domingo, 14 de março de 2010

Os sapatos de Van Gogh


Lembrava os sapatos de Van Gogh. Havia sonhado com eles, assim como era recorrente sonhar com outros sapatos, os de sua infância. Mas havia só um pé e não o par. Intrigava-o a unidade. Uma vez ela lhe falara que sonhar com sapatos tinha a ver com a morte. Calçar os sapatos no sonho era uma premonição. Nunca calçava. Mas estavam sempre por lá. Caídos, arrumados, tortos, novos... Sapatos, enfim. Deu de se perguntar pelo outro pé. Quando criança costumava guardar os sapatos em suas respectivas caixas. Mania que a mãe aderiu. Era mais seguro deixá-los assim. Mais higiênico, mais bonito. Cada vez que abria uma caixa era como a surpresa do sapato novo. Mas essa noite, os sapatos de Van Gogh e isso lhe deixava curioso. Eram os mesmos, estavam lá, mas não pintados. Realmente estavam lá. Podia sentir-lhes a textura. Como é bom sentir texturas em sonho. Já experimentou? Perguntaria a ela mais tarde. Mas, não. Ela só sonhava em preto e branco. Era daltônica. Não sentia cheiros nem sabores. Isso fora dos sonhos também. Ele olhou para ela um instante, sorriu. Da próxima vez, disse, quero calçar os sapatos de Van Gogh mesmo que meu pés sejam grandes demais para eles. Ela riu e afagou o cabelo dele. Não havia, pensava ela, meio de se calçar a arte.

8 comentários:

Unknown disse...

Eu costumo calçar os sapatos de Van Gogh a cada vez que acordo... Ah, a arte!

Letícia Palmeira disse...

Ou a arte nos serve ou não. Será este o pensamento? Será que ela é realmente para o meu bico? Penso nisso, Biba. A cada livro que leio, teóricos que ando estudando, fico pensando se realmente é para o meu bico.

Adorei.

E eu sonho com texturas, cheiros e calço sapatos nos meus sonhos.

E legal que gostou da nova roupa do afeto. Vou tentar mudar sempre. Uma roupa a cada estação.

Beijo.

Moni disse...

Ola to passando aqui pra ti convidar a participar de um sorteio no meu blog.
Devido uma aposta que o Franzé perdeu vamos fazer um sorteio,da uma olhada nos detalhes la, adoraria que você participasse.

bjos
Espero sua visita
=]

Biba disse...

Ah, a arte! Carol, que bom calçar os sapatos de Van Gogh toda vez que acorda.

Beijo,
Carpe Diem!!

Biba disse...

Letícia, querida, também me questiono se a arte é para o meu bico e sempre acho que é demais para mim. É incrível, também sonho com texturas, cheiros e calço sapatos nos sonhos, mas às vezes retiro o pé rapidinho...

Beijos
Carpe Diem!!

Biba disse...

Oi Moni, vou visitá-la!

Beijo,
Carpe Diem!!!

Lilian disse...

Olá,Biba

Sem tempo pra comentar,
mas passando para ler sempre...
rs...
Não sou apenas eu, aqui em casa, a única
fã de seus textos...
rs
Todos gostam.
Dividi vc com todos!
Sinto que amar deve ser isso, é assim que sinto...

Um beijão, do tamanho dessa tua grandeza!
Amei/calcei estes sapatos!
Amei e calcei os teus textos, que vão me vestindo e me despindo tb!

rs
:-)))
lila*lilian*

Biba disse...

Lila, que alegria saber que você dividiu meus textos com todos na sua casa. Obrigada por comentar mesmo que brevemente.

Beijo,
Carpe Diem!!