quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Um trem...
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
A boa nova é:
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
sábado, 19 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Torcicolo...
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Saudade daqui!
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Eles
Chegou o momento ela pensou. Passou batom novamente. Olhou o relógio. Continuou no carro. Seria uma aventura encontrá-lo depois de décadas. Isso era assustador. Mas, sim, seria bom revê-lo. Ficou ali, olhando pela janela do carro. Esperou até perceber que esse encontro seria como entrar no passado e revirá-lo. Ligou o motor. Fugiu.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Normalidade
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Índios
Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha
Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...
Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
O espelho
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Canteiros
Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento
Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida
domingo, 15 de novembro de 2009
depois...
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Eu ainda não encontrei o que estou procurando
I have run through the fields
Only to be with you
I have run I have crawled
I have scaled these city walls
Only to be with you
But I still haven't found
What I'm looking for
But I still haven't found
What I'm looking for
I have kissed honey lips
Felt the healing fingertips
It burned like fire
This burning desire
I have spoken with the tongue of angels
I have held the hand of the devil
It was warm in the night
I was cold as a stone
U2
domingo, 8 de novembro de 2009
José Saramago
sábado, 7 de novembro de 2009
Berlim
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
sábado, 31 de outubro de 2009
Luz e Cor
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Anticristo
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
As tears go by
Composição: Jagger / Richards
It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Smiling faces I can see
But not for me
I sit and watch
As tears go by
My riches can't buy everything
I want to hear the children sing
All I hear is the sound
Of rain falling on the ground
I sit and watch as tears go by
It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Doing things I used to do
They think are new
I sit and watch as tears go by
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Artesã de Ilusórios
Anjos
‑
sábado, 24 de outubro de 2009
Clarice
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Escombros do mundo
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
Transtorno
sábado, 17 de outubro de 2009
Caio Fernando Abreu, Caio F.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Pra ficar contigo
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Paz
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Uma carta revisitada
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Desafios
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
Caio Fernando Abreu, Caio F.
sábado, 3 de outubro de 2009
Trecho de Jogo do Imaginário em Caio F.
Sargento Garcia é um conto em estilo clássico, no qual diálogos e descrições enriquecem a narrativa. “Nenhum vento nas copas imóveis. E moscas amolecidas pelo calor, tão tontas que se chocavam no ar, entre cheiro de bosta quente de cavalo e corpos sujos de machos. De repente, mais nu que os outros, eu: no centro da sala. O suor escorria pelos sovacos”. O Eu-Protagonista narrará sua saga em um texto que reúne crueza e melancolia, vibração e morticidade. É o único conto de Morangos em que a linguagem jornalística é sugerida nas frases curtas e descrições breves. “Sorriu. Pressenti o ataque. Sempre vencia.” O modo hemingwayano é mesclado com períodos longos, falas dos personagens e os pensamentos-signo de Hermes, o Eu-protagonista.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
O dia
sábado, 26 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Mais primavera
É como um click, uma novidade, um raio de luz entrando pelas frestas.
A primavera se distende e estende suas flores por aí afora. Enquanto isso, nos rodeamos de qualidades de sentimentos. Tudo fica mais dócil, menos amargo, menos tenso. Muito embora os dias digam não. Tenho um pressentimento que a primavera é Deus abençoando a vida.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Primavera - Cecília Meirelles
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Inquietações
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
FALA
(João Ricardo-Luli)
EU NÃO SEI DIZER
NADA POR DIZER
ENTÃO EU ESCUTO
SE VOCÊ DISSER
TUDO QUE QUISER
ENTÃO EU ESCUTO
FALA
SE EU NÃO ENTENDER
NÃO VOU RESPONDER
ENTÃO EU ESCUTO
EU SÓ VOU FALAR
NA HORA DE FALAR
ENTÃO EU ESCUTO
FALA
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Sol, please!
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
terça-feira, 8 de setembro de 2009
De volta pra casa!!
Me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
Me vê!
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez...
Lulu Santos
Voltar é um sopro. É a vida em que se mergulha. É buscar os acontecimentos de um passado recentíssimo e se comprazer com ele. Voltar para casa dá uma sensação de alívio. O desconforto de dias em hotel e tropeços da viagem acabam ficando para trás. Agora é seguir em frente porque quando se fica em um congresso é como se o mundo parasse de girar e a gente estivesse frente a frente com todas as verdades. Mentira, o eixo enferrujado da terra continua rodando e nós apenas envelhecemos alguns dias. Voltar, como eu dizia, é benção. A casa, os gatos, o marido, o travesseiro cheiroso... Voltar é renovação.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Espelho
O espelho me reflete
e um louco labirinto
no atrás da imagem:
teus olhos me olham
pequenos
e percebo que são meus
os teus olhos grandes
Tua mão me conhece
e há minha mão a
te desconhecer por completo
no peito estrangulado do silêncio
E um coração olhando esquisito
e é o teu silêncio esquisito
e teu coração estrangulado
que me espreitam
o tempo inteiro
Pelas costas da imagem
no espelho
eu te permito me ser
mas eu é que te sou
Pois de mim nada
consegues ser além de ti.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Tudo em você
Não separa um sim de um não
Um não de um talvez
Terá sua vez
A primeira condição
De um amor viver de ilusão
Querer ser feliz
Sugar na raiz
Tudo em você
Beto Guedes
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Pesadelo
domingo, 30 de agosto de 2009
O mundo é um moinho
Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atençao querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
sábado, 29 de agosto de 2009
Aqueles cavalos brancos
que passavam,
trotando,
pelos silêncios de minha rua.
