quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Primavera

Muitas coisas estão acontecendo. Tenho vindo pouco aqui, eu sei. Mas, sempre lembro que esse é meu lindo espaço de troca e alegria. Nas últimas semanas, crise de alergia devido às mudanças de clima, aos ácaros e pólens. Sim, sou alérgica. Fica tudo complicado nessas horas. Respirar, principalmente. Então, recebi um vídeo do meu amigo Giba para instigar meu sistema imunológico. Divido com vocês.


http://www.youtube.com/watch?v=qX-_m1u53Kc

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Loucos de Cara

Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada

Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas

Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro

É sinal que valeu!
Pega carona no carro que vem
Se ele não vem, não importa
Fica na tua

(Vitor Ramil)

domingo, 19 de setembro de 2010

Angel

I sit and wait
There's an angel contemplate my fate
And do they know
The places where we go
When we're gray and old
'Cause I've been told
That salvation lets their wings unfold
So when I'm lying in my bed
Thoughts running through my head
And I feel the love is dead
I'm loving angels instead

(Robbie Williams)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Demoro, mas sempre volto. Por aqui tivemos um Congresso, o Intercom, que tomou bastante tempo. Mas hoje, deu pra ouvir meu Chico Buarque e pensar nas aulas da semana. Também, fiz muito carinho nos meus gatos e pensei em coisas como: diversão e arte. Vontade louca de escrever um conto, como eu fazia tempos atrás. As ideias aparecem mas logo somem. Pura vaguidade. Dia desses ele nasce. Dias desses nasço com ele.

sábado, 28 de agosto de 2010

Escolha

Decidimos juntos que o sábado vai ser para fazer nada. Assim, ocultar-se dos problemas banais e vivenciar um pouco mais de alívio e alegria, esse é o desafio. O sábado foi eleito porque no domingo já estamos entrando novamente no ritmo. Pensamos na segunda e sabemos: há algo a fazer a respeito disso ou daquilo. No sábado é possível vislumbrar um domingo de sol, um almoço mais gostoso, uma felicidade fugidia. Sábado é assim um dia interessante de se ouvir. Ele fala mil línguas e as vozes desembocam solenes em nossos ouvidos: um filme chinês, coreano, japonês, iraniano., espanhol... Sim, porque sábado também foi escolhido para se assistir um belo filme, desses que nos marcam, incitam, mexem com os sentidos. Como dizia o poetinha Vinícius: "porque hoje é sábado"...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Livros me circundam. Palavras para se transcender o óbvio. Me envolvo. Aceito. Luto. Discordo. Tudo se dá de um modo novo, prisma de mil cores. Filmes me conquistam. Os argentinos, em especial os de Campanella. Riso, tragédia e toda sorte de alegrias fluidas. "O Filho da Noiva" vale uma taça de vinho tinto para brindar depois. Tudo o que me cerca acende uma luz em mim. Dessas que ofuscam e se bastam. Não aquelas que piscam. Tudo é comovente, até meu silêncio dolorido.

domingo, 22 de agosto de 2010

O retorno

Voltei de caminhos insabidos. Das redondezas de estranhos lugares. Do coração das coisas. Vividas ou não. Voltei e prometo ficar. Ficar para falar da alma resplandescendo e do amor renascido a cada dia. Não pretendo muitas coisas além de escrever o que sinto. Ver a lógica de tudo desmoronar também fez parte desse afastamento voluntário, mas que pareceu exílio. Volto de profundezas, dentro e fora de mim. Sabe o poço do Caio Fernando Abreu? É mais ou menos isso. Mas se morrer não dói, viver às vezes machuca. Nada que o tempo não possa reverter. Nada que não possamos "des-imaginar".
Carpe Diem!!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Alguns dias fora. Depois eu volto, tá?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Água

"Quero minha mãe, quero colo, quero àgua". A menina falava assim, rápido, quase em desespero. Foi engraçado ouvir essa história porque pensei que muitas vezes eu queria ter falado isso mas não sabia como. As crianças tem seu código secreto. E a gente tenta decifrar. Vai para além dos sonhos descabidos. Vai para além da inocência intocada. Só sei que a frase ficou marcada. Queremos mesmo essas coisas em momentos de frustração ou desesperança. No momento, cheia de uma alegria invasiva, quero colo não, nem mãe, só água. Dá um copo?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Espelhos

Rápido. Intenso. Cheio de um frescor que eu já desconhecia. Assim pode ser um dia na semana, planejado para dar certo. Por ser em julho, talvez. Por estar frio, quem sabe. Um croasonho recheado de morango. Um expresso. Um encontro entre amigas que marcaram várias vezes "a hora, o local e a razão". Mas nunca fechava. Sempre um impedimento ou outro. Mas há sempre um dia destinado ao encontro. Cinema pra lá, cinema pra cá. Ela com os closes. Eu com os espelhos. Tudo porque revi Dragão Vermelho, com Edward Norton e Ralph Finnes. Esqueci de Anthony Hopkins?! Claro que não. Ele é the one. E havia os espelhos quebrados do "Fada dos Dentes", na verdade Mr. D. E havia medo e a sedução do terror. Então, ontem, para fechar o dia, voltei para casa com um vento-lâmina a dissecar meu rosto. Cheguei em casa e coloquei o DVD que havia pego antes do café com a amiga. Fome de Viver, com Catherine, Sarandon e Bowie. Anos 80, cabelos, roupas. Mas a história não tem idade. Um filme que era para ser revisto há anos e que só agora reencontrei. Um sorriso maroto quando Sarah (Susan) abre o armário do banheiro. Fecha e vê o rosto de Mirian (Deneuve). Os espelhos entraram definitivamente na minha inserção pelo mundo do cinema. Não olhe agora!

sábado, 3 de julho de 2010

Ouvindo Vitor Ramil penso em Maradona a consolar seus jogadores. Ouvindo "Loucos de Cara" lembro das ruas de Porto Alegre. Tudo pode ser simples assim, como um pensamento voador. Nada de alicerces somente aura. Por tudo escolho a música, o cinema, a harmonia das coisas que a vida oferece e das coisas criadas pelo homem. O trabalho espera sobre a mesa. Dou-me alguns momentos de entretenimento para sobreviver porque "só trabalho sem diversão," você já sabe...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Camille Claudell

Ontem foi dia de "Pensar Cinema". O filme: Camille Claudell. Encolhida na cadeira revi cenas impactantes de uma relação doentia entre Rodin e a escultora. Paixão e loucura. No debate o olhar da Psicologia é o de que Camille ficou "demenciada". Uma mulher à frente de seu tempo, artista lúcida de seu fazer, mãe interrompida por um aborto concedido, abandonada por seu grande amor e pela família, deprimida por essa situação. Quem não ficaria? O demente não é sujeito de si mesmo. A pobre Camille tinha noção de sua dor. Já li as cartas dela para seu irmão. Não há delírio algum em se querer sair de um sanatório e retomar a vida. Porque era mais fácil resolver os problemas dessa forma, alienando as pessoas com crueldade, não significa que fossem dementes. Mas, não protestei. Apenas pensei que é ainda um tabu conviver com a loucura. Triste o fim de Camille, 30 anos em um sanatório. Sem poder tocar a argila preciosa ou mármore de seus encantos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Saramago

