quarta-feira, 17 de março de 2010

Adélia Prado


Corridinho


O amor quer abraçar e não pode.

A multidão em volta,

com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muro

para o amor desistir.

O amor usa o correio,

o correio trapaceia,

a carta não chega,

o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,

desembarca do trem,

chega na porta cansado

de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,

pede água, bebe café,

dorme na sua presença,

chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:

é descuidar, o amor te pega,

te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

4 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Eu me arrependo de um crime que cometi. Eu tinha um livro da Adélia. O Pelicano. Por causa do "amor que não é água", dei o livro de presente. E o pior: tenho certeza de que o livro está sendo usado como peso de papel.

É a vida. =)

Beijos, Biba.

Fernanda Zanol. disse...

Que lindo profeeee!
Adorei *--*

beijoo.

Biba disse...

É a vida, Letícia. Também já caí nessa de dar um livro que depois talvez nem peso de papel ele seja.

Beijo,
Carpe Diem!!

Biba disse...

Oi Fe, que bom que gostou. Volte sempre!

Beijo,
Carpe Diem!!