sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Final de tarde

Que venha o fim de semana. Que seja ameno e límpido. Vou plantar sementes de girassóis. Regar as plantas, alimentar os gatos, comer leite condensado na latinha. Quero assistir um bom filme com direito a pipoca. Descobrir algo "beijo-me-liga", sabe como é. Tentarei ler um pouco, falar muito, silenciar nada. De dentro de mim quero que venha o melhor, então estarei pronta para acreditar. E, acreditando, tudo fará sentido.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Clarisser

Clarisser
É só um verbo assim
Meio meu
Meio não meu
Que anima os sentidos
E corre nos trilhos
Que cruzam o pampa da razão
Nada o conjuga não
É o infinito em si
Sem futuro, nem passado
Mas presente
Aonde está presente.


Vitor Ramil

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comunicação

"Comunicação" é um rico emaranhado de fios intelectuais e culturais que codifica as confrontações de nosso tempo consigo mesmo. Compreender a comunicação é compreender muito mais. (PETERS, 1999, p.2)
Psicólogos, advogados, jornalistas... O que existe em comum entre esses profissionais? Descobri que é a preocupação com os excessos, com a banalização midiática e com o desamparo do ser humano em um tempo de vazio ético. Como é bom trocar idéias com pessoas inteligentes e sensíveis. Gosto quando em sala de aula as discussões acontecem e a gente é tomado por um certo ardor de querer convencer-se ou convencer o outro, ou apenas expor nossas contradições e desejos. Contribuir para esse enlace entre teoria e prática é algo muito importante quando estamos na condição de docentes. É um exercício constante e que tem sido bem aceito. Não poderia ser diferente, jornalista tem obrigação de não calar, mas também tem uma obrigação maior ainda com a ética e a responsabilidade social.

terça-feira, 28 de outubro de 2008


Final de tarde sem fim. Horário de verão. Hoje uma certa mornidão abraçou o dia, com direito ao frescor da manhã, é claro. Foi dia de escrever sobre arquitetura e cinema para um free-la. Expressionismo Alemão para os arquitetos: O Gabinete do Dr. Galigari e Metrópolis. Uau! O primeiro é pós-tudo já em 1919 e o segundo é a caracterização do nosso século feita por Fritz Lang em 1926. Adorei o tema. Se me convidarem de novo tenho que pensar em uma arquitetura medieval ou gótica, quem sabe. Termino o dia indo para uma entrevista na TV Caxias sobre os casos Eloá e Isabella. Quem manda ser professora de Ética no Jornalismo? Meus alunos e eu estamos esgotados desses cases midiáticos, já discutimos à exaustão. Mas então tá, vou lá tocar no assunto de novo junto com um advogado e uma psicóloga. É a mídia fazendo o mea culpa.

Cazuza

A via-crúcis do corpo
O mundo caminha assim
A via-crúcis da alma
Essa nunca vai ter fim

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Chove chuva, chove sem parar"

Consolo-me pensando que em Paris também chove. Olha a Amélie Poulain aí, com sombrinha e tudo. O diretor do filme ficou maluco de tanto que chovia quando eles foram filmar ao ar livre. Tudo bem, não quero filmar nada, por enquanto, mas uma trégua seria bem vinda. Oooops! Prometi não reclamar e não vou. O melhor é assistir bons filmes nestes dias: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um deles. Ler também é ótimo. Fazer pipoca. Comer chocolate. Iluminar a casa. Pequenas coisas, pequenos gestos. Elaborar projetos. Ouvir música. Viver!
Uma ótima semana a todos os peixes, digo, a todos nós!

domingo, 26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Porque hoje é sábado

"Porque hoje é sabado", dizia o poetinha Vinícius de Moraes, acontecem coisas inusitadas e algumas banais. Novamente a chuva. Quer saber? Tô nem aí!! Vamos dar um novo sentido a tudo isso, cansei de reclamar. Ouço Mark Knofler e finjo que o dia é uma maravilha. Porque hoje é sábado dá vontade de ver um bom filme, almoçar num restaurante, comer mousse de chocolate, evitar as ruas estreitas demais. Porque hoje é sábado, sabe, tem coisas indizíveis. E tem aquelas boas de falar, como: romance, alegria, beleza, cores (mas está tudo desbotado!). Vá lá: cores, perfumes (Angel é uma delícia), flores. Tá bom, nada original. Mas estou tentando não ser sugada por esse vácuo que fica quando o dia amanhece cinza e chuvoso. Tente comigo. O que mais quer desse sábado?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Rainer Maria Rilke

"Estou aprendendo a ver. Não sei o que provoca isso, tudo penetra mais fundo em mim, e não pára no lugar que costumava terminar antes. Tenho um interior que ignorava.

