sábado, 31 de outubro de 2009

Luz e Cor

Calor delicioso. Sol. Arestas. Flores nos pequenos jardins. Há tanta vida lá fora, diria Lulu Santos. Sim, há muita vida lá fora e nós amamos o que nos cerca. Esse entorno. A divisão de águas. Arbusto e árvore. Pedras. Água corrente. A natureza se remói e reconstrói nessa estação primavera, que chega tardiamente ao Sul. Sinto os cheiros. Vejo as sombras mais eloquentes. O amor está no ar, disse-me um amigo que vai casar em breve. Espero que o feriadão seja de muita luz e cor. Carpe Diem!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Anticristo


Lars von Trier. Arremesso na dor mais pungente. Um punhado de cólera e anarquia. O imaginário de uma perda. A luta para sobreviver a ela. Os recalques, os traumas. Angústia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O coração estremeceu, como as pernas e braços. Eu não lembrava mais dessa sensação da dor de saber o que não se deseja. Me recomponho como posso e sigo adiante. Tenho fé. Já me disseram que tenho muita. Como a que um dia eu vi nos olhos de minha avó? Não chega a tanto. Mas é uma fé ardorosa na natureza, no limiar das coisas, na mão de Deus sobre os homens. Agora, mais que nunca, faço minha oração. Que esse coração quebrantado veja a luz. O meu, e o dele.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

As tears go by

Rolling Stones
Composição: Jagger / Richards

It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Smiling faces I can see
But not for me
I sit and watch
As tears go by

My riches can't buy everything
I want to hear the children sing
All I hear is the sound
Of rain falling on the ground
I sit and watch as tears go by

It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Doing things I used to do
They think are new
I sit and watch as tears go by

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Artesã de Ilusórios

Minha amiga Letícia Palmeira lançou seu livro na semana que passou. Estou nele também, porque fiz um texto para a contracapa. Aqui, um dos saborosos escritos dessa escritora singular:

Anjos

Quanto a mim, que sou sangue e batalhão de borboletas escondidas na multidão que segue estrondos. Eu que sou amplitude, momentos e manchas na obra que tento desfazer, desejo engolir o tempo. Causo tanto mal e como escravo de minhas ações, me encarrego dos reparos. Demônios não seguem regras que não sejam perversas. Mas tenho sido infiel. Indigno de meu templário. Ornamentei altares e ajudei cegos a encontrarem seus caminhos. Consertei o que de quebrado havia em obras de arte. Chorei ao velar os mortos que se uniram ao meu lado oposto. Comunhão e pecadores na missa de domingo e pelo fim de minha espécie, fiz leitura em via pública de livros que entortam as vigas de meu santuário e agora, não sei o que será de mim. Até anjos revoltos entram em crise. É a modernidade nos levando ao fim.

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sábado, 24 de outubro de 2009

Clarice

“Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso. Lê a energia que está no meu silêncio” (LISPECTOR, 1998, p. 28).

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Escombros do mundo

Outubro, 23. Manhã de luz que arrebenta a retina. Olhos entreabertos, sem óculos de sol. Um suco de manga. Uma maçã no escuro. Ai! Clarice, me acode agora que entrei nesse desvario de dizer que a vida é coisa de ficção. Queria ter as costas aladas, como as de um anjo e assim me ver em Berlim, com Cassiel. Queria que o mote da desilusão não doesse a dor que dói. Precisava de mais alguma coisa que me foge agora à memória. Necessitava de um sopro qualquer, um tufo de vento nos meus cabelos compridos. Queria ser espécie rara, nativa, irreal. Porém, me vejo pequena diante dos escombros do mundo...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Desde ontem, por conta de uns acontencimentos da vida, estou um tanto pensativa. Meio (in)quieta, meio triste. Há momentos em que nada podemos fazer pelo outro e isso nos destroça. Saber de uma fragilidade, de uma doença, de um luto e não poder ajudar. Isso me destrói. Contudo, por conta da terapia, respirei fundo e aprendi a despensar para não enlouquecer. Gostar pode causar danos a nós e aos outros, esse aprendizado é novo. Há momentos nos quais o maior carinho ainda é calar e a maior solidariedade é apenas um abraço. Por isso, abraço e calo, sem culpa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Por vezes todos se calam. Não há o que fazer a não ser esperar. É como em GGM (Ninguém escreve ao coronel), ir todo dia no portão verificar se chegou alguma correspondência. Calar é também um modo de dizer. O mais refinado e tímido, ou o mais atiçado e louco. Também eu me calo tantas vezes. O bom é saber que é possível voltar a falar. De tudo um pouco: arte, intimismo, cinema, melodia, coisa alguma com sentido algum. Escrever é mesmo um grande mistério...