No meu apartamento penso em Saramago. Na fala de um aluno sobre a lucidez do escritor. Nas coisas ditas pelo jornal do Vaticano que tentam denegrir a imagem de um homem que acreditava nas palavras. Queria saber dizer coisas como ele. Sei apenas o básico: me comunicar. Parece-me o suficiente. Na cidade de Caxias, não há muito mais do que o suficiente. Tentei lembrar de uma frase de Castanheda sobre loucura e lucidez, mas foi a tantos anos que a li. A memória falha se não anotamos os pensamentos, nossos e de outros. Mas vamos lá! No meu apartamento tem lugar para os livros dele, para sempre.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Lotação

Eu ando de lotação. É melhor que ônibus? Sei não, mas tem ar condicionado. O problema é o rádio. As coisas ditas e as que ouvimos musicalmente são um desastre. Ontem ouvi uma que era de sair correndo. Não faço ideia dos autores/cantores, mas era brega-sertaneja, sabe, assim? Daquelas de dor de cotovelo cercada de obviedades e clichês. Queria descer ali mesmo quando entendi do que falavam: um amor proibido. Mas, tentei não ouvir. E, fazendo isso, descobri que a gente pode se focar em outras coisas quando algo assim acontece. Centrei meu coração e mente em literatura, cinema, poesia. Lembrei versos, cenas de filmes e quase cantei algo para mim mesma! Quando vi, a tal música horrorosa tinha acabado e outra estava começando. Porém, euhavia mudado de estação, e foi bom me testar assim. Respirar/Expirar/Inspirar... Viver.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Hoje

"...irmão das coisas fugidias..." Assim tenho sentido. Assim tenho caminhado por uma estrada tantas vezes estreita demais. E, as coisas fugidias, como o tempo, embalam minha caminhada. Sempre vou querer mais do que o dito. Sempre vou procurar papoulas por aí. Olhar o trem que não vem, só em meus sonhos. Estar sentada no lado da janela e ver a paisagem correr. Sentir o cheiro de jasmim mesmo sendo outono. Sentir o frio cortando a face e desejar boa sorte para quem. Hoje estou faminta de palavras que possam desatormentar o dia brilhante de sol e coragem. As coisas fugidias me encantam. Suspiro por elas, quando no fundo perco a direção se não tenho coisas certas. Digo, palpáveis. Como se agarrar-se a elas nos desse um pouco mais de fôlego para a vida. É assim que outro dia me peguei cantando: "Navegar é preciso. Viver não é preciso"...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Walk on - U2

Você tem que deixar para trás:

Tudo o que você produz
Tudo o que você faz
Tudo o que você constrói
Tudo o que você quebra
Tudo o que você mede
Tudo o que você sente
Tudo isso você pode deixar para trás
Tudo o que você raciocina, é apenas tempo
E eu nunca estarei acima do que procuro
Tudo o que você percebe
Tudo o que você conspira
Tudo que você veste
Tudo o que você vê
Tudo que você cria
Tudo o que você destrói
Tudo o que você odeia

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dúvidas

Eu ando atrás de um tema fabuloso para meu doutorado. Queria trabalhar Lars von Trier, mas ele é super depressivo... Bate um medão e ao mesmo tempo um quê de desafio. Lidar com a angústia sem entrar nela. Os colegas me dão ideias sempre amenas. Meu analista também. Mas as coisas que mexem com o meu imaginário são densas, polpudas, tensas. Ando às voltas com as ideias. Não consigo pensar em outra coisa a não ser que tenho que ter um arrebatamento tal que uma ideia se solidifique em tese. Dúvidas. Para uma geminiana, normal. Vamos ver no que dá tudo isso.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Homenagem

Um raio de sol pode vir de onde menos se espera. Essa luz para nos abastecer de alegria. Foi o que aconteceu hoje: a turma de formandos de Jornalismo 2010 me escolheu como Professora Homenageada. É como se o sol brilhasse mesmo que o cinza lá fora insista em continuar. Obrigada!

sábado, 22 de maio de 2010

Um raio de sol. Qualquer luz é bem vinda.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Desabafo II

Ando tão do avesso que começo a cuspir fogo! Ontem foi assim. Bastou uma palavra mal colocada, aquela expressão de vadiagem e eu me indispus. As criaturas estão fora de propósito. Não há mais lugar para boa educação, nem mesmo um pingo, como se dizia antigamente. Encerro a semana com o pensamento atiçado. Quero mais do que me dão. Acho tudo muito pouco. E, se não sabem aproveitar tudo o que tenho para ensinar, continuem com seus fones de ouvido, com as figurinhas da copa e as besteiras de sempre. Tudo em 3D, de preferência.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Desabafo

Eu não tomo jeito mesmo. Fiz duas provas essa semana, estruturei tudo para seres pensantes, porque respeito os acadêmicos e creio que eles têm o dever de raciocinar sobre as questões. Fazer links, encontrar soluções, quebrar a cabeça, que seja. Ouvi reclamações. Ouvi e fiquei chocada. Sim, ainda fico chocada. Não devo ser desse planeta. Ou estou no tempo errado. Ninguém mais quer pensar. Parece que os neurônios estão emperrados. É muita mídia na cabeça, muito reality show, muita abobrinha! Mas não abro mão do meu papel de educadora. Se estão em uma universidade é porque querem conhecimento, saber e não distração. Desculpem, não vou colocar nariz de palhaço e fazer piruetas. Teoria é teoria, não tem meio termo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A palavra é:................................

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sonho

Eu nem sabia que ainda sonhava com alguma coisa que não fosse objeto do meu inconsciente. Sonhar acordada, quero dizer. Pois, agora que o curso de Cinema está no UCS Virtual, cartazes sendo confeccionados e as entrevistas começam, vejo que eu sonhava sim. Um desses sonhos de realizar. De fazer algo acontecer. Em agosto, sentirei o gosto mais precioso de todos, o da descoberta. Pois cada módulo, cada disciplina, cada professor, cada aluno serão o sentido desse sonho e a certeza de que ainda vale a pena ser teimosa e exigente.

sábado, 8 de maio de 2010

Significação Fílmica e Fazer Cinematográfico

Cinéfilos de plantão, já está no ar, no site da UCS,
o material referente à Especialização em Cinema.

