quinta-feira, 30 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Ela
terça-feira, 21 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Clarice Lispector
"Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."
quarta-feira, 15 de abril de 2009
terça-feira, 14 de abril de 2009
Meu anjo extraviado
Eu acredito na grandeza do universo e em seus andaimes ambulantes, consertando estrelas cadentes. Tudo que é sem rumo me interessa, tudo que é vazio intercepta por mim para que meu caos se aninhe e fuja da entropia. Tudo que sei é que gosto de gatos, rosas e jardins. E que o livro vai se chamar qualquer coisa Caio F., pois foi aprovado pelo Conselho Editorial da Educs. Eu acredito que ele espiou, deu aquela olhada lá de onde está e falou com alguém muito importante intercedendo por mim. Nisso eu acredito, pois sou ainda inocente para coisas tão inesperadas.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Hora de descansar
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Lume
Os vidros sujos, por onde escorrera a chuva, deformavam a paisagem. Havia pessegueiros floridos tremendo ao vento e um abacateiro quase vergando sob seu próprio peso. O passado estampava-se naquele quintal. “As coisas antigas ganham uma imponência que se assemelha a do homem velho. Há nele sabedoria e desilusão, uma fortaleza que o tempo corrói impiedoso”, escrevera Leon. No quintal, latas e tonéis se amontoavam e todo tipo de velharia carcomia-se ao ar livre. Algumas lesmas arrastavam-se por cima das pedras.
Não estava lá, o gato lambendo as patas depois de caçar um beija-flor sob os protestos de um menino ingênuo. Nem havia o som da flauta doce insistindo nas tardes outonais. Tampouco eles estavam lá, sentados à sombra das árvores, tomando chimarrão e contando histórias impressionantes. Para além dos vidros sujos existia o passado que não era aquilo que se via agora. Mas estava lá, estagnado. Lebasi sentia o cheiro de terra molhada que era também um vestígio desse ontem remoto.
As mãos dentro dos bolsos apertavam-se. As lembranças iniciavam um vôo cego. “As estrelas estão caindo, olha! Meu Deus isso é lindo demais!”, a voz entrecortara-se de emoção.
Nesta mesma janela, em uma noite de inverno, eles olhavam o céu estrelado depois de um ritual perigoso. Na panela, o vinho fumegava e os pedaços de cogumelo pulavam como se estivessem vivos. Serviram-se. Conchas de sopa, canecas de louça, mais de uma vez. Beberam ainda quentes, e comeram os pedaços que boiavam na superfície. (Trecho do conto Lume, de O Imprevisto)