quarta-feira, 1 de julho de 2009

Julho

... julho em branco me dá toda uma liberdade que eu nem conhecia. Viver sob o estabelecido é um dos nossos erros. Que venha a liberdade de um julho sedento de descanso, amor e diversão. Com uma certa vaguidade, um certo olhar para os demais a nossa volta. Que seja bom e diversificado.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Junho estagnado

Este junho assim sangrado de fora a fora. Esse junho machucando os pés descalços lhe dá vontade de sumir. Os dias têm sido tensos. As noites de claridade que não se redime em alguma produção. O travesseiro, as florezinhas dos lençóis, suor e insanidade. Fechando os olhos ele se dá conta do escuro, mas é abrindo que não vê o céu. Estará cego de vontade de pensar? Cego de desejo de dormir um sono de anjos? O cigarro finda. Então percebe a brasa avermelhada. Então não está cego. É fome. É sede. É alguma coisa ligada aos ânimos e ao corpo. Objeta que é só cansaço de um junho que finda interminável. A manhã escorreu lenta como um fio de água na vidraça suja. Este junho assim desfeito é o que de melhor poderia acontecer a ele. Fecha os olhos novamente e suga o cigarro. Toda a nicotina. Para morrer dela.

domingo, 21 de junho de 2009

Vitor Ramil

Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada
Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas
Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro
É sinal que valeu!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Diploma de Jornalismo

Estou parada no meio do caminho e no meio do caminho, avisou Drummond, existe uma pedra.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Voltar é sempre aprender, como ir é sempre descobrir. Algo fica, algo vai, algo se renova. Pontes. É nelas que penso ao querer esse aprendizado. Elas unem duas metades, duas partes, dois interesses. As pontes nos renovam. (Veja As Pontes de Madison, por exemplo). Falo das pontes como metáfora, vocês já entenderam. Por isso, algumas delas, em tempos difíceis, podem ruir. Voltei com essa sensação, de que uma ponte ruiu no meu caminho e eu nem tive tempo de escapar dos escombros. Dói. Despencada e frouxa, desfeita. Dói. Mas, se voltar é aprendizado, tenho que tirar alguma coisa disso. Preciso ainda me refazer dos ferimentos. Como é bom estar de volta...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ele que amava tanto


Cabia tanto dentro dele, mas tanto, que pensou que era amor. Só o amor podia prometer tal preenchimento. Quantas vezes se olhou no espelho e pensou: "Sou um ser do amor mais amado". Ele , então, sorria. Quando o dia o alcançava cansado do trabalho, dava de ombros. Ia ao banheiro mais próximo e se olhava:"Estou envolto em amor". Mas logo corrigia: "Estou ensimesmado de amor". Passou-se o tempo e ele insistia: aquilo era amor. Uma sensação gorda, sem fome de mais nada que não fosse luz, liberdade, harmonia. Um dia ouviu a coruja piando e sorriu satisfeito: aquilo era amor vindo da natureza. Esbelto e fragmentado pelo tempo, ele começou a juntar as peças que faltavam e realmente tudo coincidia no mesmo texto escrito ou imagético: amor. Escreveu cartas. Fotografou o improvável. Bebeu licor de menta e chocolate. Adotou um gato. Correu livremente por entre as cercas que o separavam do campo externo. Nessas horas era sempre advertido pelo enfermeiro maior, aquele de olhos contraditórios. Nesse caso, ele voltava meio triste, mas ainda assim sentindo-se impregnado de amor. Não lembra quando deixou o trabalho, a mulher e os filhos. Não lembra como foi parar ali, que era um lugar de enfermos. Para ele, tão sadio, isso nem tinha importância. Importante mesmo é que ele era feito do mais puro e absoluto amor.