E como eram alvos,
essencialmente puros.
E eu, solitário cavaleiro,
a descansar meus ouvidos
naquele pleno distanciar de pernas...
Eu saltitando de alegria,
eu sufocando minha agonia,
eu crescendo,
eu perdendo meus segredos,
eu sem saber de nada
nem do mundo,
eu me desconhecendo...
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Caminho das Índias...
Meus alunos
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Incertezas
sábado, 22 de agosto de 2009
Sobre generosidade
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Amanda
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Andrei Tarkoviskj (Solaris)
domingo, 16 de agosto de 2009
O cotidiano
sábado, 15 de agosto de 2009
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Coisas
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Prece II
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Você
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Fuga
Só sei até aqui, pois o “de agora em diante” é um mistério para mim. Talvez também para você. Nossos destinos daqui para frente se desconhecem. Quando o “de agora em diante” tornar-se somente “agora-já”, tudo ficará para trás, nebuloso em nossas memórias. A mente sempre re-arranja as lembranças, não é? Um pouco mais de cor aqui, menos luz lá. E, se julgamos que a essência se conserva, é porque somos muito pretensiosos. Além do mais, as lembranças ficam escondidas, é preciso retirá-las uma a uma, cuidadosamente. Isso requer esforço, determinação. Como o que faço agora, escrevendo enquanto o voo não sai.
Você não percebe, mas no fundo estou tentando esquecer você. Esse é o ato de maior coragem para mim. Sinto-me tão antiga e sábia e louca que poderia simplesmente ser. Vi você comprando um livro que foi embrulhado para presente. William Blake. Horas depois fomos ao correio, você o enviou para alguém que desconheço. Claro, pois se nos conhecemos antes de ontem. É preciso contar três dias.
Foi assim: eu passava na frente daquela galeria e resolvi entrar. Aprecio arte embora às vezes não entenda a proposta de algumas obras. Faço a minha leitura, mesmo de um modo tosco. Sou muito esforçada, você disse. Depois de alguns instantes, fiquei tonta do seu olhar. Aceitei o vinho branco que me deram a beber e me dispersei pela instalação. Alguma coisa se anunciava.
Esquivando-me, querendo ser sombra de mim mesma, senti o seu olhar fazendo curvas e se agachando, espichando até me encontrar. Você é feito de olhar. O jogo começava, porque esse é um jogo da nossa espécie. Se você fosse pavão abriria seu leque de penas. Eu pensava coisas assim, distraída e ao mesmo tempo querendo compreender aqueles traços rascantes. Telas doídas até a raiz. E havia vídeos por todo o salão e labirintos verticais e horizontais, se quiséssemos poderíamos entrar neles, estreitos e escuros. Senti piedade por todos nós e quis chorar um pouco um choro seco para que ninguém visse. Sem esgares, lágrimas, lenços. Tudo é labiríntico caos, entende? Isso eu queria lhe dizer.
Sim, você entendia. Lembro de como você se aproximou e disse no meu ouvido que eu havia sido escolhida para a liberdade. E sua voz era suave. Você cheirava à colônia, entre doce e picante. Fiquei quieta um tempo, depois me virei delicadamente e vi de perto esses olhos capazes de fazer um estrago na vida da gente. A partir dali eu disse sim sim sim. Sem pensar no amanhã, vivendo só o “agora-para-sempre”.
Foi fácil: nós acreditamos nas nossas mentiras, inventadas com tamanha criatividade que pareciam nutrir toda carência, todo o vazio. Disso, não sabíamos, haveria mais vazio e mais. O jogo era assim: você pintor, eu modelo. Você cantor, eu bailarina. Você bandido, eu... De detalhes ninguém precisava. Pois havia aquele fogo, aquele desvario. Como quando li Marguerite Duras, sensual e apaixonada. Eu quis ser um pouco aquela mulher de O Homem Sentado no Corredor. Você leu Duras? Você já sentiu esse fogo que queima tão dentro e tão fundo que a pele se toma de uma absurda quentura quase insuportável?
