segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Luz. Fragmento sublime de luz que abraça a sala em uma pequena redoma e me toma em braços de criança atrevida. Luz que inebria. Dizem que consome. Consome a si mesma, a luz? Luz elétrica, de abajur antigo, quebrado pelos gatos. Mas ainda assim luz. Que instiga a imaginação e reflete a alma das coisas. Oferecesse ao novo, ao não-dito e se incorpora suavemente. Queria pegar a luz com minhas mãos de escritora, não de jornalista. Porque quero a primeiridade dela em toda a sua vaguidade. Ninguém ouse apagar a luz!
Foto: Luiz Carlos Erbes

domingo, 28 de setembro de 2008

"Há alguns que são atores natos, intuitivos. Eu não. Representar, para mim, é tão difícil como dragar um rio. É uma experiência dolorosa. Não tenho, muito simplesmente, nenhum talento intuitivo. O meu trabalho inquieta-me e estou sempre a queixar-me das minhas representações." (Paul Newman,1959)

Paul Newman

Paul Newman se foi. Não era dos meus atores prediletos porque perfeito demais. Troquei-o por Marlon Brando e sua intranquilidade artística e humana. Deixei-o de lado por Robert Redford, é verdade, principalmente quando trabalharam juntos. Nunca neguei o talento de Newman e suas virtudes, mas acho que sempre precisei de um lado mais James Dean, mais corrosivo que ele não ostentava. Cerebral e brilhante, assim ele era. Hoje vi no "Correio do Povo": "Cinema perde um ícone" e logo lembrei dos meus alunos de Semiótica da Imagem. Taí, um ícone. Na aula eles vão me perguntar se ele não era um símbolo, tenho certeza. Talvez fosse. Símbolo de integridade e retidão. Mas esse conceito não vem de Peirce. Vem da vida regrada e mitificadora do ícone.

sábado, 27 de setembro de 2008

Fernando Pessoa

Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sexta pra que te quero? Pra olhar mais fundo nos olhos dele. Pra pedir perdão por alguma inconsequência. Pra tomar uma latinha bem pequenininha de Coca. Pra abrir um livro de Borges ao acaso e ler uma frase assim:... Pra postar no blog e visitar os meus amigos nos blogs deles. Pra fazer uma limpeza de pele. Assistir "Um Divã em Nova Iorque" só porque tem a Juliette Binoche e é sobre psiquiatras. Sexta-feira pra que te quero? Pra viver mais um pouco e descobrir coisas novas. Pra dar mais aulas e sentir-se exaurir depois. Pra brincar de contar o tempo, sábado já vai chegar e tem o aniversário da Mika.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O sol chegando

Olha aí o sol! Quase grito de alegria! E os cientistas descobriram outra mancha nele. Ah, não quero pensar no que não convém. Melhor sentir seu calorzinho e querer os dias de primavera que enfim hão de vir. Pensar nas borboletas e nas florezinhas abrindo. No íntimo desejo de estar com o outro. Na audácia de ficar sozinha. No tempo passando, as horas. Plenitude é o que mais quero já que ser é o insuportável, não é? Acredito na coragem que a gente precisa ter para não alucinar de vez, assim, como quem toma um simples copo de água. Acredite em mim, que estou sôfrega de desejos imensuráveis. Banhe-se nesse sol clarinho, por enquanto. É tudo o que temos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Tessa

A chuva continua e vamos nadando por calçadas esburacadas. "Isabel vendo chover em Macondo", lembro. Não, GGM não tem nada a ver com esta cidade ou a chuvinha ferrenha. Venho de uma exibição de "O Jardineiro Fiel", sempre impactante. Há um momento de chuva, com Tessa. E, desde que assisti pela primeira vez que guardo o nome dela: T-e-s-s-a. E desde que chove assim aqui, que penso em ir morar no deserto. Certo, é apenas um delírio. Precisamos deles para compensar. Está difícil viver embebida nessa torrente diária. E, dizem, isso continua até outubro. Vou me concentrar em Tessa e esquecer essa tremenda vontade de sumir. T-e-s-s-a.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Experimentações!