PS: vou ficar uns dias fora, aproveitem bem o seu tempo! Carpe Diem!!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O passado e suas teias

Eu fecho os olhos e nem precisava. Revejo tudo e não queria. Repasso quando quero me desfazer. Recuo querendo avançar. Talvez o dia não seja perfeito para rememorar. Nenhum é. Mas podia ter feito sol ou chovido, para não ser um dia abismático como foi. Teria olhado para trás de outro modo. O que importa realmente importa? Eu fecho os olhos e vejo. Lá está, como um enredo em flashback. Lá está, o passado todo. Vítreo, petrificado, sem as nuances que dele sempre guardei. Por que agora fica assim, tudo cinza-azulado enquanto as lembranças convergem a um portal de ideias insanas? Vítreo? Será mesmo que ainda sei distinguir esse espaço entre o ontem e o amanhã, que é meu hoje-agora-aqui? Fecho os olhos. Respiro. Dou um passo, outro. Talvez seja isso, ir em frente mesmo que vagarosamente. Com um certo temor. Dúvidas. Os olhos se abrem e a imagem congelada é a dele sorrindo um sorriso que só conheci naquele rosto.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Voo 447

Começou dizendo assim; "Alguma coisa aconteceu comigo". Era alguma coisa tão estranha que não sabia como falar dela. Olhou para os lados como a pedir socorro. Fechou os olhos. Colocou as duas mãos enluvadas na testa e chorou. Um choro manso, descabido. Ninguém ao redor. Tudo que nele havia agora era espanto e estranheza. "Alguma coisa aconteceu comigo que não consigo entender". E, entender é o que sempre sobra de nossos desdobramentos mentais. Os sentimentais também pedem entendimento. Era o caso dele. Não. Não queria falar sobre o voo. Só queria anoitecer assim, com aqueles olhos inchados de chorar e experimentar a dor pela primeira vez sem ela. Não descobriria tão cedo que o luto pede tempo e a ausência é sempre maior.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Decisão

Usava um chapeuzinho e todos os agasalhos a que tinha direito. Disseram que iria nevar. Dizem tantas coisas que ela mal pode acreditar naquilo. Anos passados houve a mesma informação imprecisa. Bastava morar na Serra Gaúcha para que logo surgissem esses boatos. Ela, enfim, enfrentou a manhã gelada quando a vontade era de ficar em casa, no quentinho. Mas, Bárbara tinha um compromisso importante. Na verdade um encontro em um pub novo na cidade. Pubs abrem pelo final da manhã e servem bons lanches. Esperaria por ele naquele local, como haviam combinado dias antes, por telefone. O frio quase a fez desistir, mas pensou que ele ficaria muito magoado ou coisa assim. Encontros desfeitos sempre deixam alguma marca, por pequena que seja. E, Bárbara não admitia fazer isso com alguém. Tinha dedos para tudo, como se diz, era "cheia de dedos". Ela ajeitou o chapeuzinho e os brincos de borboleta e sentou em um sofá confortável. Logo ele apareceria com aquele sorriso maroto. Ela se continha. Era avessa à demonstrações exageradas de afeto, quando, de fato, estava visivelmente apaixonada. Para Bárbara, ele não percebia nada. Era discreta ao cubo. Ele, no entanto, revelava seus sentimentos aos poucos. Uma mensagem no celular. Um telefonema insuspeitado. Um convite para o almoço no pub. Bárbara sentou e esperou. Tomou um café trufado. Olhou uns folhetos do bar. Cruzou e descruzou as pernas várias vezes. Observou as pessoas que chegavam. A cada vez seu olhar se iluminava, agora era ele. Porém, nada. O danado não apareceu. Ela, então, conformada, pediu outro café trufado e decidiu que nunca, nunca mais respondia um e-mail dele. Falar até falava, o trivial. Mas, a ausência dele era agora uma ausência para sempre.

domingo, 31 de maio de 2009

O retorno

Tenho vontade de Clarice e Caio F.. Volto com fome de leitura e densidade. Com vontade de trocar ideias e de abraçar. Sintam-se abraçados, portanto. Volto cheia de energia e com o brilho do olho reluzindo feito um diamante raro. Ando cada vez mais para a frente, cada vez mais rápido, mas sem estresse agora. Tudo é espelhamento. Vivência. Alegria. Viajar é sempre um bálsamo, mesmo que a gente esteja em um ônibus e na chuva. Vá, vá, sempre se pode aproveitar para um boa conversa, um soninho repentino, uma boa comilança (passas, chocolate, rapadurinha, barra de cereal). Sinto que tudo pode entrar em sintonia quando se está aberto a isso. Foi o que aconteceu nesse Congresso em Blumenau, O Intercom Sul. Tudo valeu a pena, como dizia Pessoa, porque a alma não é pequena. Desta vez sem fotos!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Turma, gente, pessoal!!! Hellllooooooooooooooooo!!! Quero avisar que estarei fora por uns dias, volto semana que vem, tá? Vou para Blumenau, no Intercom Sul. Deixo meu beijo. Carpe Diem!