O endereço é o seguinte:

http://www.ucs.br/ucs/posgraduacao/latosensu/caxiasdosul/cinema/apresentacao

terça-feira, 4 de maio de 2010

Movimentos em slow-motion. Sorriso se abrindo vago. Câmeras escondidas? O olhar se turva. De dentro um feroz animal uiva seu grito de dor absurdamente oculto. Ninguém vê. Ouve. Fala.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Eu sonhei que não achava mais a porta da minha casa. Tentava em vão, com um chave pequena, abrir portas que poderiam ser a minha. Policiais chegavam e me vigiavam até eu descobrir que minha chave não abria nenhuma das portas...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Riso solto

Tem dia de chorar escondido, mas tem dia de rir adoidado. A vida é assim. Altos e baixos, uma ciranda. A vida, tão instigante, bela e enigmática. Daí que fazemos mil coisas (coisas coisas coisas) e de repente... um buraco, dentro, não se sabe bem onde. É preciso cuidar desse dentro, com o carinho abismal dos que entendem que "a vida não é só isso que se vê, é um pouco mais". Hoje, por conta de coisas boas, estou rolando de rir e o buraco se fecha em sua quietude. Vamos aproveitar o dia. É sexta e amanhã temos feriado. Vamos rir adoidados em ritmo de criança descompromissada. Isso faz um bem!!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pós em Cinema do CECC

A Especialização em Cinema do Centro de Ciências da Comunicação da Universidade de Caxias do Sul sai mesmo em agosto. Estão confirmados os professores e o primeiro palestrante, que faz a abertura do curso é Giba Assis Brasil, da Casa de Cinema de Porto Alegre. O corpo docente traz os seguintes nomes:

Drª Ana Mery Sehbe de Carli (UCS/Campus 8)

Ms. André Costantin (Cineasta)

Dr. Carlos Gerbase (PUC/RS)

Ms. Eulália Isabel S. dos S. Coelho (UCS)

Dr. Fernando Mascarello (Unisinos)

Ms. Henriette Cará (UCS/Campus 8)

Ms. Ivana Almeida da Silva (UCS)

Dr. José Reckziegel (Unisinos/UCS)

Ms. Marliva Vanti Gonçalves (UCS)

Ms. Myra Gonçalves (UFRGS/UCS)

Ms. Nivaldo Pereira (Roteirista)

Logo, logo dou mais detalhes. Os interessados podem enviar e-mail para mim!

eulalia_isabel@uol.com.br

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Marília


Queria brincar de amarelinha. Correr sem rumo, se perder por aí. Fingia ser criança quando estava crescida, como a Alice do Tim Burton. Gostou do filme e do sorriso do gato. Do Chapeleiro Maluco e das Rainhas Branca e Vermelha. Mas queria cair em um buraco também e descobrir esse mundo paralelo. Nessa idade, as coisas ainda se misturam um pouco: o infantil com o adulto. Menina que quer crescer, mulher desejando a infância. Marília correu os olhos pelo cartaz e imaginou-o no seu quarto. Depois, olhou demoradamente para Jonhny Deep. Cuidou de colocar cada fio de cabelo no lugar antes de sair do saguão do cinema. Agora uma livraria. Marília gosta dos produtos culturais ligados aos filmes que vê. Vai comprar o livro que traz as fotos das filmagens. Vai comprar outros livros referentes ao tema. É como se fosse fazer uma tese! Mas ela só quer entender um pouco mais as coisas. Anda por entre prateleiras e corre os olhos pelos livros de capa dura, seus preferidos. Os mais caros também. Porém, hoje ela está disposta a gastar. Recebeu mesada, ainda não trabalha, só estuda. De seus olhos argutos ela vê o mundo com cores reticentes quando queria tudo em cores quentes, como nos filmes de Almodóvar. Marília adora cinema que para ela é uma extensão da existência, só que mais bonito e audacioso.
Agora vai tomar um sorvete de creme enquanto olha os livros que comprou. Um rapaz ao lado espia os livros esparramados pela mesa. Marília não vê. Não sabe que já desperta curiosidade. Não sabe que ele vai levantar em cinco minutos e sentar ao lado dela para falar sobre o filme. Não sabe que ele será o seu primeiro amor.

sábado, 24 de abril de 2010

Tempo interior

O tempo interfere, difere, profere. Estamos sempre falando nele. Entramos como Alice em um buraco. Dentro dele o tempo invasivo, senhor de todas as coisas. Criação humana! Dependemos dele, nos pautamos por ele. No entanto, insisto que existe um tempo interior e este sim, deveria ser ouvido. É o tempo de cada um. Sou mais lenta ou atilada, depende do meu tempo interior. Por vezes levo tempo demais para entender meu próprio tempo. O importante é estarmos abertos às possibilidades que ele nos oferece. Meu tributo a ele. Minha quase devoção. Meu tempo dentro é o que vale o "perigo dos próximos momentos".

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Escrevo para quem. E isso basta. Encontro um ângulo de onde posso perceber as coisas de um modo diferente. Já experimentou isso? Estou em pleno gozo de minha descoberta. Olho as coisas e o que vejo vai além. Penso em parar mas a sensação é prazerosa, então me delicio vendo o mundo nesse novo formato. Tudo por causa de um ângulo diferente! Escrevo para quem? Meus cem seguidores virtuais e isso é bonito, mas escrevo acima de tudo para quem tem um coração e me lê às vésperas da meia-noite. Ou quem sabe depois do almoço ou no jejum da manhã iluminada? O que importa são esses corações que batem e pulsam e me embalam. Juntos, eles dizem, vamos!! Então, eu sigo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um anjo ao longe

Você escreveu e isso mudou tudo em mim. Meu exílio a demorar dias sem conta, torna-se resguardo apenas. Você me fez olhar para qualquer coisa que chamamos: amizade. Virtual, real, em 3D, pouco importa. Quando alguém diz eu te entendo. E, mais que isso: "Eu entendo teu silêncio", não há mais como esconder-se porque fomos encontrados. Ali, encostadinhos em um canto. Braços abraçando as pernas. Olhos mareados. Mas você vem e diz isso, me faz pensar que meu silêncio causa mais dor do que se eu tentar falar. Meu silêncio me liquida mortalmente. Sou um ser de palavras. Sempre fui. Da tagarelice infantil ao tablado dos adultos, sempre representando papéis. Como todos. Sim, como todos. Suspiro. Penso que você pode ser meu anjo querido. Longe, resguardado dos embates mais terríveis. Mas lindo e cheio de paz. Tanto que consegue me tirar dessa lacuna de tempo em que me meti em silêncio perscrutador. Obrigada, Letícia.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A manhã se dissolve. Um livro. Àgua. Tolerância. Meus filmes preferidos. Tudo se elenca porque hoje é quinta e amanhã, bem, amanhã ninguém sabe, diria Drummond. Hoje, então, cinzas de um vulcão sobrevoam a Europa, enquanto por aqui outras cinzas se dissipam. Aquelas das horas, de que fala Adriana Calcanhotto. E vamos respondendo ao tempo que não temos tempo, porém seguimos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Vontade de coisa alguma.
Porque o tempo anda tão corrido que a gente precisa
se dar um espaço de não-fazer nada.
Abraço o sol da manhã e bendigo as coisas boas da vida.
Mas por hoje, vou fazer coisa alguma. Está decidido.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dia de começar.
Dia esquisito.
É apenas segunda-feira e não encontro muito o que dizer...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um nome

