmenso radar.

Un faro para, sólo de día,
guía, mientras no deje de girar
no es la luz lo que importa en verdad
son los 12 segundos de oscuridad.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Truman Capote

"As palavras sempre me salvaram da tristeza".

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O dia de Clarissa

Clarissa estremeceu. Nunca tivera olhos de cigana, oblíguos e dissimulados. Mas, talvez para ele... Clarissa sentiu também um calor subir pelo estômago e engasgar ali, na garganta. De onde devia sair um "oi tudo bem", "olá, como vai?" Pensou se estava bem de vermelho, com o cabelo solto à espreita do vento suave. Ele a viu, finalmente. "Me perdoe a pressa", ela quis dizer antes mesmo de se cumprimentarem. Era só uma espécie de medo-susto. Tanto tempo. Ele ainda ia sentir o seu perfume como antes? Ele a olhava como sempre. Ela, então, entendeu: aquela pressa era um ardor, um coração selvagem ali batendo dizendo: "eu quero". Sendo que esse querer é o indizível agora e para sempre. Porque não mais aqueles braços. Não mais aqueles lábios. Clarissa entendia tudo em um segundo quando o sol iluminou o rosto dele e ela percebeu que o seu cabelo havia sido cortado de pouco. A face sedenta recebeu um beijo, dois, mais. Clarissa queria mais, ela é sempre tímida e arrebatada ao mesmo tempo, nunca entendendo bem esses enlaces. Afinal, se despediram. Ela atravessou a rua e não olhou para trás a fim de não saber do medo-susto de, por acaso, vê-lo indo embora, assim, sem mais aquela.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Tantas Palavras - Chico Buarque

2ª versão*
Tantas palavras
Que eu conhecia
Só por ouvir falar, falar
Tantas palavras
Que ela gostava
E repetia
Só por gostar

Não tinham tradução
Mas combinavam bem
Toda sessão ela virava uma atriz
"Give me a kiss, darling"
"Play it again"

Trocamos confissões, sons
No cinema, dublando as paixões
Movendo as bocas
Com palavras ocas
Ou fora de si
Minha boca
Sem que eu compreendesse
Falou c'est fini
C'est fini

Tantas palavras
Que eu conhecia
E já não falo mais, jamais
Quantas palavras
Que ela adorava
Saíram de cartaz

Nós aprendemos
Palavras duras
Como dizer perdi, perdi
Palavras tontas
Nossas palavras
Quem falou não está mais aqui
Inquieta, mais do que nunca. Olho o relógio, refaço as horas. Não conto para trás. Espero uma brecha no tempo e aí sim, fico muda de felicidade. Espero. Sorrio. Olho em volta e vejo que as coisas são mesmo incoerentes e que não há sapato para todos. Sigo o dia que traz um sol clarinho, desbotado. Sigo o meu coração apressado. Tudo se faz como uma pequena e doce aventura, com sabor de vida, assim, bem na ponta da língua.

domingo, 13 de julho de 2008

Teu Nome Mais Secreto

Só eu sei teu nome mais secreto

Só eu penetro em tua noite escura
Cavo e extraio estrelas nuas
De tuas constelações cruas

Abre–te Sésamo! – brado ladrão de Bagdá

Só meu sangue sabe tua seiva e senha
E irriga as margens cegas
De tuas elétricas ribeiras,
Sendas de tuas grutas ignotas

Não sei, não sei mais nada.
Só sei que canto de sede dos teus lábios
Não sei, não sei mais nada.

Adriana Calcanhotto

Composição: Waly Salomão

sábado, 12 de julho de 2008

Hoje foi um dia bacana. De sacudir a poeira e comer tolices jurando que é a última vez. Os gatos miando pela casa, um sol rasteirinho, breve, breve. E eu com saudade de alguma coisa ainda não descoberta. Com vontade de abrir o coração e falar falar falar. Hoje foi um dia lilás, você entende? Lilás. Enquanto isso, tudo passa...

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Viver

O frio. O sol. O gato que se deita e lambe os pelos. A luz e sua intensidade, vindo, abrindo postigos para que entrem. A roupa no varal. Chico Buarque na canção. Um pé, ante-pé. Um pé atrás. Ninguém morreu e a lua ficou calada combalida pela noite fria. Relembro alguns fatos, outros esqueço. Del. Viver é mesmo uma coisa inusitada... Que bênção!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Fera tarde

Fera tarde
que balança
tonta de euforia
por ser bicho solto
num mês de luzes
e pegadas no céu

Fera tarde
de absoluto prazer,
mas, laços amarrados
contradizem a soltura
Tão branca a tarde
feroz e descabida

Que olho no espelho
e o que vejo não é mais
o reverso de mim.
É o rosto...
O rosto que tento esquecer

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Vinícius de Moraes - Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte

Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço
- Meu tempo é quando

sábado, 26 de abril de 2008

No olho do furacão

De dentro do olho do furacão
Vontade enorme de fugir
Dançar à toa... Viver à toa
Mas o furacão se enfurece
grunhe e leva a gente embora
Para longe do inexplicável
Para mais dentro do seu olho
inumano, irrascível, torto.
E a gente reza como se pecasse
por querer tanto a liberdade
Como se confundisse a própria
existência com esse olho que
da retina acaba escuro e triste

domingo, 23 de março de 2008

Mergulho

Não quero agora pensar no tempo. No quanto demorei para voltar, a que lugares me entranhei... Quero lembrar de lembrar cada vez mais daquilo que importa e é definitivo com ponto final: a vida. Melhor mergulhar nela e ferir-se do que ficar obtuso, passivo. Hoje penso no "it" de Clarice Lispector e nas viagens que já fiz com ela. Penso no quanto é saboroso gostar e gostando de gostar a gente fica mais feliz e gosta cada vez mais. Eu sei, ela nos disse: "Gostar de estar vivo dói". Mas esta é talvez a única dor que vale a pena. Carpe Diem!!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Virginia Woolf

"A beleza do mundo tem duas margens, uma do riso e outra da angústia, que cortam o coração em duas metades".

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Retorno ao blog

Enquanto Cazuza me diz: "Vamos pedir piedade, Senhor, piedade/pra essa gente careta e covarde", resolvo que está na hora de reassumir o Carpe Diem. Precisei de férias de mim mesma, se é que vocês me entendem. Há momentos na vida que são para a gente estar dentro daquilo que desconhece numa tentativa de auto-conhecimento, talvez. O que importa é que ouvi muita música, trabalhei muito (estou trabalhando) e precisei me ausentar por puro desejo de não ser ninguém por um tempo bastante longo, na verdade. Estar de volta é re-significar tudo. Pois se é o que tenho feito ainda que inconscientemente. Re-significar. Re-ciclar. Re-ver. O tempo tem me ensinado esse nado de frente, enfrentando as correntezas. Carpe Diem!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Dom Luiz Cappio

"Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho"