quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Sobre Ingmar Bergman

"O cinema não é um ofício. É uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O diretor está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico". (Jean-Luc Godard, "Bergmanorama", Cahiers du cinéma, Julho - 1958).
Cinéfilos, em outubro teremos a Semana Temática Ingmar Bergman lá no Ordovás. Fiquem ligados!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cinema: um olhar diferenciado

O público que tem prestigiado as sessões comentadas das Semanas Temáticas do Ordovás está construindo um novo olhar para ver cinema, um olhar diferenciado. Todas as noites surgem perguntas interessantes, indagações que demonstram o interesse do espectador por não apenas se divertir mas interpretar a obra. Há também o silêncio reverencial, como aconteceu com Um Estranho no Ninho. Não havia mais o que ser dito. Se você ainda não conhece as Semanas Temáticas, está aí uma boa dica de programa. Hoje temos: Cabo do Medo, com Robert De Niro e amanhã Os Infiltrados, com Leonardo Di Caprio e Jack Nicholson. A direção é de Martin Scorsese.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Sarau Astral com Nivaldo Pereira

Hoje é dia de Sarau Astral no Zum Zum. O jornalista e produtor cultural Nivaldo Pereira falará sobre o signo de Virgem, numa abordagem que engloba o mítico e as características de famosos do signo. Jorge Luis Borges, Caio Fernando Abreu estão na lista, entre os escritores. Confira! Às 19h.

domingo, 26 de agosto de 2007

Taxi Driver vê sociopatia da urbe

Insano, comovente e impiedoso. Estes podem ser alguns dos adjetivos para um filme que não perde sua atualidade por tratar da alienação social e do universo sociopata. Taxi Driver incorpora em sua estética elementos do film noir com o uso da cor sendo estudado de um modo invulgar. Observe o vermelho, o verde e o amarelo em cena. Robert De Niro marcou sua carreira como o calado e violento Travis sob a direção de Martin Scorsese.
Programa imperdível para segunda ; às 19h30, no Ordovás. Sessão comentada.

Semana Scorsese no Ordovás



A partir de segunda até o dia 30 de agosto, a Sala Ulisses Geremia, no Ordovás, apresenta a Semana Temática Scorsese. Os filmes são os seguintes: Taxi Driver (1976); Os Bons Companheiros (1990); Cabo do Medo (1991) e Os Infiltrados (2006) que deu o Oscar de direção ao cineasta este ano. As sessões são comentadas por mim e iniciam às 19h30.

sábado, 25 de agosto de 2007

Água de Melissa

Tudo o que eu tenho aqui se resume a isso, água de Melissa e vontade de chorar. Ontem o caminhão levou a mudança. Hoje estou pintando a casa que, vazia, me põe em estado de vigília. Uma casa quieta assim é como um lugar tão carregado de recordações que a gente mal pode suportar. São os cheiros, o bolor dos dias, a rima das horas. Tudo que fez conexão conosco e agora é irrealidade, distração. As paredes vão tomando essa nova cor que escolhi. Cida diz que é uma cor enfadonha. E isso existe? Eu acho que ela está mais triste do que eu, a Cida. Sabe, estou pintando sem pressa, tanto que agora parei para apenas pensar.

Não sei. Eu não queria sair daqui, não depois de 12 anos, mas agora nós vamos para outra cidade e isso é apavorante. Eu já devia estar lá, com a mudança, mas eu evitei. Deixa que os outros arrumem tudo como quiserem, eu preciso ficar mais um pouco, olhar a casa, pintá-la como um último gesto de carinho. O pincel sobe e desce, a tinta às vezes escorre porque não sou profissional e me descuido um pouco enquanto penso. Ontem eu senti algo estranho no meio dessa solidão de casa vazia. Uma coisa que me estremeceu e eu tive um medo absurdo de ficar presa aqui. Imagine, as janelas todas abertas e eu...

Eu sei, eu sei. Estou sentindo outra vez. Ontem não foi o primeiro indício de que está voltando. No dia da mudança aconteceu de eu não conseguir sair do banheiro. Fiquei lá uma hora, encostada à porta, sem conseguir me mexer até que alguém bateu e pediu para entrar. Meus dedos mal conseguiam tocar na fechadura. Foi terrível. Andra me deu água de Melissa quando me viu agachada a um canto, abraçada a mim mesma. Ela não faz idéia do que se passa. E eu vou confessar, tive outro incidente. Devo chamar de quê? Surto?

Foi há alguns meses. Eu saí com a Cida, ela queria comprar um vestido. Depois fomos comer alguma coisa. Então ela me disse para ir para uma mesa e esperar lá porque havia muita gente, uma fila daquelas. Eu fiquei no único lugar disponível e me distraí olhando as pessoas, as faxineiras, a luz que entra pelo teto de vidro, balões pendurados, essas coisas e o tempo passou um pouco, não sei, dez ou quinze minutos, nem isso. Daí eu olhei para aquela gente toda e simplesmente não vi a Cida. Entende? Eu a procurei entre as pessoas, levantei e busquei com o meu olhar mais atento e nada. Daí subiu aquele calor que vem nessas horas e o terror que se segue a ele.