Um dia eu senti isso. Naquele tempo eu não tinha certeza da dor ou da solidão, essa certeza que hoje está em mim como uma marca. Olho no espelho e vejo. Está lá, quase como uma cicatriz. Mas eu invento que sou como a personagem do livro, explosão de libido. É porque preciso me salvar, entende? Do ruído lá de fora, da fuligem, dos becos imundos. Dos sentidos que rebentam em dor e que nos dilaceram. Então, se interpreto outras de mim vivo mudando de personagem. Você vê? É uma coisa dentro da outra.
Os três dias se foram. Eu tinha certeza que havia um relógio de areia em algum lugar. Seu olhar fugiu do meu. Nem relutamos. Você pegou suas coisas, eu as minhas. Parecia artístico deixar alguém tão dignamente. Assim foi. Apenas vasculhamos nossos corpos de um modo quase desesperado. À procura de quê? O que precisava ser saciado que desconheço? Fingir pode parecer tão verdadeiro e isso me confunde.
O voo vai sair. Atrasos, sorrisos postiços de aeromoças que parecem sempre entediadas. Eu espero apenas pelo vinho tinto servido em copinhos de plástico transparentes. Olho as comissárias de bordo, será que alguma faria o que fiz? Foi porque senti aquela quentura novamente, como os personagens de Duras? Sem telefone, internet, camareiras, campainhas. Isso você pode entender, eu sei. Parei de escrever a alguns minutos, guardei o caderninho azul na bagagem de mão.
Agora eu delineio tudo em pensamento. Que lástima. Há algo que você não vai compreender. Não, não é compulsão ou coisa desse tipo. Eu apenas tomo o que julgo ser meu. Três dias devotados a você, que simplesmente iria embora sem deixar sequer um número de telefone? Então eu penso em mim, enquanto há tempo. Um tempo dentro, e não fora. Pensei muito sobre o que transcorreu. No hotel, na rua, no café... E sei que estou com a razão. Gostaria de ver sua cara de espanto ao abrir aquele pacote quando já estiver em casa.
Fui astuciosa. Não mexi na carteira. Revirei suas coisas no último minuto, quando você desceu para pagar a conta. E deixei tudo como estava, tenho essa habilidade. Vi você guardando as pedras na noite anterior. Contou mais de uma vez. Senti algo ilícito no ar. Não perguntei nada. Apenas agi no momento certo. Sim, sim. Faço isso há tanto tempo que se tornou parte de mim. Se você não tivesse algo valioso eu levaria qualquer outra coisa, entende? É da minha natureza. Eu disse que me chamava Marnie[1], não disse?
Finalmente o vinho tinto. Elas nunca enchem o copinho de plástico. Olho pela janelinha, nuvens. Estou nas nuvens, sim. Quando chegar em casa, tomarei um longo banho de banheira. Meu corpo íntegro novamente. Minha mente leve, sem culpas. Quem disse que você poderia confiar em mim?
Verso-sopro
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Caravela
Um dia ela ligou a televisão ao acaso. Viu Luciano Alabarse. Ele disse: "Essa procura, coisa de geminiano mesmo". Sou aquário, disseram. O ascendente dele era Libra. O dela iam averiguar.
Eles sabiam que sim e que não.
Quando ouviam Caravela, então, eles sabiam tudo. De todas as coisas. Daí sentirem-se pobres e humanos.
Ela aproveitou o último tubo de verde e apertou-o com as mãos pequenas e magras. Os dedos espalharam a cor na parede do quarto de hóspedes. Gostavam de chamar assim aquela sala onde era também escritório e ateliê e um espaço aberto dentro da casa. Uma espécie de natureza roeu o concreto. Um musgo. Um grito. Um aviso. Riram. Não era de chorar, por enquanto.
Faziam um esforço grande. Esforço de gigantes. Para acreditar, aceder, intuir. Alguma coisa batendo forte e dentro que era o mesmo que ouvir Caravela e saber. Vinha a certeza obstinada. Seus olhos enredados em não ver além. E isso é que era perigoso. Disso não suspeitavam. Nem ouvindo Egberto. Nem bebendo brandy. Nem se lambendo. E beijando. Nem quando eram bonitos um ao outro. E ele penteava seus cabelos com os dedos. E ela alisava os dele. Nem lendo Pessoa. Nem assim.
Quando a música acabava eles ouviam o silêncio respirando. Medo? Para quê? Eles só compreendiam melhor que nada pode ser compreendido melhor. E ninguém morria. Tocavam suas bocas cheias de perguntas e vinha o beijo abafando as respostas que ainda não. Um dia, sem dúvida.
Para depois, abrir os livros e reconhecer. Para depois deitarem um sobre o outro. Para depois o depois. Bastava-lhes o amor que, esse sim, não entendiam direito de onde ou porquê. Era mistério e luz. Aquele brilho. Caravela.
Ondas batendo. Rochas.
Tudo sereno, no fundo intocado.