terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ainda é 30 de dezembro e eu penso que o tempo agora deu uma relaxada, parece arrastar-se. Queremos logo a virada de ano. Quero viajar, fazer tantas coisas. Entre elas fotografar muito pois ganhei uma câmera de natal. Ouço U2, o melhor dos 90, e penso nessas coisas: viajar, fotografar, gravar, esquecer, lembrar...

Trecho de um inédito

Era assim: às vezes o mundo não tinha cor. Havia guerra, sonhos destruídos, luta incessante. Queria apenas descansar um pouco. Ouvir uma voz suave a lhe dizer coisas bonitas. Como se ainda fosse criança e seus desejos, prioridade. Desistiu. Tratava-se apenas de mais um domingo. Era final de janeiro, um amigo aniversariava, uma plantinha brotara no vaso da sala, uma certa luz ensaiava moldar esse dia. Todas as coisas pareciam estupidamente certas, em seus lugares, como foram deixadas no sábado febril. Sim, porque havia o calor.

Era assim: ninguém viria visitá-la em sua casa-corredor, tão sozinha se sentia. Havia um marido que fora jogar. E ela se entregava à televisão, deitada no surrado sofá da sala. Do terreno ao lado vinham ruídos ocasionais. Por que se importar com eles? Tudo era letargia, sono, desilusão. Porém não tinha vontade de chorar. Parecia ser esse o seu destino. Além do mais, sempre havia a possibilidade de o telefone tocar nem que fosse por engano. Mas não esperava nem isso. Tudo era assim: vago demais.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Nada fabuloso


Eu bem que queria ir ao cinema, mas por aqui nada de especial. Em DVD arrisquei dois palpites furados, um deles com a belíssima Audrey Tautou como protagonista. Ai! A nossa eterna Amélie Poulain não emplaca um sucesso depois de O Fabuloso Destino... Vejo qualquer coisa com ela sempre na esperança de um boom, mas nada. Ela é ótima, os roteiros é que são ruins. Então, fica um vazio porque estou precisando assistir "aquele" filme, sabe? Tipo Blindness, do Meirelles. Um em que a gente saia destruído e pensando pensando pensando. Ou um em que a gente saia leve e cheio de energia. Queria assistir logo aquele com Di Caprio e Kate Winslet, juntos 11 anos depois de Titanic. É um drama bem forte, deu pra ver pelo trailer. Bem, enquanto não viajo, acho que vou rever algumas coisas ao invés de arriscar assim. Não há bons lançamentos nas locadoras. O que é aquele filme com o Kevin Costner, comédia sobre eleições nos EUA? Ele realmente se perdeu.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Gertrud Stein

Em Criúva, como em Paris:
"uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa"...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

roberto caetano e natal


"meu cachorro me sorriu latindo", "quantas vezes eu chorei sorrindo"... nunca tinha prestado atenção mas o "rei" gosta de gerúndio, de usar dois verbos para dizer uma coisa e tal. coisas que jornalista menospreza em seu vocabulário de leads e subleads. Ou agora eu devo escrever lide como tem no manual da folha de s.paulo? que me importa. estou zoando com tudo. o ano vai "virar" logo logo e eu vi o "menino correndo, eu vi o tempo"... tem coisas inexplicáveis nessa vida: um bipolar não asssumido, caetano, e um sujeito que sofre de TOC assumidamente, juntos cantando bossa nova. E o neto do Jobim, com o chapéu do avô... Ai, tem coisas que não entendo de tanto entender. Os laços, os abraços, as felicitações. Tudo beira o Natal e mesmo a gente vendo o Grinch, pôxa, ele também sucumbe ao espírito natalino, então? então vamos aproveitar "esse momento lindo" (e altamente kitsch) para fazer o nosso mantra de sempre: "Tudo é uma questão de manter/ a mente quieta/ a espinha ereta/ e o coração tranquilo..."
Hoje acordei pensando: "Tudo tudo tudo vai dar pé. Tudo tudo tudo vai dar pé". Que assim seja!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

"... eu me aproximava com angustiada

idolatria de alguma coisa, e com a delicadeza de quem tem medo.

Eu estava me aproximando da coisa mais forte que já me aconteceu.

Mais forte que esperança, mais forte que amor?

Eu me aproximava do que acho que era - confiança."

Recebi essa mensagem em um cartão virtual, é Clarice Lispector, e divido com vocês. Boas festas!


