Quando olhou através do espelho, porque foi através mesmo, viu alguém do outro lado, no fundo. Alguém agachado, escondidinho. Quis tocar a superfície para ver se a mão alcançava o outro. Teve medo. Premonição de algo terrível que só os espelhos proporcionam. Lembrou de Borges, Cortázar, Poe. Como é que a imagem dele era aquela e não... a dele? Aquele ser enrodilhado era ele também? O que deveria fazer, aflito, no meio da noite, vendo uma imagem sofrida no espelho? Esperou um pouco, talvez ele levantasse e os dois trocassem um olhar de cumplicidade. Quem sabe o outro era ele mesmo e se descurvasse a qualquer momento. Ouviu um gemido, como o de uma criança chorando. Finalmente tocou a superfície gelada do espelho e esperou. Nada aconteceu. Apenas viu que o outro soluçava. Fechou os olhos por alguns segundos. Ao abrir, viu-se no espelho, normalmente. A criatura "por trás do fundo do espelho" sumira. Ele agora podia lavar o rosto descansado.
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4 comentários:
Nunca pensei 'na superfície gelada do espelho'. E agora me vem a imagem. E nunca é real o que vemos.
Sempre que me olho em um espelho por muito tempo, acabo me desconhecendo.
Beijos, Biba.
Sim, Letícia, nunca é real o que vemos. E no cotidiano, também...
Beijo e afeto
Carpe Diem!!
que forte e que bonito, te achei passeando por entre blogs e adoro essas boas surpresas!
beijo
Nádia, volte sempre que quiser.
Beijos,
Carpe Diem!!
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