Guardo comigo teu nome escrito numa folhinha de papel. Letra infantil. Lápis colorido. O que é que a gente faz com lembranças que contaminam uma simples caixa de papelão? E que doem um pouco, porque foram boas demais? Você, que guardo no meu coração, já não escreve com canetinhas ou lápis de cor, giz de cêra, essas coisas. Cresceu, casou, mudou de cidade. Nunca mais nos vimos e eu nem sei se você quer lembrar de mim. Mas, sabe, madrinha é coisa pra vida inteira, como pai e mãe, embora queiramos muitas vezes dispensá-los. Eu deixo você me dispensar porque acredito nos direitos humanos. Esse é um deles. Agora vou fechar a caixa griz e permitir a cor do seu nome lá dentro de volta. Deixa lá. Deixa ficar. Também esse é meu direito muito humano.

domingo, 4 de abril de 2010

Aura de magnólia

Coça a nuca, repôe os óculos. Recompõe-se. Segunda-feira. Terça, quarta... os dias se misturam porque há um vazio no tempo que ele não consegue captar. Sua maior ousadia é ser. Ela vai embora. Nele fica uma aura de magnólia, coisa dela. Talvez ela não o visite mais por conta dos lapsos de memória dele. Nunca terá certeza. Mas ele pensa coisas como: "Se a terra se abrisse sob meus pés e eu pudesse me enterrar para que ela não me visse mais eu estaria a salvo de mim mesmo". Dizem que ele enlouqueceu. Não foi na guerra. Não foi na paz. Ele apenas esqueceu como são os dias, quais são ou porquê. Depois foi que ouviu ordens estranhas que obedeceu por ser sempre aquele que fazia tudo certo. Depois ainda, lhe disseram que as vozes estavam erradas e então ele deixou de entender o mundo. Coça a nuca como de costume, enquanto vê que ela se foi. Desta vez para sempre.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Agora penso em Borges e seu poema sobre Cristo na cruz.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Hoje, um certo silêncio de vozes que descansam.

sábado, 27 de março de 2010

Para aqueles que crêem: amém. Para o que duvidam: procura. Para os que não acham: bater à porta. Abrir as janelas para que entrem. Sonhos, vida, emoção. A semana foi corrida para todos e o final de semana é uma janelinha nesse universo do trabalho e da ação. Quero mesmo é comer pipoca. Rever um filme francês. Sonhar com o impossível e sentir o sabor das probabilidades. Para aqueles que amam: ternura. Para os que buscam o amor: vontade. Para quem está de bem com a vida: meu abraço!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Pablo Neruda

A pessoa certa é a que está ao seu lado nos momentos incertos.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Desaparecer

Mas eu podia pensar em alguma coisa para dizer. Só por dizer, que fosse. Mas minha garganta travou, língua paralisada. E eu a ouvir Chico e Caetano Juntos. Ela me olhou com um olhar de ódio jamais visto por mim. Ela sabia sentir aquilo. Seus olhos eram ferrão. Eu, mel escorrendo. Mas a abelha rainha não se dava por satisfeita, queria me dissecar com seu ódio. Coisa imunda, pensei. Odiar assim. Mas essa era ela, a mulher que havia algum tempo compartilhava horas de amor comigo. Imaginei como a vida é incerta. Como somos tolhidos ou levados à frente. Como percebemos que ainda não sabemos o que somos, o que queremos. E, apenas quando alguém nos olha com essa intensidade azeda e arredia, nos confundimos e já não sabemos se é hora. Se é hora de dizer adeus, de tentar reconciliar, de simplesmente desaparecer. Gosto muito dessa palavra em inglês, disappear. É isso que sinto afinal nesse momento em que ela insiste em me olhar, reprovadora. Porém, vou dizer uma coisa: não falarei nada. Língua presa, garganta seca. Que ela se vá e não eu, que sou todo amor e discrição. Que ela pegue a mala mal feita e se retire enfim. Já não há o que dizer há algum tempo. A gente é que prorroga tudo. Enquanto a vejo sair pela porta da frente, Chico e Caetano cantam algo assim que "quando chego em casa, nada me consola". Sim, ela também estava sempre aflita, mas sem lágrimas nos olhos de cortar cebola. Ela não era dada a afazeres culinários. Agora que a porta se fecha num impulso brutal, percebo que o ar está menos denso, tudo de repente torna-se leveza e fico ouvindo a música e pensando na ironia que ela traz para mim nesse instante. Nunca entenderei como se odeia ou porquê. A mim bastam poucas coisas, como uvas, mel e casa arrumada.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Adélia Prado


Corridinho


O amor quer abraçar e não pode.

A multidão em volta,

com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muro

para o amor desistir.

O amor usa o correio,

o correio trapaceia,

a carta não chega,

o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,

desembarca do trem,

chega na porta cansado

de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,

pede água, bebe café,

dorme na sua presença,

chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:

é descuidar, o amor te pega,

te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

domingo, 14 de março de 2010

Os sapatos de Van Gogh


Lembrava os sapatos de Van Gogh. Havia sonhado com eles, assim como era recorrente sonhar com outros sapatos, os de sua infância. Mas havia só um pé e não o par. Intrigava-o a unidade. Uma vez ela lhe falara que sonhar com sapatos tinha a ver com a morte. Calçar os sapatos no sonho era uma premonição. Nunca calçava. Mas estavam sempre por lá. Caídos, arrumados, tortos, novos... Sapatos, enfim. Deu de se perguntar pelo outro pé. Quando criança costumava guardar os sapatos em suas respectivas caixas. Mania que a mãe aderiu. Era mais seguro deixá-los assim. Mais higiênico, mais bonito. Cada vez que abria uma caixa era como a surpresa do sapato novo. Mas essa noite, os sapatos de Van Gogh e isso lhe deixava curioso. Eram os mesmos, estavam lá, mas não pintados. Realmente estavam lá. Podia sentir-lhes a textura. Como é bom sentir texturas em sonho. Já experimentou? Perguntaria a ela mais tarde. Mas, não. Ela só sonhava em preto e branco. Era daltônica. Não sentia cheiros nem sabores. Isso fora dos sonhos também. Ele olhou para ela um instante, sorriu. Da próxima vez, disse, quero calçar os sapatos de Van Gogh mesmo que meu pés sejam grandes demais para eles. Ela riu e afagou o cabelo dele. Não havia, pensava ela, meio de se calçar a arte.

