Era para amassar com os dedos. Era como inventar mundos, de grotesca e assombrosa criatividade. Era para isso, então. Amassava e moldava. As figuras tornavam-se sólidas, eram a concretização de algo que pairava no obscuro da mente. Talvez não tão obscuro assim. A mão ia encaminhando coisas coisas coisas. Como se tecesse. Como um artesão. Como um desfiador dos emaranhados dos sonhos. Cabia tudo nas mãos. Os dedos descobriam a melhor forma, o melhor ângulo. Os dedos como experimentação do imaginável. O barro transformado. Escapando àquilo previamente esperado. Às vezes havia a surpresa de um contorno inexplicável, ininteligível. Mas as formas tomavam suas formas como se estivessem há muito tempo moldadas e bastasse, com dedos cautelosos, tirá-las de lá, onde estavam. Retirá-las com zelo e curiosidade, porque apesar de já concebidas não eram conhecidas. Não eram, ainda, o que viriam a ser, embora no cerne já o fossem.
Trecho de Arremedo, conto de O Imprevisto
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