domingo, 18 de outubro de 2009

Transtorno

Ela me disse isso: "Intenção, atenção e nenhuma tensão". Perguntou se eu entendia. Ela estava maníaca, língua solta, gestos largos. Foi a primeira vez que a vi e provavelmente seja a última. Nossos dias e horários são diferentes, mas essa semana ela se enganou e foi no meu. Ela estava tão louca que eu só soube concordar. "Você acredita em Deus?". Sim, eu disse meio baixinho. "Ainda bem!!" Fiz que sim com a cabeça e me perguntei porque ela estava ali, naquela poltrona esperando que ele abrisse a porta se era para mim que ela seria aberta. Fiquei confusa por um instante. Talvez eu é que tivesse errado o dia e a hora. Mas não, era ela, lendo em voz alta para mim um livro de auto ajuda. De repente, chega uma mulher mais velha e igualmente alterada. Olhos arregalados, bufando por ter caminhado muito. Pensei: a coisa está ficando pior. Elas conversavam, mesmo tema: "Intenção, atenção e nenhuma tensão". Foram alguns minutos que pareceram horas. Então, porta aberta, olhar inquiridor, ele disse que o horário dela era mais tarde. Bem mais tarde. Foram-se as duas. Entrei.

sábado, 17 de outubro de 2009

Caio Fernando Abreu, Caio F.

"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo outra vez."

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pra ficar contigo

Eu queria te beijar e beijar longamente. Esquecer das horas. Ficar aninhada. Colada. Grudadinha. É um querer tão bonito que me deixa estonteada. Peço logo um carinho que vem naquele toque peculiar nos cabelos. Gosto dos teus dedos assim, alisando meu cabelo. Gosto de ficar inquieta quando o carinho não se desdobra em algo maior. É bom também somente imaginar. Hoje, por conta de uma colega, gargalhei. E, queria muito te dizer isso, não sou uma pessoa de gargalhadas. Sou sempre pelo sorriso, o afago, o apego. Mas ela me fez rir daquele jeito tão novo que todos ficaram espantados e riram em seu espanto mútuo. O que isso tem a ver com eu querer te beijar e beijar? Nada, ué. Apenas gosto de te contar todas as coisas que me acontecem. Porque assim nunca me perco de ti.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Paz

Estar em paz é como uma promessa. Eu tenho que pagar por ela. Tenho que me devotar e escolher caminhos. O que estou semeando será sempre em nome da paz. Em mim, nos outros. Sem o outro, estamos perdidos. Reverencio solenemente os momentos de paz, já que eles não persistem. São da ordem das coisas inefáveis. São curvilíneos, esses momentos. Enroscam-se, nos abraçando suavemente. Deles retiramos a força para a continuação de tudo. Estar em paz é orar para si mesmo, crente em toda a nossa própria determinação e fé. Estar em paz ultrapassa o lugar, o hoje, o amanhã. Creio que desses movimentos circundantes de pacificidade em nós, nasça o que há de mais belo: as batidas de um coração no ventre da mãe.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma carta revisitada


A coisa mais estranha que pode existir é você ler uma carta escrita por você, décadas depois de tê-la enviado. De repente, caiu em minhas mãos. Reconheci o papel de cartas azul e a letra redonda. Li. E, daquele lugar onde fora escrita a carta, existia um eu que hoje quase desconheço, mas que sei, pulsa em algum canto de mim. Li, com firmeza de quem precisa completar uma lição. Porque a carta era assim um conselho e uma lição. Confrontei duas faces de mim mesma ao tocar aquele papel ainda intacto apesar do tempo. Digredi. Voltei. Entrei dentro do campo minado da simplicidade. Sim, a simplicidade mora em um campo minado, talvez por isso a gente teime tanto em querer o mais difícil ou o mais sofisticado que é areia no deserto. Plantei uma carta, quando já o fiz com muitas árvores. E havia ali, naquela escrita sincera, a alma de uma mulher em plena paz. Recostei-me sobre o espaldar da cadeira e me rendi a mim mesma. Do lugar que estou agora, vejo que aquela é a "verdadeira eu".