sábado, 13 de março de 2010

Cícero

Cìcero o livro folheou. Sentiu as rimas e o espaldar da poesia. Sorriu tímido, de uma timidez inventada há anos. Era mais para cativar as pessoas. Cícero leu em voz alta. E era bela sua voz, mais que o poema. Naquele instante, entende? O poema ficou menor porque a voz de Cícero era intensa e grave. Feito locutor de rádio. Cícero o livro tornou a folhear. Escolheu novo poema e descobriu-se nele. Isso é que era o bom da poesia, a gente encontrar-se nela. Cícero escrevia seus versos de insônia. Madrugadas esquecidas pelo Lexotan. Agora só pontua versos à luz do sol e quando chove fica mais inspirado. Olha o livro mais uma vez e sabe que podia ser qualquer poeta, mas é Cora Coralina. Então, desfaz os nós dos cadarços. Tira o tênis, retira as meias e caminha pelo tapete colorido. Se um dia tiver uma filha, resolve que se chamará Cora Coralina. Porque é nome diferente, de poetisa. Enfeita o olhar com uma premonição vaga do futuro: ele e sua Cora lendo poesia no jardim que ainda não existe. Gosta da ideia. Gosta de imaginar. É dado a devaneios. Cícero caminha e respira fundo enquanto ouve música de feng shui. Toca o tapete de leve, quase como se dançasse. Amanhã terá visita e poderá ler seus poemas. Ela se chama Vitória e ele pensa nela como conquista.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Distração

Me veio. Foi assim, cautelosamente. Não era ideia de se ter no repente. Depois, ficou tudo nublado no meu cérebro e foi aí que caí. De posse de uma ideia, caí. Fiquei atormentada porque me veio e se foi na brusquidão da queda. Alguém me socorreu e agradeci depois de acordar. Um susto apenas, disse-me o desconhecido. Levantei com vagar: a ideia tinha sumido! A tontura repentina a fizera fugir, como quando sonhamos e perdemos o conteúdo do sonho num acordar abrupto. Fiquei eu parada na esquina, vexada porque as pessoas olham para a gente quando a gente cai como se fosse uma coisa do outro mundo. Sabia que me olhavam. Fiquei parada na birra de querer achar ali mesmo a ideia tão valiosa. Sumiu, caiu, perdeu-se... Recolhi a dignidade e fui andando sem pressa. Tem vezes que tombo assim, do nada. Talvez eu devesse procurar um médico. Talvez eu devesse apenas saber quando vou cair. Não há anúncio. É uma tontura e já estou no chão. Meu cachorro fica me lambendo nessas horas, ele que está sempre comigo porque é difícil para mim atravessar ruas, principalmente. A cegueira veio cedo e não me queixo. O que desgosto é esquecer ideias. E, isso tem sido frequente. Mas não esqueço das lembranças, dos cheiros, dos sabores. Vou tateando com meu cachorro pelas ruas do centro até encontrar o espaço ideal para sentar e tomar sol. Quando voltamos para casa, algumas quadras daqui, sinto-me renovada. Por certo terei nova ideia... O que faço com elas? Coleciono. É preciso se ter uma distração nessa vida.

terça-feira, 9 de março de 2010

Ovelhas

Era para ser de pura lã, como as ovelhas. Sentiu que seus primeiros passos eram tortos e desajeitados. Pensava nas lãs e no resto. Bebeu o que mais não pode. Por isso o andar impreciso e a obsessão nas ovelhas. É que poderia jurar que as vira ali no pasto. Miragem. Não havia mais nada naquele lugar atravancado de lembranças. Parou por um instante e sentiu a primeira vertigem. Descansou. Olhou com os olhos encavados pela bebida e o excesso. Minguou nos próximos passos até cair desfalecido. Ninguém ao redor. Ficou ali, sabe-se lá o quê. Simplesmente tombado. Quando acordar vai ver o campo deserto e o cavalo encilhado. Nenhuma ovelha. Nenhuma tapera mais. Quando levantar vai sentir de novo o peso do corpo macilento. Vai querer água abundante e se jogará no córrego. Talvez morra afogado, talvez finalmente desperte.

domingo, 7 de março de 2010

Os dois

Alisa os meus cabelos e ri. Riso frouxo de criança levada. Brinca de enrodilhar os cachos entre os dedos. Porque meu cabelo é assim, cacheado. Minhas unhas vermelhas e ele a pedir um beijo. Beijo não se pede, já expliquei. Porém, apesar do riso largado, ele é tímido ainda. É que sou mulher madura e ele me desconhece por inteiro. A menina do outro lado da rua também sorri. Gosta de ver quando nos beijamos em silêncio de suspiros. São irmãos. Um dia olhei nos olhos fundos dela. Parecia uma gata. Ficou me fitando, assim marcadamente. Você já olhou assim para alguém? Entra na alma do outro e é perigoso. Como um rosnar de bicho acuado. Talvez eu me interesse mais por olhar a menina porque ela está em formação. Ele já é homem, está feito. Mas se nunca estamos prontos!! Para mim ele está. Não quero que mude nada. Que cuide de mim assim, tentando alisar meus cachos e me abrace apertado e me deixe uma folga porque não quero sufocar. Ontem olhamos o luar como dois adolescentes. Quietos. Fixos na lua sem nome. Amanhã vamos passear no Jardim Botânico. Faço umas coisas assim para contentá-lo porque ele é naturalista. Faço o que posso por esse relacionamento, mais não dá. E, enquanto o verão definha, espero as águas de março para partir. Sempre deixo alguém para trás. É como um desatino. Meu corpo se impele ao futuro, ao devir. Então, tomo o primeiro avião para algum lugar distante e deixo lágrimas nos olhos de alguém. Não faço por maldade. É por sobrevivência.

sábado, 6 de março de 2010

Encontro

As revistas desarrumadas. Ele olhou e leu as manchetes pela metade. Não estava interessado em ler. Havia uma tristeza, uma angústia. Precisava livrar-se disso e logo aquela porta se abriria e a terapeuta iria sorrir e mandá-lo entrar. Mas havia algo no ar. Quando deu por si estava conversando para dentro. Falando com Deus, assim em pensamento. Como a gente costuma falar outras coisas com a gente mesmo. Só que naquele instante, enquanto a música enlevava o lugar, ele sentiu o que disse ser a presença de Deus, então chorou mansamente. Pedia força, luz, alegria. Pedia como quem pede um pedaço de pão com manteiga. Tinha o rosto marcado pelo tempo. O corpo franzino e a boca pequena estava trêmula. Rogou um instante de paz. Quis abraçar aquele momento e torná-lo palpável. Sua prece, ou seja lá o que for, deixou-o aliviado. Tanto que quando ela abriu a porta com seu sorriso suave, ele tinha outro semblante. Lá dentro ela diria: "Você melhorou muito". Mais tarde ele ligaria o fato àquele momento diferenciado em que quis se aproximar daquilo que chamamos Deus.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Única