Agora tudo vai dar aí. E não sei o que aí acontece."


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Quando uma história começa assim, com um homem sentado em sua cadeira de balanço, na sacada, olhando os movimentos da rua à noite, é porque existe um perigo. O perigo que se esconde, traiçoeiro, dentro desse homem e de sua casa.

Se abrirmos a porta que do balcão dá acesso à sala de estar, conheceremos um pouco do que esse homem - que se chama Ettore Capria - aprecia e ama. O reflexo no espelho é sempre o mesmo, o de uma cabeça de cavalo talhada em madeira. É um trabalho rústico, mal acabado. O dorso permanece na cômoda principal cujas gavetas se mantém chaveadas.

Umas poltronas antigas, algumas almofadas de pano, cinzeiros de vidro, vários tamanhos, distribuídos em torno da mesa de centro, pesada como as cores das paredes e do teto. A estante de livros acumula centenas de obras...

Lá fora, o homem esquece que possui calendários antigos pendurados em um dos cantos da sala. Não lembra dos discos empilhados sobre o tapete. Afunda suas mãos num entorpecimento senil. Não sonha.

Jamais sonha?


(Trecho do conto "Ettore", do livro O Imprevisto)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Jura Secreta


Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que eu não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
Do que por não saber ainda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Clube da Luta

Brad Pitt e Edward Norton, o que o outro-eu esconde?

Às vezes a gente se sente como quem partiu ou morreu, mesmo em um belo dia de sol radiante. Penso em Clube da Luta, tema da aula de Cinema de hoje. Percorro a travessia do duplo, tão profundamente explorada pelo Expressionismo Alemão no início do século passado. Quantos de nós não quereriam participar desse clube pelo prazer da adrenalina tão desgastada na sociedade pós-humana? O mundo visto por olhos nada inocentes, onde o sabonete é feito da gordura-lixo das lipoaspirações? Decadência, caos, irreverência. Insônia, solidão, consumismo. Palavras-chave para o Clube. Um filme para ser agarrado à unha. Não se deixe levar pela violência da pancadaria. Ela esconde muito mais do que aparenta. Tente rever com os olhos bem abertos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Queria ser aquele cronópio pequenininho que não acha a chave para sair de casa. Queria ser a mariposa em volta das "lâmpidas", como dizia Adoniran. Queria ser uma corrente enfeitada de rosas brancas e amarelas, cores singelas. Queria quebrar e ser os cacos. Queria arrebentar de alegria como as cigarras que cantam ao limite do suportável. Queria extinguir o tempo, só por um segundo. Matá-lo em slow motion. Depois revirá-lo, intempestiva, e colocar-me para frente, rumo ao futuro. Daria, então, uma festa, como Mrs. Dalloway. Queria, daí, voltar a ser cronópio e finalmente encontrar a chave de casa e sair à rua sem motivo exato.

domingo, 19 de outubro de 2008

O que mais quer?

Foto: Luiz Carlos Erbes

O que mais quer? O que mais quer? O sol apareceu hoje, dando a luz de sua graça. Mas meu coração não sossegou. Um passeio pelo interior só fez uma trilha de saudades mal curadas. O vento soprou nos meus cabelos. Ouvi o canto dos pássaros... Vi as flores... Que mais quer? Que mais quer? O desassossego insistindo dentro. A semana está pronta para começar e eu? Guardo minhas dores e faço cara de desentendida. O que mais quer? Uma estrada infinita...