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Desafios


Quando se dá um trabalho por encerrado, logo nossa mente se retesa. Não há como fugir de novas ideias e afazeres. Dar um tempo para tudo, ficar longe de casa, é também parte dessa ideia de trabalho findo, mas não finito. Os olhos brilham e querem mais. À noite os sonhos dizem do inconsciente desejo de renovação. Então, de repente, nada mais é aquilo que costumava ser e a gente se desenovela junto com o fio de Ariadne. Esse espaço que buscamos dentro e fora de nós é o que há de mais precioso. Na riqueza dos dias, tantas vezes nebulares, podemos encontrar um fato, uma pessoa, um lugar. E neles ou deles, talvez nasçam novas histórias a serem contadas. Sempre haverá um livro por escrever. Isso, finalmente, entendo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


Uns dias para passear. Uns dias para não pensar, se isso for possível. Só queria o cheiro das primaveras lá fora. Vou ver se encontro e também me encontro nesse passeio que inicia hoje.
Eu volto em breve!!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Jogo do Imaginário em Caio F.













Renato Henrichs, meu editor
















Com o reitor da UCS, Izidoro Zorzi


Sempre penso no tempo de plantar e no tempo de colher. Agora é tempo de colher: alegrias e realização. Ontem o lançamento do livro Jogo do Imaginário em Caio F. foi um sucesso! Aguardem fotos!!



"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva." Caio Fernando Abreu

domingo, 4 de outubro de 2009

Caio Fernando Abreu, Caio F.

Um livro nos liberta e consome. Quando falo isso me reporto às inúmeras vezes em que fiz revisões a pedido da editora. São manhãs, tardes, vespertinos. Qualquer hora é disponível para um acerto aqui outro ali. Mas liberta na hora da escritura. Quando deixamos o mundo de lado e só escolhemos as palavras que melhor digam aquilo que ousamos entender do outro. Nesse caso, o outro é alguém muito famoso e complexo: Caio Fernando Abreu, cuja intimidade com a pesquisa me revelou sua assinatura em cartas, Caio F. Passei logo a tratá-lo assim, como alguém que estivesse tão próximo que seria incômodo não lhe ser também próxima. Nunca sonhei com Caio e isso me parece estranho, uma vez que minha convivência com sua obra não vem só desses dois anos de pesquisa. Conheci Caio pessoalmente, em Santa Maria, minha cidade natal. Eu tinha então 19 anos. A menina cresceu lendo a obra do lendário escritor que dizia ter um "defeito de fabricação". Ele se referia ao estar no mundo, ao deparar-se com a vida tão crua e não saber o que fazer dela. A menina sentia-se assim também. E, embora tenha crescido, continou sua busca pelo tom exato da existência até descobrir que este inexiste. Fazemos o que fazemos porque amamos e sobrevivemos. Criou-se um laço entre a leitora e o escritor que apenas sorriu para ela e autografou os livros à época. Um laço, uma sintonia que as palavras de seus textos conseguiam enredar. Esse livro que agora lanço sobre a tessitura imagética de Caio F. é como uma homenagem. Mais, é como um tributo. Mais, é como amor sendo doado sem reservas.

sábado, 3 de outubro de 2009

Trecho de Jogo do Imaginário em Caio F.



Sargento Garcia é um conto em estilo clássico, no qual diálogos e descrições enriquecem a narrativa. “Nenhum vento nas copas imóveis. E moscas amolecidas pelo calor, tão tontas que se chocavam no ar, entre cheiro de bosta quente de cavalo e corpos sujos de machos. De repente, mais nu que os outros, eu: no centro da sala. O suor escorria pelos sovacos”. O Eu-Protagonista narrará sua saga em um texto que reúne crueza e melancolia, vibração e morticidade. É o único conto de Morangos em que a linguagem jornalística é sugerida nas frases curtas e descrições breves. “Sorriu. Pressenti o ataque. Sempre vencia.” O modo hemingwayano é mesclado com períodos longos, falas dos personagens e os pensamentos-signo de Hermes, o Eu-protagonista.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009