Faltava-lhe uma certa flexibilidade. Um jeito de andar menos tenso, menos reto, correto. Sobrava-lhe uma certa amargura que vinha até no sorriso mais expandido. Leira era uma mulher com vincos nos olhos que usava aqueles bastonetes para aplacar as marcas do tempo. Leira era triste e se vestia dessa forma. Não chamava atenção exceto pela rigidez. Um dia escreveu uma carta para ele. Disse tudo. Aquilo que uma mulher pode desejar de um homem, mas ele sequer leu. Ela viu de sua sala-aquário que ele deixou de lado o envelope lacrado. Uma lágrima livrou-a da dor. Era suficiente, uma única lágrima renegada. Não havia tempo para chorar. Cuidou apenas para que ele se afastasse da mesa abarrotada de papéis e foi até lá. Retomou a carta para si, entre aliviada e frustrada. Talvez se gravasse algo para ele ouvir no carro, a mesma carta ditada bem devagar. Não, não adiantava. Ele estava lá há meses e não a enxergava. Era como os outros. Teria destino igual. Leira tirou o fone do gancho e ligou para o RH. Deu as instruções e logo viu o resultado. Joel recolhia suas coisas da mesa balançando a cabeça como quem nada entende. Ela sorriu, dissimulada. Agora era esperar o próximo contador. Segundo suas recomendações, o novo deveria ser entrevistado por ela. Era uma nova estratégia.
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2 comentários:
legal
Oi Beto
Beijo
Carpe Diem!!
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