Ela vai tendo ganas da vida. Queria um chocolate quente porque esfriou um pouco e dá aquele prazer outonal em pleno verão. Ela deixaria tudo por quem cometer loucuras, mas é dada ao esquecimento. Não levaria muito tempo e as coisas voltariam a ser como antes: um tanto ríspidas, um tanto sem cor. Ela passa as mãos pelos quadris um pouco largos e as recolhe ao peito, sob a seda. Basta olhar essa mulher na frente da vitrine para saber que é sozinha e feita para se lembrar dela. Porque mansa e lenta, carrega geneticamente uma carga, a de ser única. Ela não teve com quem dividir seus brinquedos, por isso olha atentamente para o mostruário da loja. Vai comprar mais uma boneca. Dessas de pano. São as que coleciona. Gosta do toque no tecido delas. Das florezinhas riscadas. Do aroma que exalam. E, nessas ganas da vida, ela queria um companheiro sim, contudo é tarde. Ela experimenta a sensação de que perdeu sua chance. Para ela havia uma só. O noivo que morreu há décadas. Fiel a ele, ainda usa a aliança. Fiel a ele, nunca mais outro homem. Fiel a ele, solidão. A boneca de pano é macia, usa tranças e um chapeuzinho. Vai levar, já está pagando no caixa. Em sua casa, as outras bonecas conversam entre si, distraídas...

terça-feira, 2 de março de 2010

A pedra, Drummond

Coragem é preciso sempre. Todo dia é um recomeço. Sempre há uma pedra no meio do caminho, Drummond, eu sempre me deparo com elas. Às vezes faço a pedra rolar com certa facilidade. Noutras, o pedregulho quase me impede de ver o que há pela frente. Pedra é pedra, você sabe. Vai lá com um martelinho e fica batendo pra ver se desmancha. Nunca de never. Fico então, tentando pular, passar de lado, empurrar... O melhor mesmo era implodir a danada. Mas tem vezes que o estrago ainda é maior. Coragem, dizemos. Vamos em frente, com ou sem obstáculo, Drummond. Invento modos de suportar o desalinho da existência. Eu que sou obssessiva. Cuido para que tudo esteja no lugar. Só a pedra não tem lugar determinado. Isso me deixa louca. Daí recomeço o dia fazendo minhas contas de quanto tempo vou levar para desalojar a pedra no meio do caminho...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Aceitação

Ando tão tonta de mim mesma que é quase um esgar de sentimentos. Procuro o inviolável e me vem fragmentos. Tudo já foi tocado, arrebatado, discutido. Ando às pressas quando meu vagar é que me move. Vagar também às pressas? Paradoxo. Reúno forças para enfrentar o dia, que será de trabalho sem diversão. Cubro os olhos com as mãos espalmadas para não ver o clarão dos raios. Não chove, só prenuncia. Ando tão afastada dos outros que tenho medo de chegar perto e ser mordida. Convulsiona-me a ideia. Os outros são tão fortes e eu... No meu vagar por aí, paraíso. No meu instante-decisivo, luz de flash que contamina. Sou ilustre desconhecida daqueles a quem vou ensinar. Sou apenas uma mulher em busca de albumina. Todos os sonhos são díspares. Os pés escolhem o chão, mas alma, essa quer o espaço luminoso. Andar tonta de si é como arremessar-se no interior da coisa. É como riscar os fósforos e fugir. Ando assim, alheia. Busco o meu feitiço para encarar tua frase. Faço-me fada madrinha e aceito. Vamos ludibriar o tempo e requisitar as horas perdidas, quando não se faz nada porque estar tonteando pela vida parece a única saída. Deixo os barcos no cais e agora sigo pela trilha estreita. Vagueio e me vejo descabelada, em desvario. Isso é tudo que se pode obter na lucidez de cada dia.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Florbela Espanca

A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

No aquário

Pálida, desligou o ventilador. Calor de mil graus. Chuva fina lá fora e os homens trabalhando na reconstrução do pátio do estacionamento. Espiou pela janela, entre as cortinas cor de cenoura. Hábito antigo esse de espiar pelas cortinas. Desde criança. Desde sempre, porque a mãe cutucava o lá fora assim, entre persianas. Viu o rosto no espelho: pálida. Devia ser a medicação. Ou, vai saber. Tanto calor assim baixa a pressão. Toma um gole de licor de menta. Gosta de sentir o sabor entre os lábios. Passa a língua de leve, sem pressão, só para sentir mais. O gosto se espalha e a boca toda é menta refrescante. Ele podia se perder no meu beijo licorado. Ele bem que podia voltar e ver que o estacionamento está sendo restaurado e há ruídos e batidas de pás no chão. Ele bem que podia entender que o que fiz foi o certo. Ele... No entanto, arrependesse. Ele se foi com o livro do Poe, a carteira vazia e uma mala desarrumada. Pegou o cachorro também. Foi assim. Isso acontece. Será? A palidez deve ser de saudade dele, tão intensa. Velocidade da luz e estão juntos no aquário, olhando-se como olham os peixes. Fecha os olhos e preenche o escuro com a imagem dele, peixe no aquário peixe no aquário para sempre.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Redemoinho


Lembro coisas tão antigas que nem sei se as vivi realmente. É um redemoinho de imagens. Uma torção de sentimentos. Ouço Sade para esquecer, mas a memória apenas finge esquecimento. Tenho gosto de morango e chocolate na boca entreaberta. Tudo passa como um filme minimetragem. Enjoo das figuras que vejo e me vejo também. Sou mais magra e mais atenta, hoje estou distraída pelo gole de vinho tinto. Amanhã imagino mais uma porção de coisas. Amanhã acordo como todo dia e relaxo ao som de Sade. Tenho esse gesto contido porque meu coração fervilha e o medo do outro me aguça a pele. Sempre é bom ter cuidado com o outro, evitar confrontos. Evitar olhar direto nos olhos ameaçadores. O gosto do vinho, dos morangos e do chocolate se misturam como as imagens na minha mente. Penso em desaparecer. Viver ao revés. Contar os dias para trás e aí me livrar dessa colisão do tempo. Vou para o futuro mas a imago que fica é passado mordaz. Disco teu número várias vezes mas não, não termino de apertar as teclas. Medo e vontade. Só que você é esse outro que me vem em sonhos e imagens corrediças. Me alinho, realinho e tomo outro gole de vinho. Sempre tinto. Sempre seco.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Esperança

