terça-feira, 27 de novembro de 2007

Bem Caio F.

Cheiro de almíscar

Uma coisa anos 70

Ficou atenta ao

Próximo passo, o desenrolar

Uma margarida no asfalto

Tulipas tamancos e moinhos

Algo assim bem Caio F.

Mas não veio nada demais

Só uma saudade roendo

Uma vontade de entrega

Um comercial na televisão

Cheiro de patchuli

Lembranças de viagens

Cabelo longo despenteado

Um cachecol vermelho e

Uma vontade de Rimbaud

Algo assim bem Caio F.

Mas depois dos cheiros

Nada mais aconteceu

Só um céu lilás por trás

Dos edifícios e muros.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A leitora de Calvino

Lia, displicente, Ítalo Calvino

enquanto o dia se modificava

Do sol abrasador veio a chuva

E com ela uma certa melancolia

Lia, com calma, Ítalo Calvino

Se um viajante numa noite de

inverno era insano e perspicaz

Na sua busca por arrebatamento

ficava sempre devendo um tom

A melodia nunca se completava

Mesmo assim, lia solenemente

Ítalo Calvino e pensava que a

vida é mesmo um mistério a

ser desvendado pouco a pouco

A chuva intensificou seu interesse

pela leitura e a fez desdobrar-se

em uma mulher-livro, impiedosa

sábado, 24 de novembro de 2007

Sábado...

Vontade alguma, de coisa alguma. O sábado vem como uma interferência artística e me deixa assim boquiaberta, sem saber dos seus desígnios. Tenho vontade alguma, já disse, e isso é mesmo para ser redundante. Devo ter visto muito Antonioni, pois sinto aquele tédio de que ele tanto "fala". Uma coisa assim, existencialista, sartreana. Vai saber o que fazer para parar esse fluxo que já está parado mesmo. Incongruência? Talvez. Mas o sábado veio assim de dentro de uma certa bruma, de um certo nevoeiro que mais parece poeira. Tenho que espanar esse pó. É o que parece.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um segundo apenas

Katzenbach à espera, assim

como os momentos líricos

Tudo se aglutina feito cola

Não há tempo de contemplar

A vida corre intensamente

Enquanto, eu, lago sereno,

tento acompanhar as ondas

que vêm de um mar agitado

Nem sei de onde ou porquê

Katzenbach à espera para me

contar a história de um louco

Enquanto isso, ouço Drexler

E penso em um segundo de

uma dúbia e estranha paz

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cárcere

Chico Buarque

se ouvia ao longe

Enquanto a lua

vaga

entornava luz

E eles se beijavam

com fome feroz

Diante deles

os guardas sorriam

com desfaçatez:

- Deixa que beijem,

diziam -

pois a execução

já está planejada

sábado, 17 de novembro de 2007

Teu olhar

Te olho, te digo, bendigo esse olhar

Que vem com tamanha loucura que

Arrepia-me a pele só de pensar

Naquilo que não podemos

Naquilo que já fizemos

Naquilo que está no ar

Te olho, te digo, bendigo esse olhar

Por tudo que fomos e ainda seremos

Te olho, serena, sempre a auscultar

Que sonhos te cercam por trás desse olhar

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Cora Coralina

NÃO SEI...

Não sei... se a vida é curta...
Não sei...
Não sei...
se a vida é curta
ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Fernando Pessoa

"A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus."

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Terror

É uma gastura no estômago

Uma vontade de água e ar

Expandindo os pulmões rarefeitos

É uma impostura de táticas

Todas elas perfeitas para se salvar

Mas não encontramos saídas

É uma vontade torpe de ganir

Feito bicho acuado, rosnar rosnar

É uma aventura perigosa que

O medo só pode expandir e quando

Tudo não passar de silêncio, então

Será a hora de fugir e implorar

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Prece

Era a hora certa, a de quedar-se

Redimir-se e implorar piedade

Nessa vida tão desgastada

Não havia luzes suficientes para

Iluminar seus ardores febris

Pois se é feita de luz toda a febre

Que suplica ao corpo que se deixe

Levar para sempre todo o sempre

Era a hora do espasmo e da oração

Que ele ficou soçobrando na casa

Sem forças para dizer um verso

Uma horda de palavras se fechou

E ele de tão sincero ficou mudo

Ficou do avesso e ninguém viu

sábado, 10 de novembro de 2007

Os gatos


Se lambem e lembram o

toque da mãe de língua

áspera mas aconchegante

Os gatos de pelúcia se

aninham no colo da dona

E ronronam de alegria

Arranham os móveis e se

deleitam com suas whiskas

Os gatos não se aborrecem

Eles se distanciam do redor

Eles de distraem para dentro

Eles meditam budamente

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Franz Kafka

"Lemos para fazer perguntas".

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A noite clama

Estou perdida

Você é meu caos

Desencontrada

Reviro-me nos lençóis

Penso em begônias

Em plantas e segredos

Rolo na cama vazia

Durmo acordada

Porque ouço rumores

Talvez teus passos

Na escada que não tenho

Talvez sejam as vozes

Como a dos esquizofrênicos

Estou perdida e a noite clama

Pelo sono, pelos sonhos

Que não vêm, que não vêm