Um trecho de um conto do primeiro livro da Biba, que você encontra pela web e na Livraria do Maneco. Enjoy!
Juliette
Se você não me interromper, eu conto. O nome dela era Juliette, como a Binoche. Tão linda quanto, você poderá dizer. E era. Só que mais magra menos morena e mais alta. Eu a vi pela primeira vez perto do hotel onde ficamos hospedados, depois na Gare du Nord e na padaria, aquela da esquina onde comprávamos croissants. Ela parecia fantasmagórica às vezes. Usava uns vestidinhos floridos ou com estampas geométricas, nunca lisos. A fantasmagoria vinha de um certo alheamento, uma certa expressão de ausência que eu notava nela. Um dia, por exemplo, ela atravessou a rua como um autômato e foi surpreendida por um ônibus. Eu corri ao encontro dela que não quis ajuda. Ergueu-se insolente e seguiu, perna esfolada no asfalto.
Claro que você não se lembra dela, você queria passear e conhecer monumentos, museus, a torre, a Champs-Elysées enquanto eu queria algo que nem eu sabia o que fosse. Foi conhecendo Juliette que presumi que eu queria um grande amor, desses em que a gente transforma a amada em um objeto de desejo quase inatingível. Sei que você não compreende. Tome seu conhaque, se aqueça e me escute, por favor. É que estando aqui novamente, não posso deixar de pensar nela. Um dia, um raro dia de sol, a gente estava caminhando pela Montmartre, você queria ir naquela livraria... esqueci o nome. Pois é, estávamos entrando naquela galeria quando eu tive certeza de tê-la visto. Você seguiu em frente e eu fiquei dando voltas sobre mim mesmo, procurando.
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