domingo, 24 de maio de 2009



Quando vai chegando perto, a gente sempre sente qualquer coisinha diferente. Muitos dizem que não. É um dia como qualquer outro e enfim, não muda nada. Para mim, quando 26 de maio está por chegar, tenho vontade de alegria. Lembro dos bolos e tortas e doces de minha avó. De amigos que hoje estão distantes, virtualmente, inclusive. O aniversário é só um rito de passagem, eu sei. Mas para mim é também o dia da recordação dos outros aniversários, de quando eu era inocente e imatura e franzina ("mignon", dizia uma professora) e sem dinheiro ou arretada e madura e menos franzina, não importa. Ah, igualmente sem dinheiro. (Risos). O gosto de lembrar é passageiro, como o almoço que farei para mim mesma. Mas a memória guarda até o improvável. Por isso, tenho saudade deles e daquilo que significou ser aniversariante em tempos idos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Olho a tela vazia. Todos passam por isso. Olho a tela vazia e me resguardo de qualquer gesto a não ser o de tocar as teclas delicadamente. Até isso tem que ser feito com suavidade. A tela me diz que hoje estou melhor que ontem e que amanhã estarei melhor que hoje que foi um dia de intensidades. Eu o vi me esperando e discretamente me esgueirei. A lentidão do dia fez com que eu o esquecesse. Tem vezes que é melhor esquecer o não-dito. Tem vezes que é melhor arredar-se um pouco e aceitar que não vai acontecer nada. Não está previsto, entende? E, sim, as coisas podem ser imprevisíveis, eu sei. Mas não aquilo que se escolhe. Fiz minhas escolhas e ele não cabe dentro delas. Fossem outros tempos, quem sabe. No tempo atual eu me rememoro e me concedo luz e me divirto com o riso alheio. Só me reservo o direito da espera e da escolha madura. Eu mesma estou me cozendo, arranjo linhas coloridas para um pano de aventuras triviais. Gosto de pensar que assim estou atuante e bela e louca. Sempre louca. A tela me olha cheia de palavras. Agora, o pensamento vertido cede lugar à clareza das horas. Amanhã tem mais...

domingo, 17 de maio de 2009

Surpresa

Não, ela não acreditava em duendes ou outras dessas invenções malucas. Tinha sim o imaginário repleto de nomes de artistas famosos. Nenhum deles interpretou um duende. Ela fazia as compras no supermercado na hora em que havia mais gente que era para poder tropeçar, se segurar em alguém, tocar o outro, esbarrar. Ela era muito solitária. Tinha vergonha de seu próprio êxtase sozinha. Quando chegava ao clímax, mordia o travesseiro sendo que a vontade era de gritar. Porém ela era assim, e quase inacessível com seus olhos arredios de gata de rua. Não sabia se era desejada. Não sabia se vestia as roupas "certas", se chamava a atenção ou se passava desapercebida. Todo dia rezava para aparecer alguém na sua vida. Alguém que virasse tudo do avesso. Ela jurava que então seria travessa e lúdica como ninguém ousaria imaginar. Na cama, ela queria dizer. Pois esse alguém ela desejava em sua ampla e adorável cama de marfim. Naquele dia, quando saiu caminhando à toa e passou por uma construção, ouviu assovios. Ficou ligeiramente tocada, tal era a sua solidão. Contudo, logo lembrou que homens em construções querem fisgar qualquer peixe. Assim, tomada por um certo abatimento, voltou para casa e enfiou-se sob os lençóis cheirosos de amaciante. Chorou baixinho, para não assustar o duende que estava no outro travesseiro olhando para ela com uma cara de compaixão, que nossa!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Inquieta

