sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Exteriores

Chorei ao som do faroeste até não ter mais lágrimas que pudessem ser choradas naquele momento. Depois fui até a cozinha, abri lentamente a geladeira, como se não quisesse verdadeiramente fazê-lo, e tomei leite, na leiteira mesmo, sem saber direito porque agia assim. Era pouco o leite e não me saciei. O líquido estava tão gelado, a noite era tão fria e chovia tanto que comecei a sentir uma dor rouca na garganta assim que voltei à sala.

Divisei uma sombra na parede e esperei um movimento. Você não estava mais com aquele jeito que sempre rebuscava a noite. Um pouco fatal. Você possuía então, um modo distante de criança assustada e ferida. Fiquei parado alimentando meus olhos úmidos com sua imagem congelada. Entorpeci-me. Você começou dizendo que já não era a mesma. Foi esta a primeira vez que você falou alguma coisa ao chegar. Lembro que sua voz me despertou. Eu quis demonstrar que também já não era o mesmo, mas não sabia como. Por isso, deixei-me estar à luz da televisão sem realmente estar. Afinal, julguei que aquele instante seria eterno. (Trecho do conto "Exteriores", do livro O Imprevisto)

4 comentários:

adri antunes disse...

sabe o que é mais legal, o que mostra que mesmo em silêncio estamos sempre nos vendo, e nos lendo e de certa forma nos acolhendo? as visitas registradas em nossos blogues!!! ehehehe
bonfindi!!! ei, parece que vai ter sol, cruzemos os dedos juntasss!
bjuu

Biba disse...

sim, Adri, estamos nos acolhendo, vendo e lendo todos os dias através dos nossos blogues, muito sintonizadas em cada palavra e imagem uma da outra. Bonfindi pra você também e que venha o sol!!!
Bjuss
Carpe Diem!

Caco disse...

Que belo trecho!
Meu conto favorito! Sei ele quase de cor! 
beijos

Biba disse...

Desta vez foi pra você Caco, porque eu sei que você gosta muito desse conto. Escolhi um trecho diferente daquele que você decorou! "Tudo é uma questão de momento, não é?"
Bjuss
Carpe Diem!