A segunda-feira trouxe junto um certo perfume inesperado.Apesar da chuvinha fina e do vento que encana nas esquinas, bateu vontade louca de fazer experimentações. Não é um bom dia para o trabalho (credo, parece previsão de horóscopo) pois estou insustentavelmente leve pluma muito leve leve leve coisa. Assim, é disso que falo. Experimentações. Da língua e tudo o mais que vier. Dia de se engasgar de pequenas epifanias, porque elas vêm sem avisar. É para engolir em seco e depois saborear. É tudo ao contrário, viu?

domingo, 21 de setembro de 2008

...

Dia desses troco as coisas por aqui para ter uma sensação de algo novo, sei lá. É difícil explicar essa inquietação que sinto às vezes. Queria ser engraçada, mas me acho super atrapalhada. Gosto de ficar assim, quietando no domingo porque amanhã é segunda-feira e ninguém sabe (já dizia Drummond). Estou sendo evasiva? Talvez. Mas a melancolia do domingo findando dá essa vontade de qualquer coisa assim que não sei bem o que é. Eu gostaria de uma viagem bem longa. De trem, é claro. Eu de chapéu e luvas, vendo paisagens no frio de uma Paris que ainda amo. Ou então Londres, of course. Suspiro. Hoje ouvi Joe Cocker que é o que se pode fazer num domingo como este, evanescente...

sábado, 20 de setembro de 2008

A viagem de Chihiro (Spirited Away)

Quando quero ser criança outra vez é bem fácil. Tem uma mágica aqui em casa que se chama "Monstros S.A". Eu vejo e revejo e não me canso de tresver. Mas hoje, assisti algo diferente, igualmente encantador: "A Viagem de Chihiro", filme de Hayao Miyazaki. A menina anda por um mundo imaginário e fantástico que faz a gente compreender muita coisa em relação à vida, ao destino, à obstinação e ao amor. Premiado com o Urso de Ouro em Berlim, também ganhou Oscar de Melhor Filme de Animação. Gostei tanto que estou indicando para quem quer um pouco da fantasia da infância em seu mundo adulto.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Alanis Morissette

You live you learn you love you learn You cry you learn You lose you learn You bleed you learn You scream you learn You grieve you learn You choke you learn You laugh you learn You choose you learn You pray you learn You ask you learn You live you learn

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

...e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio

Clarice Lispector

sábado, 13 de setembro de 2008

Essência minha

Sábado, sol, laranja, bergamota.
As cores entre vivas e vibrantes
abraçam o dia frio, abençoado.
Sinto a falta deles, mas sei agora
que não vou morrer por isso,
não ainda, tem a hora certa pela
qual aguardo, hoje, sem ansiedade.
Tem o tempo rolando como as
pedras que não criam limo e é
com ele que vou alçando vôos.
Da essência vem aquilo em que
acredito e prezo, nela me comprazo
depois de tantos desentendimentos
Dela me abasteço, essência minha
que basta aos olhos e ao coração
sempre um pouco cansado e só.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bagdad e As Horas

Houve um silêncio respeitoso. Silêncio de reflexão. Meus alunos de Cinema surpreendem. Há uma semana foi "Bagdad Café" e nessa "As Horas". Não é de se esperar que filmes intimistas sosseguem a meninada às 8h da manhã. Mas houve, em "As Horas", esse silêncio entre melancólico e pensativo. Eles vão pesquisar sobre Virginia Woolf, descobrir seu universo. Só isso já vale a pena. Sem contar que vão analisar o filme dos pontos de vista técnico, estético e psicológico. "Bagdad" teve ótimo resultado. Espero muito de "As Horas". Aquele silêncio... para mim vai ficar sempre marcado como as batidas descompassadas do meu coração naquele momento.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Setembro

Acabou que hoje é segunda-feira, o que é inevitável depois do domingo. E, acontece que estamos em setembro. É setembro no mundo inteiro? Deve ser. Sempre gostei deste mês, desde criança. Por causa do cheiro, das flores e do sol razinho. O que esperar da Primavera quando se tem aquecimento global e tudo está corroído e sujo? Apenas isso: as flores. O cheiro delas. O encanto do sol rasteiro. Não, não é primavera no mundo todo, nem poderia. Além do mais eu a estou cantando antes da hora. É que setembro e primavera combinam tão bem! É tempo de reler Clarice, Virginia. De assistir Bagdad Café e entender o valor da amizade. É tempo de se ter um pouco mais de tempo.