quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


Busquei da lua o momento. A chave para uma oração. Quis que meu coração parasse feito pedra só para não sentir o seu pulsar. Inútil. Então, gastei as energias pensando em coisas sem sentido que agora não sei como dizer. Dentro de mim mora um anjo de cara pintada. Muito moleque, muito invasivo. Busquei livrar-me dele, inoportuno. Quando eu só queria o silêncio para orar sem pedir nada, só para repetir palavras que um dia me ensinaram e lembrar de minha avó. Os dedos gastos e o coração abençoado. A lua se escondeu por conta de umas nuvens que invitaram a noite. E meu dessassossego ficou ainda maior. Tudo tem tamanho, até a nossa dor. Sonhei com ele e era preciso esconder-me. Sonhei com esse amor antigo que me rasgou o fôlego e me aliciou. Tentava fugir e então, para solucionar tudo, fico quieta no sonho, fingindo que estou dormindo, mas ele me vê. Eu sinto. Ouço seus passos. Asseguro-me de que sentou-se ao meu lado e me observa. Encolhida feito uma criança mantenho os olhos fechados e desejo bem fundo que ele se vá. Evapore. Não sei o que enfim acontece porque acordo do sono com olhos pequenos de quem ainda não está pronto para ver o mundo. Um gato me olha. E, entrevejo pela cortina da janela que a lua ainda não está lá.

10 comentários:

Anônimo disse...

quando o gato olha pra você, imaginei logo que a lua poderia estar neste olhar, nesta luminosidade felina, já que a lua de cima era escondida pelas nuvens...
como sempre, belíssimo texto.
o silêncio tem tanto a nos dizer, né.
bejim e paz

Letícia disse...

São as nuvens escondendo a lua, a gente dorme pouco e sem dúvida, "Tudo tem tamanho, até a nossa dor". Esse trecho é a minha questão de cada dia. O tamanho da dor e por quanto tempo ainda? Aí vem o tal do pensar e lembrar. E a gente se perde no tempo. Li seu texto e lembrei de alguns poemas. Lembrei de mim também.

Beijos.

E sim, você é escritora e nem precisa que eu ou outra pessoa o diga.

Biba disse...

Oi Ira, bela imagem essa dos olhos do gato fazendo às vezes da luz da lua. Posso usar um dia? Hehehe. Querendo me adonar da sua ideia, né? O silêncio tem realmente muito a nos dizer.
Bjim e Paz
Carpe Diem!!!

Biba disse...

É, Letícia, também me questiono sobre a dor, o tamanho, a intensidade e quanto tempo ainda. Daí igualmente me perco no tempo. De que poemas você lembrou? Obrigada... ser escritora é bom, mas como dói...

Beijo grande
Carpe Diem!!!

PS: Você gostaria de ler o meu livro? Eu poderia enviá-lo pra você.

Marcelo A. de Moura disse...

Dessa vez vou deixar o Teatro Mágico comentar por mim, quando li o texto lembrei da música na hora, então, não vou deixar tal coisa passar em branco

http://www.youtube.com/watch?v=LXIoxWT3yRo

Tá aí Biba, sonhe um pouco mais com essa...

gloria disse...

lembra da canção? "meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim". São esses pedaços de memória afetiva que povoam aquilo que chamam coração. Alumiados de uma existência tão própria que até parecem fazer pouco da gente. Mulheres como nós pressentimos seus sinais no mínimo gesto que nos acolhe; todo nosso corpo é uma superfície de percepçào do que foi intenso, do que marcou e teima em ficar.por isso escrevemos nào é mesmo Biba? senào tudo ficaria coberto pela poeira dos que preferem esquecer e desse modo, fenecem. bjs linda escritora.

Biba disse...

Tá bom, Marcelo, vou sonhar mais com essa... AH, eu gostaria que você fosse seguidor do meu blog. Aceita? E eu queria entrar lá no seu e encontrar mais um lindo conto (sei que você tem muita coisa escrita!!)
Beijo grande
Carpe Diem!!!

Biba disse...

Glória, lembro da canção sim e gosto muito por sinal. Adorei o que você escreveu. Você é sempre poética, lírica, e isso é de uma lindeza! E, sim, escrevemos para não deixar o pó tomar conta. Há gente sem memória e isso é muito triste. Obrigada!
Beijo beijo,
Carpe Diem!!

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Cara Biba. Amores antigos são como os tigres do Borges: estão pelos cantos mais recônditos das bibliotecas, sendo que as bibliotecas podem ser o próprio Universo. Creio nas ampulhetas e nas adagas por conta disso, já que um beijo nos rasga de uma forma que qualquer forma sequer suportaria - e as lembranças de cada toque são um grão de areia que cai lentamente no casulo dos travesseiros, até que um dia, talvez, saiamos voando janela afora com nossas asas de Kafka. As lembranças são, portanto, a revivência da invenção diária da nossa própria vida, mas nem por isso perdem a identidade que têm, mesmo que Proust tenha visto sua vida até em rosquinhas e fumaças de chá (assim como nós, convenhamos). E quanto às palavras que falaste do meu texto de ontem (quinta-feira), aprendi que tudo tem que ter um nome e somos feitos de linguagem com os seminais Heidegger e Gadamer e, mais atualmente, estudando Freud e Lacan, apesar de achar que a Hilda Hist e o Stephen Hawking sejam mais interessantes que qualquer poeta atual, mesmo que esteja um tanto fascinado pela leitura do Heine. Falando em poesia, hoje (sexta-feira), pela primeira vez postei um poeminha no blog. Foi escrito na ânsia e na métrica do Sá Carneiro, e por isso não está tudo aquilo. Mas transpira sinceridade, e isso me deixou tão, mas tão feliz, que passei o dia de ontem todo acordado, sendo que não dormi noite toda, em uma correria de trabalhos e trabalhos que me fez reconhecer que só o que me fez viver é a arte. Queria sua opinião sincera sobre esse meu nirvana luso-gaúcho. Um beijo de óculos pra ti, porque apesar de eu sempre querer usar óculos, nem que seja pra fazer um grau, nunca precisei. Que os sonhos venham então, assim como os amantes que tivemos e não tivemos mas que nos perseguem pelos corredores das ruas e das bibliotecas como os tigres do Borges e as supernovas que a todo instante afloram folhas de prótons e nêutrons pelo Universo. Até, minha amiga.

Biba disse...

Du, tão lindo e raro o que você escreveu pra mim. Amo Borges e seus tigres. Tenho certeza de que estão recôndidos mas sempre por perto. Nem sei o que dizer, acho que porque é cedo ainda e estou acordando... Escreva sempre para mim e me dê um beijo de óculos, está bom assim.

Beijo grande,
Carpe Diem!!!