O que eu posso fazer que eu não faço porque me corre uma lágrima que não devia estar ali? O que posso de mim senão ansiedade e loucura num gesto sempre breve e pouco? Que será de mim depois de tantos livros e o terror do engessado gritando sua dor? Escrever me mantém viva e pronta para o inevitável. O que eu posso fazer se sair de mim é só o que me leva de volta ao eu-mesma? Que lição é essa que não estou aprendendo, afinal? Existem mesmo lições a serem aprendidas? Ou é tudo ilusão? Não falo de narciso, com o eu-mesma. É só um jeito de estar para dentro, sem olhar o umbigo. Olho o outro, sim. Sei que isso tem feito a diferença. Sei que isso tem me salvo da inércia e do estupor. Sem ele, o outro, viveria no vazio de minha própria insensatez. Vem aqui e me diz qualquer coisa assim. Vem aqui e me pega de jeito com uma palavra suave-tocante-leve ou forte-tocante-feroz. Mas vem. Não ignore minha dor que não é maior nem menor que a sua. Não me leve à toa.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Indo embora

Arrede-se um pouco. Me de espaço. Me de alegria. Saia desse ninho e me ponha em polvorosa. Pague em dia o que tiver para pagar. Arrume tudo que tiver para arrumar. Sim, mesmo metafisicamente falando.

Você toma um gole fundo de conhaque e gira o copo para movimentar o líquido. Você fingiu que me ouvia e eu fui seguindo, sem acreditar. Porque tem aquela história de um dia a casa cai. Talvez você estivesse disposto a isso. A deixar tudo estornado.

Como foi que me apeguei a você como quem gruda em uma coisa pegajosa? Claro que tive nojo. De mim. Do meu desalento. Dessa overdose de silêncios e pausas mal resolvidos. Foi aí que pensei nele. Nunca antes havia me interessado, ainda que me desse todas as pistas de um jogo sedutor. Sorri para dentro. Mas você, cavalo selvagem, viu.

Por que esse sorriso. Ou tira esse sorriso da cara, você disse, sem uma palavra seguer. Mordi o lábio inferior, era um cacoete. Pensei nele por pensar mas foi bom. Você me desorientava em tudo. Por isso, levantei da poltrona calmamente para não tontear. Peguei minha bolsa e saí sem pressa ou pesar.

Sei que dessa vez será a última. Essas coisas a gente sempre sabe.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A difícil leitura

Eles não queriam ler. Relutavam. Lutavam contra um texto acadêmico como quem empurra uma porta emperrada. Eu os vi assim e pensei na secundidade peirciana. Eu os vi assim e fiquei preocupada. Porque ler tem que ser prazeroso, mesmo que seja Edgar Morin. Mas eles lutavam. Eu podia vê-los se afogando em letras, tropeçando em palavras, gritando por socorro. Quietos, eu disse. Quietos. Como se fosse a quietude tudo de que precisavam para entrar no jogo do autor. Eles, enfim se calaram. Deram-se por vencidos e começaram a ler, com a dificuldade de quem dá os primeiros passos, com uma pontinha de curiosidade nascendo, enfim, sobre aquele texto cheio de termos novos, interessantes, mas que não lhes traziam muitas associações, desconfiei. Cai na prova? Cai. Tudo cai na prova. Disseram que estou ficando "malvada"...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Maio

Maio sempre vem assim com um gosto de outubro. Muitos maios virão, muitas manhãs. Assim como em outubro. É bom pensar que se tem um mês só da gente. Aquele em que se aniversaria. Aquele em que os dias parecem mais azuis mesmo quando estão acinzentados. A beleza de maio é indiscutível. Quer saber? Maio vem de soslaio. Até rimou. É um mês de 31 dias e o primeiro foi vivido intensamente em Nova Petrópolis, uma bela cidade de origem alemã aqui na Serra. Sol forte e um certo friozinho. Longas caminhadas. Malharias, claro. Sorvete de chocolate com calda de caramelo. Gentes passando. Maio chegando com vontade de ser muito mais que qualquer outro em minha vida.