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

The cleaner

Petit, observa e faz o controle de qualidade da limpeza


Não, ainda não fiz o relatório de pesquisa. Não, ainda não fui fazer cópia da chave do portão. Também não comprei o presente para o nosso amigo de Pelotas. Esqueci alguma coisa que não sei o que é. Estou assim porque entrei no terreno da arrumação do escritório, o meu gabinete do dr. caligari, onde estão todos os meus papéis e livros, cadernos, anotações, divagações. Esse é um local sagrado dentro da casa porque é onde fica o conhecimento (faz de conta que dá para armazenar tudo num lugar só, vai). Ontem passei a tarde retirando lixo: folhas perdidas, rabiscos, revistas datadas, coisas antigas mas sem valor. Foi uma longa tarde e agora pela manhã comecei a faxina do Hall 2, o meu PC. Aqui vai levar bem mais tempo apesar da virtualidade. Geeeeeeente como eu guardo coisas! Pareço um hamster! É sério! Por outro lado, tenho a generosidade de deixar as coisas irem embora no tempo certo. Demorei para aprender isso. A sensação é muito boa. Vale experimentar.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Coisas que não sei

Não sei nadar. Não sei andar de bicicleta. Nunca comi algodão doce... Nooosssaaa! Que houve de errado com a minha infância?! Isso, tentamos descobrir nas sessões de análise. Nada de muito grave, assim como a fobia por bichos peçonhentos (ui, arrepia só de escrever). Ah, também não sei dirigir! Então, meio fácil de compreender através da semiótica: nada que me faça locomover interessa. Mas por quê? Essa tem sido a pergunta de sempre. Afinal, gosto de viajar, de sair do lugar, mas levada por outros. Não assumo os riscos, claro. Do que tento me proteger? Do que tento escapar? São dúvidas que vêm e vão. Nada solucionado. Tenho muito Freud e Lacan pela frente! E uma semana toda para colocar a casa em ordem.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Férias


Cats. Seaned O'Connor. Noite de sábado. Alguma cerveja. Um mapa de viagem. Montevidéo,Buenos Aires. Um tempo que se expande. Fotos dos gatos pela sala. Risos. Nada que mude o mundo lá fora. mas o nosso fica mais aconchegante.
Com cheiro de casa limpa. Com vontade de abraçar a vida...

As palavras


"...mas quais são as palavras que nunca são ditas?"

Lembro de ter ficado marcada por duas palavras durante anos da minha vida: imaginário e tessitura. Mas não são lindas?! As palavras, conforme ditas/escritas, têm um sabor muuuuuuuuito especial. Nesta sexta-feira acordo pensando em palavras saborosas, românticas, evanescentes
(esta já uma que gosto!):
icônico indexical libertário franzido rebelde inusitado impalpável intempestivo gestualidade infinito capadócia sublime tenro terno (olha!!) refilado a priori imprevisto cálido invisível intangível catavento harmonioso sagrado espelho... espelhado...
e por aí vai. Quais suas palavras prediletas?

..." muitas palavras saíram de cartaz"...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mantra

queria lembrar daquela antiga canção e me consolar com ela, em seus versos mais insanos, em minhas veias por onde corre um líquido vermelho. queria aquela canção, mas não a encontro. em minha memória só há destroços de coisas antagônicas. não sei do que vivi ontem e no que me enredo hoje, mas sei que o tempo estanca para eu poder respirar melhor. "tudo é uma questão de manter/ a mente quieta/ a espinha ereta e o coração tranquilo". repito como um mantra. É bom ter mantras para a gente não se dissociar muito daquilo que quer. este é uma pequena canção. um mantra que me socorre desde a adolescência.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Chico Buarque

Pra mim
Basta um dia
Não mais que um dia
Um meio dia
Me dá
Só um dia
E eu faço desatar
A minha fantasia
Só um
Belo dia
Pois se jura, se esconjura
Se ama e se tortura
Se tritura, se atura e se cura
A dor
Na orgia
Da luz do dia
É só
O que eu pedia
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia

Só um
Santo dia
Pois se beija, se maltrata
Se come e se mata
Se arremata, se acata e se trata
A dor
Na orgia
Da luz do dia
É só
O que eu pedia, viu
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia


sábado, 13 de dezembro de 2008

preciso

ano acabando é isso, tempo de se reinventar. fazer cálculos inevitáveis, mas também pensar no futuro sem débitos. depois de muito ouvir The Wall, revisito o blog pensando em se alguém aí tira o sábado para fazer essas coisas: ouvir Pink Floyd dos anos 80 tomando um bom vinho depois de uma pizza Vitória Régia.
estive no blog da Adri e quem vier aqui tem que ir visitá-la (temporário permanente). é como um link, sabe? ela diz coisas que tocam a alma e a minha precisa ser tocada o tempo todo, senão viro fumaça, adiós.
preciso do gato que me enfadonha as pernas de tanto roçar pedindo comida/carinho, preciso dos alunos mesmo que reclamando de uma coisa ou outra, preciso das luzes acesas em pequenos castiçais. preciso me olhar no espelho de vez em quando, mas sempre esqueço deste detalhe. preciso fazer a volta, dobrar a esquina e encontrá-lo, afinal.

