quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ele que amava tanto


Cabia tanto dentro dele, mas tanto, que pensou que era amor. Só o amor podia prometer tal preenchimento. Quantas vezes se olhou no espelho e pensou: "Sou um ser do amor mais amado". Ele , então, sorria. Quando o dia o alcançava cansado do trabalho, dava de ombros. Ia ao banheiro mais próximo e se olhava:"Estou envolto em amor". Mas logo corrigia: "Estou ensimesmado de amor". Passou-se o tempo e ele insistia: aquilo era amor. Uma sensação gorda, sem fome de mais nada que não fosse luz, liberdade, harmonia. Um dia ouviu a coruja piando e sorriu satisfeito: aquilo era amor vindo da natureza. Esbelto e fragmentado pelo tempo, ele começou a juntar as peças que faltavam e realmente tudo coincidia no mesmo texto escrito ou imagético: amor. Escreveu cartas. Fotografou o improvável. Bebeu licor de menta e chocolate. Adotou um gato. Correu livremente por entre as cercas que o separavam do campo externo. Nessas horas era sempre advertido pelo enfermeiro maior, aquele de olhos contraditórios. Nesse caso, ele voltava meio triste, mas ainda assim sentindo-se impregnado de amor. Não lembra quando deixou o trabalho, a mulher e os filhos. Não lembra como foi parar ali, que era um lugar de enfermos. Para ele, tão sadio, isso nem tinha importância. Importante mesmo é que ele era feito do mais puro e absoluto amor.

PS: vou ficar uns dias fora, aproveitem bem o seu tempo! Carpe Diem!!

14 comentários:

Antonio Iraildo (Ira) disse...

o importante mesmo é amar. isso também é morrer, mas antes de tudo é ser. bjim e não demore a voltar.

Biba disse...

Demoro não, Ira. Logo estou de volta.

Bjim e Carpe Diem!!

Beto Canales disse...

legal

Adr.P.K disse...

muito bonito o teu texto Biba, acho que 'texto' não seria bem a palavra... além. muito bonito mesmo.
vou aproveitar o tempo e talvez tomar licor de menta e chocolate
=]
(nunca tinha pensado em licor de menta e chocolate 'assim')

Jânio Dias disse...

Oi, Biba!

Outro dia participei de uma oficina de poesia e o primeiro exercício era fazer um epitáfio. Logo de cara, o primeiro "aluno", um senhor de 74 anos escreveu na lousa:

"Fiz muitos retratos
mas não me revelei"


Acho que ele amou muito.

Beijo.

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Se o Caos é a indiferenciação como potencialidade e se Gaia é a matéria do Universo, Eros é o princípio do movimento. Ainda que Cronos tenha devorado seus filhos, ainda que Urano estrelado tenha coberto Gaia de ciúmes, o que importa é o movimento, o que importa é o deslocamento, sendo que este não necessariamente precisa de espaço para se dar – e nem mesmo necessita de tempo. Assim, se a liberdade está para o amor, a liberdade está para o movimento, para a pulsão de Eros no coração do mundo e das pessoas. Somente assim cercanias não serão cancelas. Somente assim as margaridas urbanas não cairão sem mais nem porquê na frieza do asfalto. E é esse grito que suas palavras contém. Um beijo.

Letícia disse...

Biba,

Quando li "Uma sensação gorda, sem fome de mais nada que não fosse luz, liberdade, harmonia.", pensei: Essa Biba fala por mim. É isso. Uma imagem enorme me veio e esse texto é muito especial. O amor causa uma cegueira e nos distanciamos - mesmo que estejamos dentro de nossas casas. Eu adoro o que você escreve.

Beijos e Carpe Diem. =)

Biba disse...

Que bom que gostou Beto.

Beijão,
Carpe Diem!!

Biba disse...

Adr. Licor de menta e chocolate é muito gostoso e fecha bem com o frio, apesar de uma certa refrescancia.

Beijo,
Carpe Diem!!

Biba disse...

Oi Jânio, também acho que este senhor amou muito, muito mesmo.

Beijo no coração,
Carpe Diem!!

Biba disse...

Obrigada Eduardo. Penso sempre nas margaridas no asfalto. Essa é uma imagem muito forte para mim.

Beijo,
Carpe Diem!!

Biba disse...

Letícia, não adianta, estamos mesmo em sintonia e eu acho isso o máximo, pela distância física e tudo o mais.
Saiba que você também fala por mim em muitas de suas escrituras.

Beijo beijo
Afeto
Carpe Diem!!

Sil disse...

Caramba...
Belo texto...
Foi a primeira vez que li seu blog e gostei muito.
Estou lendo um livro "O Futuro da Humanidade" por Augusto Cury, em linhas não descritas, fala sobre tudo isto que vivemos .. que nos enchemos de algo e depois percebemos que está tudo diferente desde então...

Qdo quiser, também visite meu blog: pensamentosdasil.blogspot.com

Um bom fim de semana!

Biba disse...

Oi Silvia, volte sempre! Visitarei seu blog, sim.

Beijos, bom findi
Carpe Diem!