Julgava ter perdido você nos labirintos dos caminhos. E são tantos! Então reencontrei você de um modo singular. Hoje nossas vozes se parecem e esqueci as vezes em que você esteve tão longe. Esqueci porque amar você é coisa que faço desde menina e é preciso conservar o amor embora distante. Você me conta sua sina. Eu lhe conto a minha. Vivemos sob o mesmo sol? Quem sabe? Hoje eu queria ver o mar, pra ter um pouco de água salgada na minha garganta ardida. Queria que você me levasse para passear pelas ruas, sem compromisso de nada, como se fazia antigamente. Só andar e descobrir casas, becos, paralelas. Você gostava de caminhar comigo ao seu lado e nos diziamos coisas como: "É era de Aquário". Tudo isso se foi mas as lembranças reacendem depois de seu telefonema. Mensagem secreta na secretária eletrônica. Mas eu entendi. Porque eu sempre entendi todas as coisas em você de um modo que você nunca notou porque, distraído, olhava só para você mesmo. Estávamos crescendo e isso explica tanta coisa, não é? O bom é saber que eu não perdi você como tinha imaginado. E, os labirintos, eles sempre estarão entre nós, no meio de nós. Então eu digo pra você que há saída, com Minotauro e tudo. Queria dizer isso pra você acreditar como sempre acreditou em mim.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dissera para Deus, assim, bem baixinho: me leva. Mas não era hora e, no fundo, sabia disso.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Clarice Lispector

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Deixa eu me quebrantar nos teus braços e depois sorrir desvairada porque a manhã insiste e o sol está por nascer.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Jorge Luis Borges

Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti, mas viver sem amor acho impossível.


Grão

Via no ar da sala a poeira transparente que abarca os dias. Não essa que se posta sobre as coisas. Olhava para o indizível como quem faz uma trança em cabelos de criança. Ontem ela chorou o choro dos inocentes. Daqueles que se culpam por tudo quando a vida é assim mesmo, cheia de truques e pegadinhas. Seu choro-lamento inundou o quarto de uma dor infinita. A gata, olhos semicerrados, fingia não ver que ela se contorcia na dor. Hoje, olhando a poeira dos dias dançando no ar, ela tem os os olhos inchados. Pensa que amanhã vai ser outro dia, como quis Chico Buarque, como querem todas as pessoas, mesmo as que não sabem cantar. Ela não sabe cantar. Vive sem voz, sempre pigarreando. A paisagem na neblina, pensa, enquanto com a mão delicada ousa tocar o ar e vê o movimento suave das partículas sob a luz tênue que entra pela janela. Fecha os olhos, pensa nele. Nos olhos, sempre. Porque é por eles que sabemos tudo. Palavras são somente palavras, filosofava. Cada grão de poeira invisível lhe dava vontade de ser também um. Suspirou aflita. Ela era um tanto aflita. Fingiu segurar o pó com os dedos em pinça. Fingiu que podia tudo o que quisesse, inclusive pegar o inaudito. Soprou a poeira imaginária e recostou-se sobre o sofá. Uma lágrima fez a curva do nariz e outra ficou empoçada no olho esquerdo. Assim é que o dia de amanhã seria melhor que o de hoje, bastava esperar flutuando como um granulo de poeira.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Jorge Drexler

El velo semitransparente
Del desasosiego
Un día se vino a instalar
Entre el mundo y mis ojos.
Yo estaba empeñado en no ver
Lo que ví, pero a veces,
La vida es más compleja de
Lo que parece.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Letícia

Um dia Letícia, você escreveu uma linda, lindíssima carta para mim em seu blog. Faz tempo isso, você havia terminado de ler O Imprevisto. Era mês de junho se bem me lembro e eu não disse nada. Nenhuma palavra de pura emoção vivida nas tuas palavras. Nunca ninguém escreveu carta mais bonita para mim e nunca nenhuma delas foi publicada, assim, pra toda gente ler. Hoje, perdida nos recôndidos de mim, lembrei da carta e me deu saudade de você. Como se eu a tivesse visto ontem e hoje já sentisse o vagar da lembrança. Esta não será uma longa e bela carta. Esta mais para um bilhete. Para te dizer do quanto meu afeto te abraça ao longe e do quanto você é especial para mim. Não, não simplesmente especial, do jeito torto que as pessoas dizem. É mais que isso, você me entende, eu sei. Pois hoje, no calor do verão sulista, olho para seu livro aqui do meu lado e saio relendo. Vejo as marcas da vida, do amor e da morte em tudo o que fazemos. Ser escritor é isso, sair do casulo de vez em quando para se mostrar timidamente aos outros. Logo vem a incerteza e já queremos de volta nosso cantinho para nos resguardarmos um pouco, feitas de um leve contentamento que somos. Letícia, dedico o dia de hoje pra você no meu calendário restrito. Um dia de sol, luz e energia. Carpe Diem!!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Loucura

Pensava coisas sem sentido. Coisas bizarras, irreverentes, trágicas. Sabia que o funcionamento da mente não é assim o tempo todo. Não podia ser, questionava. Teve dias que eram como desvarios. Mente inquieta, ideias loucas. O esquisito era que ficava deitado na cama somente olhando para o teto, esperando passar o turbilhão de imagens que lhe vinham ao cérebro. Quanto mais ficava assim, piores eram os resultados. Temia levantar-se e cair. Tinha medo de ir lá fora e ser atropelado na calçada. Supunha que seria assaltado ou violentado. Seus pensamentos se desencadeavam com uma força destruidora e, dentro dele, corria um bicho ferido tentando amanhecer.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Beautiful Day - U2

What you don't have you don't need it now
What you don't know you can feel it somehow
What you don't have you don't need it now
You don't need it now

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

No inconsciente

Quando vou dormir tenho mil ideias, como todo mundo, imagino. Eu as esqueço assim que adormeço e, dia seguinte, aquele vago sentimento de perda. Por vezes escrevo mentalmente um post, por exemplo, e penso, "nossa, ficou bom". Mas ele se desmancha no ar das coisas inventadas antes de dormir. Uma vez eu gostava de inventar histórias nesse intervalo em que o sono está nos envolvendo. Havia romance (hum, era bom!), drama, coisas espetaculares, coisas zen... Depois, fui apenas inventando pequenos trechos de filmes, contos e agora os posts. Tudo perdido, mas tudo guardado. Sim, porque tem o tal do inconsciente, não é? E, dizem, Freud, mais precisamente dizia, que tudo fica ali armazenado. Um dia volta. Nossa, vai ter muita coisa escondida nesse lugar de vaguidade!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Meus amigos virtuais