Carlos Drummond de Andrade

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Por hora, não há o que dizer...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

Insensatez

Para ler ao som de Alanis Morissette


Edgar Morin. William Blake. Umberto Eco. Lúcia Santaella. Virginia Woolf. James Joyce... Meu mundo palpita entre nomes de renome. Finjo agora que olho o mar com um livro de um deles nas mãos: complexidade, poesia, semiótica, prosa moderna, pós... As ondas vão e vêm e eu apenas mergulho no mundo de letras e areia que se forma ao meu redor. Saudades do mar. Nada como pensar nele aliado aos livros, sempre fiz essa ligação. Panetone. Natal. Fim de Ano. Praia novamente. Porque a virada na praia tem um sabor diferente de tudo. Mesmo em Paris eu não senti o que sinto na praia no dia 31. É magia e crença em algo maior. Em Paris tinha tanta gente nas ruas que era improvável algum sentimento de agregação. Isso mesmo! A massa fica informe e ao mesmo tempo uniforme. Ninguém é ninguém. Na praia para onde eu já fui várias vezes há espaço embora as pessoas se aglutinem. Não sei explicar. Nem preciso. É como navegar...
Caio F.. Clarice Lispector. Susan Sontag. Flaubert. Saramago. Schopenhauer. J.P.Sartre. Simone De Beauvoir... Meu mundo se precipita nas Letras, Filosofia e na Insensatez... Não sei bem onde tudo isso vai dar, se pára em algum lugar dentro de mim. Mas sei que ser insensato muitas vezes é só o que resta...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Girassóis


Ela se chamava Julie. Desenhista, esguia e inquieta, com um acento britânico inconfundível. Falava alguma coisa em espanhol. Ele, um pouco de inglês. Entenderam-se com os corpos quentes que fremiam ao se tocar. De um modo que não era possível ver as cicatrizes que carregavam, mas adivinhavam, um no outro, as marcas de suas paixões. Ela falou em girassóis. Foi como um beijo roubado, uma tontura de gozo, um prêmio, uma revelação. Em alguns meses aprendeu com Julie que existe um quartzo brilhante empregado em joalheria chamado girassol. Êxtase.

Agora, enquanto permite-se acompanhar as pinceladas tão antigas, as lembranças intrometem-se porque o tempo o acossa. No avião disse a Julie que iria fazer uma tatuagem. Ela não perguntou o que seria, apenas recostou-se nele enquanto olhava as nuvens. “Tem gente que coleciona todo o tipo de inutilidade. Fetiches. Tem gente que não perde o X-Files, que tem pôster da Marilyn Monroe pela casa, adora a Mona Lisa, torce por um time de futebol (ele preferia os jogos da NBA). Eu gosto de girassóis, como poderia eleger os diamantes?", disse.

O traço de Van Gogh era o que ele esperava de um traço de Van Gogh. E, estar diante dos Girassóis, em uma sala da National Gallery, em Londres, tinha um significado que nem mesmo ele compreendia. Não era para decifrar, era só para viver aquele instante sagrado. Ficou horas diante do quadro de pequenas dimensões até ouvir, pelo alto-falante, que iriam fechar. Caminhou lentamente passando pelas inúmeras alas sem olhar para as obras expostas. Em outra ocasião talvez, não agora que Van Gogh impregnava suas retinas.

Lá fora, ao olhar para o céu, percebeu, meio sem querer, que um enorme girassol resplandecia sobre Londres.

(Trecho do conto Girassóis, do livro O Imprevisto)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

La luna esta noite


La luna. Penso nela em preto e branco, cinza. Uma lua noir em plena tarde de quarta-feira. Não que ela esteja aparecendo no céu. Não. Eu é que penso nela porque ontem estive doída e triste. Pensar na lua sempre nos faz bem. Ela está lá, cheia de crateras, esférica, circular, redonda... Nós estamos aqui eretos, (en)quadrados, passíveis de todos os lamentos. Os poetas evidenciam a lua nos seus versos rimados. Os amantes fazem dela seu teto. A lua serve para suspirarmos por ela, como quando eu era criança e abria devagar a janela do quarto para espiá-la cheia no firmamento.
Hoje, a plumagem que me enfeita e pune, dedico-a a esta lua noir, que me percebe, sorrateira. Um dia quis ser astronauta só para tocar outro planeta, uma estrela, la luna... Hoje queria ser decoradora, mas a Adri diz que já sou. Decoradora das palavras, ela disse. E eu acredito, porque precisamos também acreditar nos amigos. Olhem para a lua esta noite. Estarei pensando em vocês. No anônimo, nos inominados, nos que se deram um novo nome e nos que mantém o que lhes foi conferido.
Carpe Diem!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Plumagem...

É como se eu estivesse trocando de plumagem. Como se fosse mais animal do que humana. Todo o meu ser se revolve e eu, sempre tão calma, tão zen, sinto uma quase incontrolável vontade de gritar. Acontecem coisas a minha volta sobre as quais é perigoso falar. Todos nós vivemos momentos assim. Melhor calar, mas o grito fica ali, grudado na garganta, me engasgando de mim mesma. E a plumagem me envolve e quase sufoca. Queria ser cisne, mas estou mais para patinho feio. Aliás, estou mais para tudo que não se enquadra nas regras, normas e comandos em geral. Talvez, por isso, sinta-me tão sozinha...