No papel amarelado a mensagem. De tão antiga, fisgou-lhe um olho que, arregalado, viu os pertences de outro. A letra era febril. O conteúdo, mágico. De que época? Em que vão se escondera até agora? Não fosse o acaso e o papel amarelado a que damos o nome de carta estaria para sempre perdido. Leu e releu. Tresleu. Parecia cheia de fome daquelas palavras sinuosas, perfeitas. Nenhuma data. Melhor assim. Mas havia a assinatura, desconhecida. O papel amarelo tirou-lhe o fôlego de tão antigo que era. Escrito com aquelas canetas tinteiro com uma peninha em cima. Só podia ser. Incrédula, bebeu um pouco de Amarula. Pensou que combinavam bem, a carta e a bebida. Dobrou-a como a encontrou, a carta, e depois. Esquisito, não havia mais o depois.
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14 comentários:
Quando o agora fica grande o depois desaparece.
Cadinho RoCo
Tento imaginar agora a cheiro dessa cena: amarula com papel velho. Acho que é um cheiro de vontade de se perder.
Beijos
acho que é um cheiro aconchegante, daqueles que a gente sente quando chega em casa, toma uma banho, põe um jazz e vê a noite se levantar.
bjuuuu
Interessante a colocação dos pontos, frases curtas, que, se fossem lidas por alguém imerso na profundidade do texto, pareceriam projéteis. Vai do cotidiano ao trágico, pois e não é que algumas vezes, parece, que estamos nos acostumando a um cotidiano trágico? Agora sim Biba, o texto que te falei (da coincidência de assuntos) tá lá no blog viu. Finalmente! rs!
Até mais ver
Que lindo isso! O agora cresce e o depois desaparece... Gostei muito.
Beijo
Carpe Diem!!!
"um cheiro de vontade de se perder", meu poeta. Imaginei o que você sentiu com a cena.
Beijos
Carpe Diem!!!
ai, Adri, adoro tudo isso. Todos esses passos e ver a noite chegar, com um licor de amarula...
Beijo
Carpe Diem!!!
Gosto de como você analisou o texto Marcelo. Obrigada. Será que agora consigo entrar no seu blog? Vou testar.
Beijo
Carpe Diem!!!
que contentamento eu tive em encontrar teu blog!é denso e tem uma delicadeza em cada bordadura de palavras e sentimentos.As imagens fundem-se às letras e criam linhas molhadas por Amarula (que amo, por sinal) e pitadas de magia.um abraço.
achei muito genial esse "não havia mais depois". o mistéio ronda quando o texto parece ter terminado.
amei
bjo e paz
Certa vez comprei um livro, desses enciclopédicos, chamados "O Enigma do Cosmo". A edição é lá dos anos setenta e tantos. O curioso dele foi que encontrei a nota da compra do antigo (e primeiro) dono no meio de uma página que falava de supernovas e afins. Naquele então escrevi um poema que hoje me soa reto demais para ser real. Mas a lembrança da nota me ficou na retina. O depois do desconhecido é como aquele velho corredor do Quintana: da última vez que passou por lá, todos os pássaros estavam mortos. Esse estarrecimento alegre é que dá sentido a qualquer vida. Sem imaginação morre o que somos. Sem criação não custa nada morrer. Acho que por isso escrevo. E foi isso que senti ao te ler. Um beijo e tudo de bom.
Um abraço Glória, espero que você volte. Seu comentário é muito tocante.
Carpe Diem!!!
Ira, acho que tudo é feito de um certo mistério e o texto aponta realmente para isso.
Bjo e paz
Carpe Diem!!
Que bonita essa história do livro, de encontrar a nota do primeiro dono, acho o máximo. Escrever é o que me dá sentido, vida, ilusão... Talvez tenhamos algo em comum, Eduardo. Amei seu comentário.
Bju
Carpe Diem!!
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