Sabe do que eu gosto? De ver essas carinhas que vão aparecendo a cada dia nos meus amigos virtuais. Imagino uma história para cada um sempre que visito seus blogs. Tenho minha própria imagem dessas carinhas muitas vezes escondidas por objetos, mãos, véus. O que importa? Consigo ultrapassar essas "barreiras" e ver mais além de tão metida que sou. Nem sempre deixo recados, mas visito meus amigos virtuais que acho maravilhosos, com seus escritos e dizeres sobre coisas da vida, do amor, da sensualidade. Sobre política, aventura, melancolia... Leio de tudo e faço minha triagem. Recolho aquilo de belo e mutante que existe por trás dessas carinhas virtuais às quais aprendi a gostar cada dia mais.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Como um carinho

Ela me diz que nossa cabeça deve ser oca como o bambu. Olho para seus olhos tranquilos e ela pergunta de sou de alguma religião porque passo uma paz tão grande. Sorrio meio sem jeito, mas feliz. Já me disseram que transpareço paz, que sou etérea. Para quem busca a harmonia o tempo todo, ouvir coisas assim é como receber um carinho. Escolho o sino de vento de bambu, claro. Persigo a tenacidade embora seja um tanto sonhadora demais. O oco do bambu para nos deixar aclareados. Ideias em branco para podermos vislumbrar mais longe ou ainda mais perto. Difícil saber. Sinto o cheiro dos incensos. A doce música que se espalha pela loja. Pago e saio ao encontro da chuvinha fina. Deixo-me molhar porque isso também parece que nos purifica. Caminho para casa como quem vem de uma festa divertida porém tranquila.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa

Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.


domingo, 17 de janeiro de 2010

O tecido dos sonhos

Foto: Luca Erbes

De que é feito o material instantâneo dos sonhos? Que alados vem e nos fazem suportar as mais terríveis singularidades? Na tarde difusa, sonhei com um hospício no qual todos usavam uniformes de cores diferentes que indentificavam esquizofrenia, transtorno do humor bipolar e assim por diante. Eu não sabia que era um hospital. Queria fazer compras."Que Deus não nos livre de algumas coisas!!", gritei ao sair do local já entendendo o que ali se passava. Havia um número que era o nome desse lugar, mas a memória dos sonhos é esvoaçante e levou o número quando abri os olhos. De que é feito esse material imaterial dos nossos sonhos? Que aflitos deslizam, flutuam e saltam sobre nossas redes neuronais? Invento assim, que é feito fotografia. Que tem uma película invisível, acho mesmo que é digital e tem movimento, como no cinema, mas podemos capturar um momento que fica em nossa lembrança, feito um recorte fotográfico. Um "instante decisivo" de Cartier-Bresson.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O vinho foi o suficiente. Como está sendo sonhar. Mas a existência parece sempre querer dizer mais, então o cálice transborda e é bom. Isso é tudo o que sei no momento...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A vida

A vida não é o máximo? É como nos dizia Hitchcock, cheia de suspense. Não sabemos nada sobre o momento seguinte, um milésimo de segundo e vem um terremoto, uma doença, um vazio profundo, uma grande dor. Mas também vem o orgulho por realizar algumas coisas que julgamos importantes. Vem a luz e a essência das marés descortinando águas. Vem o calibre, a pontaria, o alvo. A vida é mesmo uma incógnita que não cansamos de desmerecer com olhos sempre fechados ao belo, ao inexplicável. É preciso se desfazer do que nos incomoda, reservar um tempo para rever o tempo em sua inesgotável travessura. Nossa trajetória aqui se faz tão efêmera quanto dormente, se não sentimos o natural chamado da existência. Abro os olhos para o mundo e finalmente vejo. Hortelã, pimenta, manjerona, os sabores também variam. As cores me afetam instantaneamente enquanto traço um esquema de reverberar o imponderável.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Dia desses enovelo esse cansaço que me ronda impaciente. Faço novelo e jogo para os gatos brincarem. Meu cansaço é tão imprestável como qualquer cansaço, por isso me irrito dele. Ando assim, escalando montanhas de preguiça à força, com força, sem nenhuma força mais... Tudo fica pálido e distante, como quando enjoamos no navio.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A espera


Pingentes adormecidos sobre a mesa de estar. Na sala, tudo obsessivamente arrumado. Coisas com coisas que se combinam. Controles remotos em ordem de ascendência: o menor para o maior. Lindos buquês de rosas fakes. Toalha de linho. Cortinas de voil. Tudo em ordem e aromas de vanilla no ar. Ela espera qualquer coisa desse dia branco, começa a desenhá-lo assim, arrumando as coisas com sua lógica cartesiana. Depois, vai almoçar. Salmão ao forno com ervas e batatas. Um arroz para acompanhar. E, depois, haverá o depois que ela ainda não modulou com seus passos vagarosos de quem espera qualquer coisa acontecer de um momento para outro sem muita ansiedade. De fato, as sextas-feiras são feitas para se desapegar delas, pois o sábado sempre promete mais.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dia estranho, entre sol e muita chuva. Norah Jones me acompanha nesta tarde infinita. Vejo a construção de um edifício daqui da minha sacada, gente trabalhando duro, apesar do tempo. Olho minhas plantinhas e sonho com um jardim imenso, de se perder nele. Penso coisas vagas pois vago é esse dia de tamanha melancolia...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Avatar


Espetáculo visual incomparável, Avatar é um filme também para reflexão. Sim, refletir é tarefa para o cinema que, ao longo da história, tem manifestado um olhar crítico sobre vários temas importantes. A guerra e o desmoronamento ético do ser humano, a ecologia, o mundo da magia e da ingenuidade, podem ser alguns dos temas a se explorar no politicamente correto filme de James Cameron. Aliás, eleito pelo Uol Filmes, como um dos melhores de 2009, ao lado de uma produção modesta como Gran Torino, de Clint Eastwood, e do impagável Bastardos Inglórios, do sempre criativo Quentin Tarantino. Indico todos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Pra você...

Acredite, nenhum desejo é tão forte quanto esse. De estar assim com você. De ser assim com você. E ganhar o amor que ganho sem reticências ou ponto final. Acredite, eu encontrei um mundo em minha cabeceira, que é estar sempre ao seu lado. As noites são intermitentes porque avanço para o infinito dos sonhos inenarráveis. Porque alcanço distâncias que desconhecia e depois é duro voltar pelo mesmo caminho. Chegar ao porto seguro. Você me tem nesse lugar de continuidade, não de inconstância. Quando penso em você é com uma leve vontade de beijar. A face, os olhos, a boca. Essa vontade cresce quando você me toca com seu jeito moleque de dizer o que está querendo de mim. E ardemos em chama lenta porque a fogueira pode queimar os sentidos. Acredite, nenhum desejo mata mais o meu desejo do que esse de passar a vida com você. Retirando poeira das velharias e procurando o novo que está no porvir. Para nós, Paris será uma festa.