Eu tentei racionalizar que ela estava lá em algum lugar e logo ia aparecer, mas coisas horríveis me vinham à cabeça, tais como: ela foi embora e me deixou aqui ou ela está perdida ou foi raptada (!) ou... Tudo absolutamente ridículo, eu sei. Entrei em um estado de pavor em que não consigo sair do lugar, não movo um dedo, fico inerte dentro do horror. Eu quase não conseguia mais respirar quando ela apareceu com a bandeja, sorrindo. “Que fila, Mirna!”, disse sem suspeitar. Comi o lanche maquinalmente, tentando voltar ao estado “normal” sem que ela percebesse que eu saíra dele.

Eu não quero passar por tudo novamente. Medicações pesadas, sessões de análise, regressão, compreende? Por isso estou escondendo deles enquanto posso. Os sonhos também voltaram. Como flashes do imponderável eles me levam a um lugar recôndido de mim onde há uma espécie de dor sepultada. Nesse semestre houve essa instabilidade interna tão ameaçadora que eu cheguei a imaginar que desta vez não teria saída. Mas, você sabe, a gente pode se enganar quanto a isso. Eu queria que você soubesse porque se algo acontecer, se eu ficar lá nesse recôndido de mim, pelo menos alguém saberá para onde fui.

Digo isso porque tenho notado que eu me afasto cada vez mais das pessoas, Cida e Andra têm reclamado um pouco: “Mirna, você está tão alheia!”. Mas não é que eu fique devaneando, é que algo me impele ao centro. É, é como se esse lugar fosse o núcleo de mim mesma e eu preciso ir para lá porque é seguro. O medo fica fora. O pânico se dissolve quando eu fico dentro do que desconheço. Parece-se com uma mornidão como quando a gente estava dentro da mãe. Tenho pensando muito que esse lugar pode ser a minha perdição ou redenção. Você vai saber explicar isso aos outros se acontecer? Eu quero dizer, se eu me perder dentro desse centro invisível?

Vou terminar a pintura nesse meu ritmo vagaroso. Quando tenho sede tomo água de Melissa que é para ir me preparando para a noite, fico calma e consigo dormir melhor. Durmo no apartamento do Zeca por uns dias. Lembra dele? Tão gentil! Mas, sabe, a insônia tem me rondado, como sempre. Nessas horas eu peço pra ele ler alguma coisa pra mim e ele escolhe poemas do Drummond, do Mário Quintana ou algum salmo que escolho ao acaso. Mirna, confio em você que saberá o que fazer de mim quando eu estiver alheia e catatônica no meio do nada. Ajude-me então, você que me é.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Quarta-feira sépia

O dia se demoliu como um edifício em implosão. Fui toda para dentro, os olhos recebendo o cimento, o pó. Não é à toa que foi na quarta-feira. Pois se este dia foi feito para se chorar dele. E assim chorei. Não tive medo de me arregalar inteira em cima da dor e dizer a ela: olha, eu continuo aqui. Vai me doendo toda. Como quem rói. Vai me doendo a alma cansada. Não faz mal, o que o dia pedia era esse desavergonhado gesto de apenas ser. E isso, às vezes pede silêncio e lenços de papel.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A Noiva Síria

Quarta-feira, às 19h30, no Ordovás, é dia de conhecer A Noiva Síria, uma co-produção Israel, França e Alemanha. O filme, dirigido por Eran Riklis, aborda questões relacionadas a preconceitos, intolerância (religiosa, familiar, política...). É uma oportunidade de conhecer um cinema diferenciado e com personagens cativantes. Sessão comentada.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

SerraCult

Tem novidade editorial no mercado jornalístico. Trata-se da revista SerraCult editada pela Serramidia sob direção de Rudiane Smialoski e edição do jornalista Delano Pieta. Nela você encontra diversidade inteligente sobre cultura.Esta é uma iniciativa que merece parabéns pela coragem e ousadia diante de uma certa apatia no que diz respeito à discussão sobre artes na Serra. A partir de setembro estarei colaborando com uma coluna sobre cinema. Visite o site!

domingo, 19 de agosto de 2007

São os rios - Jorge Luis Borges

Somos o tempo. Somos a fomosa
parábola de Heráclito o Obscuro.
Somos a água, não o diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos aquele grego
que se olha no rio. Seu semblante
muda na água do espelho mutante,
no cristal que muda como o fogo.
Somos o vão rio prefixado,
rumo a seu mar. Pela sombra cercado.
Tudo nos disse adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha sua moeda.
E no entanto há algo que se queda
e no entanto há algo que se queixa.

sábado, 18 de agosto de 2007

Truman Capote

"As palavras sempre me salvaram da tristeza"

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Infinito fundo azul

Abrindo espaços
um lança-chamas
a chaminé que vai dar no oco
da-casa-da-lareira-do-dono-da-casa

Abrindo segmentos
riscando ruidosamente
- sem conseguir seguir -
um pensamento inteiro
uno eletronizado

vontade de fazer-se
ser um infinito fundo azul
um infinito fundo
(um quê?)

