Violino. Sim, era um som de violino que eu ouvia e me colocava livre, à disposição daquela imaterialidade sonora. Não sei de onde vinha a música, pois então já era música. E comecei a pensar nas lágrimas de outro dia e achei tudo tão banal, apenas porque aquele violino me transportava para um estado de puro sentir, uma primeiridade. Era manhã, e as manhãs são manhosas, têm uma certa lentidão em querer amanhecer, virar dia outra vez. Fiquei quieta, ouvindo os acordes, deixando tudo transparecer, esvanecer, seduzida pelo som. Assim devia ser a vida, sempre. Um violino no alto da manhã deixando-nos estupefatos. Não descobri de onde vinha a música, nem precisava. Tem coisas que não se diz e tem coisas que são só para sentir, assim, meio que sonolentos, à beira de mais um dia indefinido.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
domingo, 24 de agosto de 2008
Solidão
Há um perigo em cada esquina. Há uma torsão dentro de nós, como atletas descuidados que somos. Vadiamos noites afora querendo algo como uma verdade absoluta que não vem não vem não tem. A cada dia nos esforçamos mais e mais, porém sempre alguém se vai, alguém se distrai da vida e escolhe outros caminhos. E ficamos olhando, perplexos, espiando a dor alheia como se a nossa própria não bastasse. "Senti teu coração perfeito batendo à toa e isso dói"... Hoje é um dia de promessas não cumpridas. Há esquinas demais à nossa espera. Melhor bater em alguma porta, daquelas com aldrava, fortes, de madeira maciça.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Um pontapé, um sorriso, um beijo...
Acontecem coisas o tempo todo, você sabe. Pode ser um pontapé que nos dão, assim metaforicamente falando. Pode ser um sorriso descomprometido. Como pode ser um beijo. Um beijo que não se espera mas que sempre se quis. Dá para entender? Tem coisas boas demais acontecendo ao nosso redor e então aquela dorzinha de cabeça parece uma tolice. Bom mesmo é poder olhar o outro e ver. Ah, o Outro, como queria Lacan. Tenho a impressão que às vezes você não me entende direito ou é só um modo de recolhimento? Um pontapé, um sorriso, um beijo. Tudo intercepta o eixo das possibilidades, sempre tão raras. A vida entra de viés e deixa o ar rarefeito.
domingo, 10 de agosto de 2008
O presente
Eu ganhei um presente... Não, não é assim: eu ganhei o presente de alguém muito especial. Não vou falar do momento da acolhida, da recepção. Nem vou falar o que é o presente. Mas vou dar uma pista para os mais atentos:
"Se eu pensasse claramente, diria que luto sozinha nesta escuridão, numa profunda escuridão...E que só eu posso saber. Somente eu posso compreender minha condição. Você vive com uma ameaça; você diz que vive na iminência de minha extinção. Eu vivo nela também."
Virginia Woolf para seu marido , Leonard
"Se eu pensasse claramente, diria que luto sozinha nesta escuridão, numa profunda escuridão...E que só eu posso saber. Somente eu posso compreender minha condição. Você vive com uma ameaça; você diz que vive na iminência de minha extinção. Eu vivo nela também."
Virginia Woolf para seu marido , Leonard
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Tarde
Hoje acordei tarde, muito tarde. Tarde para a vida? Não sei, pensei naqueles versos: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu". É o pesadelo de hoje, do agora-já. Falo do imediato porque tenho a esperança de uma virada. O dia é longo. Há muito a acontecer. A renite incomoda. Os gatos se ausentam quando me sentem assim, distraída e triste. Mas, como disse, tudo pode mudar. Eu bem posso encontrar um amigo com quem conversar. Eu bem posso comer um doce bem saboroso. Eu bem posso ficar quietinha ouvindo o vento lá fora. Que hoje está ventando por demais...
sábado, 2 de agosto de 2008
Agosto parido
Não tenho medo do escuro,
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido, ninguem prometeu
(Renato Russo)
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido, ninguem prometeu
(Renato Russo)
Agosto nasce com gosto de sangue de animal recém-parido. Lembranças se esvaem como a placenta. Tímida, reconheço o caminho a seguir. A estrada sempre longe, mas que está somente a alguns passos. Tudo que me rodeia gira devagar, como devagar eu procuro luz e entendimento. Os dias não têm sido fáceis, porque nada é fácil, esta é a verdade. A mãe lambe o sangue e a placenta da cria. Eles não sabem o que é futuro, o que é passado, o que é crescer. São tão abençoados na ignorância de apenas ser. Eu afundo os dedos nos cabelos querendo gritar, sim, meu grito acordaria a vizinhança inteira. Melhor deixar as luzes acesas...
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