sábado, 18 de outubro de 2008



Foto: Luiz Carlos Erbes
Algumas cervejas depois e a gente fica menos infeliz nesta cidade em que só chove chove chove. Dizem que o sol sai no fim de semana. Sai de onde?! Para mim ele está bem ali em cima, em algum ponto qualquer. Esse fog fake, essa Bruxelas where rain is tipycal é uma grande baboseira. Estamos em Caxias e aqui tem é neblina, cerração e chuva. Sem glamour minha gente. Ficamos deprimidos, melancólicos, o que for, mas definitivamente não há um pub para se entranhar e esquecer o lá fora. É quase agonia. Minha aluna disse: "Vamos virar peixes". E eu digo: esse aquário não aguenta! Perdida na noite tento entender as artimanhas do tempo, mas só sinto meu coração pulsando, apesar de tudo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Exteriores

Chorei ao som do faroeste até não ter mais lágrimas que pudessem ser choradas naquele momento. Depois fui até a cozinha, abri lentamente a geladeira, como se não quisesse verdadeiramente fazê-lo, e tomei leite, na leiteira mesmo, sem saber direito porque agia assim. Era pouco o leite e não me saciei. O líquido estava tão gelado, a noite era tão fria e chovia tanto que comecei a sentir uma dor rouca na garganta assim que voltei à sala.

Divisei uma sombra na parede e esperei um movimento. Você não estava mais com aquele jeito que sempre rebuscava a noite. Um pouco fatal. Você possuía então, um modo distante de criança assustada e ferida. Fiquei parado alimentando meus olhos úmidos com sua imagem congelada. Entorpeci-me. Você começou dizendo que já não era a mesma. Foi esta a primeira vez que você falou alguma coisa ao chegar. Lembro que sua voz me despertou. Eu quis demonstrar que também já não era o mesmo, mas não sabia como. Por isso, deixei-me estar à luz da televisão sem realmente estar. Afinal, julguei que aquele instante seria eterno. (Trecho do conto "Exteriores", do livro O Imprevisto)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crash - O dia depois

Depois da batida, o coração da gente desacelera. Não é engraçado? É o contrário de tudo. Hoje continua chovendo e sinto uma indisposição física muito grande. O corpo se nega a ser. Qualquer coisa o comprime. Mas nada disso importa agora que um pedaço de chocolate chega aos meus lábios. Chocolate é sempre compensador. Alivia. Dopamina. Agita. Como o chocolate como se fosse o último de todos que existem. Sinto o sabor delicioso enquanto penso coisas do tipo: se a chuva parar eu vou visitá-lo, quando chegar em casa vou ouvir Zélia Duncan, se tudo der certo ... bem, se tudo der certo continuarei por aqui e vou relembrar uns certos momentos ínfimos. Ter o que lembrar nos cura de muitos males.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Chove. Sinto uma tristeza escorregadia de carros batendo na rua enlameada. Ainda ouço o ruído estrondoso da fechada. Meu peito doeu. O cinto realmente é segurança. Agora queria ouvir qualquer coisa harmoniosa, bonita. Esquecer o prejuízo duplo: material e de alma. Sim, de alma, porque a minha vinha embevecida a ouvir Neil Young às 7h40 da manhã. Suspiro.
Dizem que ainda vai chover mais. Dá vontade de ficar para sempre embaixo dos cobertores...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Juliette

Se você não me interromper, eu conto. O nome dela era Juliette, como a Binoche. Tão linda quanto, você poderá dizer. E era. Só que mais magra, menos morena e mais alta. Eu a vi pela primeira vez perto do hotel onde ficamos hospedados, depois na Gare du Nord e na padaria, aquela da esquina onde comprávamos croissants. Ela parecia fantasmagórica às vezes. Usava uns vestidinhos floridos ou com estampas geométricas, nunca lisos. A fantasmagoria vinha de um certo alheamento, uma certa expressão de ausência que eu notava nela. Um dia, por exemplo, ela atravessou a rua como um autômato e foi surpreendida por um ônibus. Eu corri ao encontro dela que não quis ajuda. Ergueu-se insolente e seguiu, perna esfolada no asfalto. (Trecho do conto "Juliette" do livro O Imprevisto)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Soledad



Soledad,
aquí están mis credenciales,
vengo llamando a tu puerta
desde hace un tiempo,
creo que pasaremos juntos temporales,
propongo que tu y yo nos vayamos conociendo.