Através de nós
intermináveis rumores
insuportáveis trapaças
o eu contra o eu-tu
uma variação difícil
a inapetência, a completude
o não
atravessado
dosado
A criação do intolerável
daquilo quê.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Faltando um Pedaço - Djavan

"O amor é um grande laço
Um passo pr`uma armadilha
Um lobo correndo em círculo
Pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada
Com a fuga de uma ilha
Tanto engorda quanto mata
Feito desgosto de filha"

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Artigo sobre Caio F.


Se você visitar o site Caio F. (ver link ao lado) poderá ler o resultado da análise semiótica realizada sobre os contos do autor clicando em Pesquisa, na Página Mãe. Dentro, há um texto explicando algumas coisas e nele um link intitulado novamente de pesquisa , é a entrada para o artigo resultado final do trabalho que realizei sobre o escritor. Para os aficionados em Caio F., vale dizer que saíram edições recentes de seus livros incluindo uma coletânea dos seus melhores contos.

Guimarães Rosa

O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da
gente é coragem.


Muitas correntes

É tempo de arrancar raízes
Sangrar a dor até purgar
Resignificar tudo
Abster-se
Enlouquecer
De uma loucura mansa
mas inobstante, cruel
É tempo de se dar um tempo
para encontrar uma brecha
um porto seguro,
uma nau que não afunde
um grito do fundo d`alma
É preciso render-se ao inevitável
porque o rio tem muitas correntes

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Maninha



Chico Buarque/1977
Gravada no disco Tom e Miúcha - 77

Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões
A roupa no varal
Feriado nacional
E as estrelas salpicadas nas canções
Se lembra quando toda modinha
Falava de amor
Pois nunca mais cantei, ó maninha
Depois que ele chegou

Se lembra da jaqueira
A fruta no capim
O sonho que você contou pra mim
Os passos no porão
Lembra da assombração
E das almas com perfume de jasmim
Se lembra do jardim, ó maninha
Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que ele pisou

Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar
Que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim, tão sozinho
A me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha
Pra nunca mais voltar

domingo, 12 de agosto de 2007

"Todo abismo é navegável
a barquinhos de papel"

Guimarães Rosa

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

"O amigo escuta todas as nossas coisas sem aquela cara que parece

dizer: E eu com isso?"

Mario Quintana

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Sobre ignorância e presunção

Ele se chama Paulo Coelho. E é o escritor que mais vende neste país de analfabetos. Ignorante e presunçoso, como qualquer tupiniquin que seja elevado ao "estrelato", tem a incapacidade de calar a boca para não dizer bobagens. Claro, ele se acha acima do bem do do mal. Leiam o que disse o "mago" sobre Ingmar Bergman esta semana na IstoÉ e tirem suas próprias conclusões:
"Na minha juventude, fui obrigado a gostar de Bergman. Se não gostasse, era marginalizado. Secretamente eu o detestava. Hoje posso dizer: embora o homem seja fascinante, seus filmes são chatísssimos"

Sobre cafés e cigarros

O cineasta Jim Jarmusch é conhecido por escolher temáticas inovadoras e até bizarras para seus filmes. Coffe and Cigarrettes é um primor de criatividade sobre um tema banal: cafés e cigarros. Isso, claro, é pura aparência. O diretor nos coloca em frente a uma deliciosa brincadeira na qual artistas como Alfred Molina, por exemplo, contracena com Steve Coogan sendo eles mesmos. Aliás, todos os atores representam a si mesmos e o resultado é hilariante. Diálogos malucos, idéias obssessivas, incomunicabilidade. Imagine um encontro entre Iggy Pop e Tom Waits! O que esperar dessa mistura? Graça e leveza, e um certo tom de paranóia. Os dois estão ótimos. E Cate Blanchett? Admirável como ela mesma e uma prima imaginária, que constrói com seu raro talento. Vale a pena assistir!!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Talvez

Como quem descobre um mistério
mas não descobre o porquê
o descobre apenas como
sem o menor desvelamento

Talvez
como quem se antecipa
e perde o momento exato
o momento pleno de tudo
e arranca antes o sabor das coisas

Talvez
havendo um centro
uma importância
uma inadvertência
um consolo prévio

Talvez
enquanto algo se define
à beira do insuspeitado
com um sorriso mocho
tolo de ser tão o que já não pode ser

Mas talvez!
No lápis de cor das cores
no desenho rabiscado ao acaso
na latência das rimas
sonhos travestidos de luz, inacessíveis

Talvez,
mas pode ser que não,
talvez.