Aquí estoy,
te traigo mis cicatrices,
palabras sobre papel pentagramado,
no te fijes mucho en lo que dicen,
me encontrarás
en cada cosa que he callado.

Ya pasó
ya he dejado que se empañe
la ilusión de que vivir es indoloro.
Que raro que seas tú
quien me acompañe, soledad,
a mi, que nunca supe bien
cómo estar solo.

(Jorge Drexler)

domingo, 12 de outubro de 2008

Vermelho-luz poente


Luz imaginária. Vermelho-luz poente. Dentro do cesto, em casa. Noite perfeita. Notas de sonoridade única permeando o intenso das chamas. Carpe Diem! Eu penso nesse tanto de
alegria que por vezes se renova como uma planta crescendo. Fosforescente. Fotossíntese da primavera. E eu embarcando para Paris no momento seguinte. É só esperar o verão francês.
Antes disso, Buenos Aires, tango e livrarias inimagináveis!

Foto: Luiz Carlos Erbes

sábado, 11 de outubro de 2008

Gatinhos de Bali. Código 46. Barras de chocolate ao leite. Nomes que circulam pela minha cabeça: Bergman, Schiller, Wagner, Rosselini. Idéias que se evaporam no ar úmido que penetra os poros. Esporos, ácaros, bichos escrotos. O dia não rima. A palavra se enovela, querendo não querer. As frases de Coldplay invadem os ouvidos cansados. "I miss you, I miss you". Vi a garota no deserto ao som dessa canção. Ela de costas para a câmera imóvel. Como imóvel está a manhã. Parada, invertida como no reflexo do espelho. Olho para ela e me alivio da dor de não saber o que mais quero. O relógio de Cortázar me diz para ir em frente antes que os rubis enferrugem. Há falta. Psicanaliticamente falando. Gatinhos de Bali enfeitam o móvel discreto. O chocolate me dopamina. Quero mais. Quero o sentido de tudo. Mas olho em volta e percebo unicamente a manhã molhada pela garoa. Mais nomes circundam minhas idéias...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Os Homens Ocos

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

T.S. Eliot

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Love


Love is real, real is love
Love is feeling, feeling love
Love is wanting to be loved

Love is touch, touch is love
Love is reaching, reaching love
Love is asking to be loved

Love is you
You and me
Love is knowing
We can be

Love is free, free is love
Love is living, living love
Love is needing to be loved

Hoje seria aniversário de John

terça-feira, 7 de outubro de 2008

(I Can't Get No) Satisfaction

I can't get no satisfaction,
I can't get no satisfaction.
'Cause I try and I try and I try and I try...
I can't get no, I can't get no...

Rolling Stones

domingo, 5 de outubro de 2008

Hallelujah!

Hallelujah. O corpo cansado padece. O grito rouco está calado. Ouvir Sinnead O'Connor já não é o suficiente nesta noite fria em que novamente o vinho é a companhia casual. De leve penso em unicórnios e outras coisas rarefeitas. Não quero a brusquidão da realidade. Prefiro a ilusão de um caminho seguro, aquele do porto que nos abarca. Mas há o barco a vagar também e penso coisas como maybe maybe maybe. Do you think about it? Talvez não. Não agora que enregelamos e dizemos coisas tolas e sem sentido. Por que tudo tem que fazer sentido, afinal? Quero me curvar ao irrevelado, àquilo que desperta os meus sentidos, àquilo que me desespera. Hallelujah!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um cálice de vinho. Um aperto no peito. Soluço. Vontade de dizer que sim mesmo sabendo que pode não valer a pena. Mais um cálice de vinho. Tinto. Vontade daqueles braços me envolvendo por uma fração de segundos. Vontade de morrer de amor, como nos tempos idos. Ser mulher sublime, objeto de desejo inalcançável. Vontade de falar a língua dele e me fartar (n)dela. Sempre querendo esquecer o correto, o vazio, a penumbra.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

e.e. cummings

agora ar é ar e coisa é coisa:traço